Agrícola
Semente sintética de cana-de-açúcar existe e poderá ser produzida pela própria usina ou produtor
A tecnologia passou por aprimorações para a realidade atual das usinas e produtores de cana e promete reduzir custos e aumentar a produtividade dos canaviais
O plantio de cana-de-açúcar no Brasil vem passando por diversas transformações ao longo dos últimos anos. Mas, além da mecanização, do uso de mudas pré-brotadas (MPB), tecnologias consolidadas em grande parte das usinas e produtores de cana, novos sistemas que propõem a substituição do tradicional plantio com toletes de cana por “sementes” vão se tornando realidade, e esse avanço tecnológico deve transformar o futuro desta operação.
A New Energy Farms (NEF), desenvolvedora e proprietária da patente da tecnologia CEEDS™, trazida ao Brasil pela primeira vez em 2017 pela Syngenta com o nome de Emerald, incorporou inovações significativas e agora, detentora novamente da tecnologia, diz já estar pronta para transformar essa expectativa em realidade.
O sistema CEEDS™, de acordo com a sua criadora, promete trazer como principais benefícios a condição de plantar a cana-de-açúcar como uma semente; material de semente limpo e livre de doenças; plantio totalmente automático no campo sem a necessidade de irrigação; plantio mais rápido, com uma quantidade maior de área plantada no momento ideal; redução das áreas de viveiros de até 90%; capacidade de produção de CEEDS™ nas fábricas com benefícios de sinergia; integração de proteção de culturas, uso de produtos biológicos e nutrientes direto na semente; redução da emissão de carbono; menor uso de mão-de-obra; redução de custo de plantio; e menor compactação do solo.
A New Energy Farms (NEF) é uma empresa de tecnologia agrícola formada em 2010 que iniciou seu trabalho na América do Norte e na União Europeia. Pertencente a duas famílias que têm um histórico de trabalho em horticultura comercial e propagação vegetativa de gramíneas, a companhia surgiu com o objetivo de desenvolver novas soluções de propagação para gramíneas energéticas de alto rendimento usadas para a produção de biocombustíveis.
De acordo com o CEO da NEF, Paul Carver, a companhia tem uma longa história na propagação vegetativa de gramíneas e sua visão sempre foi a de oferecer uma nova rota de cadeia de produção para culturas como a cana-de-açúcar. “Isso pode acelerar a introdução de novas variedades, fornecer uma rota para o mercado de proteção de culturas e produtos benéficos (com os produtos integrados no CEEDS™) e, por fim, permitir que a cana-de-açúcar seja semeada no campo como uma semente convencional”, disse à RPAnews.
Alexandre Landgraf, diretor da Explante Biotecnologia, parceiro da NEF na multiplicação desta semente, explica que a tecnologia entrega uma estrutura de planta já pronta, que após plantada irá formar uma touceira gerando canaviais de alta performance. “Eles entregam um segmento de planta encapsulada e condicionada que vai ser plantada e gerar touceiras de cana. A NEF trabalhou no primor de crescimento. O laboratório desenvolve as mudas, produz as mudas em bandejas, que é o Garden (Patente da NEF), e desse garden a gente extrai uma semente artificial, envelopa ela com um conteúdo que preserva a sua umidade. No desenho criado, trabalha-se a fisiologia da cana. Então a segurança de sair do campo estável é de 100%”, explicou à RPAnews.
Segundo o diretor geral da NEF no Brasil, Daniel Bachner, inovações significativas foram incorporadas ao CEEDS™ e hoje a tecnologia é um sistema de sementes sintéticas produzidas por multiplicação vegetativa. Funciona como um sistema extensor de cultura de tecidos, no qual plantas de cultura de tecidos de alta qualidade são usadas no início do sistema de produção do CEEDS™ e ampliadas por meio de um sistema de horticultura intensivo e automatizado. Esse sistema são as biofábricas que requerem de 15 a 20 vezes menos espaço de produção do que a propagação convencional no campo e reduzem o peso do plantio em 40 vezes.
