Destaque
Santa Terezinha investe em canaviais para aumentar produção, mesmo diante dos desafios climáticos
Na safra 23/24 a Usina Santa Terezinha moeu 11,5 milhões de toneladas de cana
No final do mês de março deste ano, a Santa Terezinha, maior grupo sucroenergético do Paraná, encerrou um difícil capítulo em sua trajetória com a decretação do fim de sua recuperação judicial e agora olha adiante, com visão de crescimento para os próximos anos.
Com vocação açucareira, a companhia passou os últimos cinco anos colocando ordem na casa, com reestruturação das suas operações. De acordo com Paulo Meneguetti, diretor de operações da companhia em entrevista à RPAnews, a Santa Terezinha investiu mais de R$ 2 bilhões somente nas operações de plantio da cana-de-açúcar. “Desenvolvemos um fertilizante foliar para a cana e instalamos uma biofábrica de mudas de cana (MPB´s) que hoje produz mais de 12 milhões de mudas por safra”, disse.
A companhia também mudou sua governança. Com o Projeto Transforma, que reorganizou a gestão das unidades em clusters, a Santa Terezinha garantiu mais sinergia a suas atividades. Agora, dá andamento ao Projeto Performa, que tem como foco a eficiência nas operações já estruturadas.
“Reestruturamos nosso Conselho de Administração, com participação de conselheiro externo votante, constituímos três comitês de assessoramento ao CAD – Comitê financeiro e de Riscos, Comitê Agroindustrial e Comitê de Gestão de Pessoas -, liderados por conselheiro externo ou conselheiro consultivo externo. Todas essas ações e o foco da companhia no cumprimento das obrigações, garantiram o pagamento de mais de R$ 390 milhões aos credores, apenas em dezembro de 2023”, afirmou Meneguetti à RPAnews.
As operações da companhia hoje abrangem, além do plantio de cana, com foco na produção de açúcar, etanol e energia elétrica, uma empresa de logística, com participação societária na CPA Armazens Gerais em Sarandi/Marialva (PR), e estrutura de armazéns próprios em Maringá (PR). A Santa Terezinha ainda é controladora da PASA – Paraná Operações Portuárias S/A, que é um terminal de sólidos localizado em Paranaguá, que permite uma alta eficiência de exportação do açúcar.
No negócio sucroenergético, a companhia hoje conta com nove unidades industriais situadas na região noroeste do Paraná, nas cidades de Maringá, Paranacity, Terra Rica, Rondon, Cidade Gaúcha, Ivaté, Umuarama (hibernada), Tapejara, Moreira Sales (hibernada), São Tomé (desativada) e Paranaguá com armazém próprio para fertilizantes; e em Mato Grosso do Sul, na cidade de Eldorado, tem um projeto greenfield, no momento com obras paralisadas.
A Santa Terezinha está investindo fortemente para recuperação da produtividade dos seus canaviais para chegar próximo a sua capacidade de moagem total
“A Usina Rio Paraná, nosso greenfield, entrou no Grupo, em 2012, pela aquisição da antiga Usaciga, sediada em Cidade Gaúcha. A Usina Rio Paraná tem somente operação agrícola. A Usina Santa Terezinha cultiva cerca de 300 mil toneladas de cana-de-açúcar que, nesta safra, serão processadas na unidade localizada em Ivaté/PR”, afirma Meneguetti.
Embora a companhia tenha duas unidades hibernadas, que já estavam com as atividades suspensas antes da recuperação judicial, uma localizada em Umuarama e a outra em Moreira Sales, ambas no Paraná, Meneguetti afirma que há um estudo de viabilidade da retomada dessas unidades produtivas para os próximos anos.
“Hoje a capacidade total de processamento chega a 18 milhões de toneladas e estamos trabalhando para encher as usinas, com foco no aumento da produtividade do canavial. Na safra 2023/24 a Usina Santa Terezinha moeu 11,5 milhões de toneladas de cana”, revelou.
Sede de investimentos
Analisando a linha do tempo da Usina Santa Terezinha, é possível observar que a empresa realizou muitos investimentos em novas usinas durante o período que compreende entre 2006 e 2013. Segundo Meneguetti, a companhia aproveitou oportunidades de investimentos em novas plantas industriais quando reativou unidades semi-operacionais em Paranacity (1987), Tapejara (1989) e Ivaté (1993), que eram plantas produtoras exclusivamente de etanol. Nelas foram feitos investimentos de instalação de fábricas de açúcar, ainda em meados da década de 90.
“As demais unidades foram adquiridas entre 2006 e 2012, com um projeto greenfield de Terra Rica em 2007. Todas essas operações de aquisições foram realizadas em parceria com agentes financeiros tradicionais, inclusive com Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em projetos com alta capacidade de retorno. As oscilações de mercado, das comodities, entre elas o açúcar, são normais na história desses setores da economia, porém, os impactos climáticos severos que ocorreram à partir de 2015 (com excessos de chuvas e precipitações muito superiores às médias anuais históricas, pois só nesse ano, no Paraná, tivemos média acima de 3 mil mm de chuvas, versus média histórica de 1,8 mil mm), o que trouxe danos de altíssimo impacto, como arraste por lixiviação das propriedades do solo, que necessitaram de investimentos para recuperação”, disse.
Segundo Meneguetti, mesmo com diversos investimentos, a companhia estava alinhada nas negociações com os bancos, com um term sheet pronto para alongamento do perfil da dívida. No entanto, um dos bancos voltou atrás e entrou com execução judicial, fazendo com que a companhia tivesse que proteger as suas operações, pedindo a RJ.
Recuperação dos canaviais é o caminho
Os investimentos no plantio de cana-de-açúcar do grupo estão sendo feitos seguindo uma forte transformação nos processos, com alterações na sistematização do plantio visando melhor colheitabilidade, preparo de solo, plantio com novas práticas de recuperação/correção do solo e plantio com uso intensivo de matéria orgânica, tendo em vista que a região noroeste do Paraná é de solos bastantes restritivos, com ambientes praticamente D e E.
Além disso, Meneguetti revela que a companhia fez uma reavaliação geral do perfil varietal da cana-de-açúcar com uso de novas variedades, novos clones promissores, em parceria com os maiores centros de pesquisa do país, como o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), a Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético (RIDESA), o Instituto Agronômico (IAC), bem como uma gestão mais aprofundada no controle das pragas de solo e da matologia.
“Além do fertilizante foliar, USTFert, que estamos produzindo desde 2022 para suprimento da demanda interna , também estamos utilizando novas práticas no uso de bioestimulantes que possam devolver a biologia do solo, que, antigamente foi sacrificada por mais de 50 anos de uso de fogo para despalha da cana na colheita. No que se refere a fertilizantes químicos, temos uma misturadora própria de fertilizantes desde 2001, que opera em nosso terminal de logística em Maringá, na qual podemos utilizar os elementos NPK de origem nacional ou importado”, disse Meneguetti.
Na indústria, a companhia segue com investimentos em manutenção, garantindo segurança da operação e redução de perdas, além de ajustes pontuais para aumentar ainda mais o mix açucareiro. Com uma moagem de 11,5 milhões de toneladas de cana-de-açúcar na safra passada, alta de 27%, a empresa realizou um mix de 75,3% de açúcar, produzindo 1,15 milhão de toneladas de açúcar VHP. De etanol foram produzidos 236 mil m³ e 353 mil MWh de bioenergia.
Para 2024/25, o principal desafio é ter buscar um canavial ainda mais produtivo. “Esse é o principal foco dos investimentos da Santa Terezinha. Nossa expectativa inicial era de repetição do volume de cana processada na safra passada, porém, percebemos um impacto climático nos últimos meses e estamos reavaliando nossos canaviais. Esperamos que, nos próximos três anos, possamos estar com nossa produtividade alinhada ao potencial de nossos ambientes de produção”, concluiu Meneguetti.