“O sistema CEEDS™ não produz nenhum tipo de semente fora do padrão e o produto final é uma semente sintética robusta com vários brotos e raízes, que pode ser plantada automaticamente no campo sem a necessidade de irrigação. Pela primeira vez, ela permite que a cana-de-açúcar seja plantada como as culturas convencionais, trazendo benefícios significativos em termos de eficiência e redução de custos. Houve um investimento significativo e contínuo no desenvolvimento dessa tecnologia e o material disponível atualmente se beneficia de todas essas melhorias em vigor, durabilidade e tecnologia de plantio”, explica Pablo Marin, diretor de operações da NEF no Brasil.
CEEDS™: do desenvolvimento da variedade ao plantio
A companhia diz que a solução é inovadora para a cadeia produtiva de cana-de-açúcar desde a multiplicação até o plantio. O processo começa com a interação do setor sucroalcooleiro para identificar as variedades potenciais e escalonar em grandes proporções as variedades a serem multiplicadas.
As plantas de cultivo laboratorial são de alta qualidade e vigor, sendo está a base para criação do CEEDS™. Com esse conceito através de plantas rastreadas e com sanidade, produzimos sementes de potencial produtivo para a formação dos canaviais de alta performance, disse Landgraf.
Esse material é então rustificado por meio do processo CEEDS™ para produzir propágulos de tamanho uniforme, do tamanho de uma rolha de vinho grande. É no visual que a tecnologia lembra o antigo Emerald. Assim como a tecnologia anterior, o material também é tratado com produtos fitossanitários, biológicos e nutricionais, de acordo com a necessidade de cada cliente, e finalmente coberto com um revestimento de proteção biodegradável. De acordo com a NEF, a proteção de culturas integrada garante uma durabilidade (shelf-life) de duas semanas ou mais para o material.
“De modo geral, o sistema CEEDS™ traz benefícios como, acelerar a introdução de novas variedades no mercado e para os clientes finais, onde, pela primeira vez, proporciona o plantio direto de ‘sementes’ de cana-de-açúcar”, detalha Pablo Marin.
Como o material obtido para plantio é totalmente diferente de um tolete ou mesmo uma muda pré-brotada de cana, várias máquinas ao longo dos últimos anos foram testadas para o seu plantio. De acordo com a NEF, as plantadoras desta semente sintética são muito menores, mais leves e mais rápidas do que as plantadoras convencionais hoje usadas no mercado.
“Elas podem plantar 1 hectare por hora e são cerca de 3,5 vezes mais leves do que as plantadoras convencionais (com aproximadamente 9 toneladas/vazia), de modo a ter um retorno operacional mais breve após as chuvas. Isso significa que uma porcentagem maior da lavoura pode ser plantada na janela ideal de plantio. Elas já estão disponíveis, e uma nova máquina foi desenvolvida recentemente. Os CEEDS™ são plantados sem a necessidade de irrigação de acordo com o protocolo e de forma totalmente automática, o que acreditamos ser um avanço significativo para o setor, detalha Marin.
Parceria para variedades e licenciamento para usinas
Para a propagação das variedades mais usadas por usinas e produtores de cana, a NEF fez uma parceria com a Explante Biotecnologia, empresa líder no Brasil na multiplicação de variedades por meio de meristemas, ou seja, com cultura de tecidos. Na parceria, a Explante produz o CEEDS™ para usinas e produtores parceiros de acordo com as variedades demandadas pelo cliente.
Qualquer usina que deseje fazer o plantio de CEEDS™ pode entrar em contato com a Explante para discutir o fornecimento. A companhia, localizada em Mogi Mirim – SP, com um laboratório de mais de 2.000 m², conta com 130 funcionários, dos quais 70 são exclusivamente envolvidos na produção das sementes de várias culturas, como a cana-de-açúcar.
De acordo com a NEF, isso permite o fornecimento de longo prazo a usinas e produtores de cana e também é um centro de excelência para atender as usinas que desejam licenciar o CEEDS™ para sua própria produção. Sim, você leu bem. O grande “pulo do gato” é que a NEF permitirá, por meio de licenciamento, que as usinas ou produtores façam a sua própria semente sintética. “Como parte de nossa parceria com a Explante, também estamos oferecendo suporte às usinas que desejam produzir seus próprios CEEDS™ por meio de licenciamento de tecnologia. Da mesma forma que algumas usinas internalizaram a produção de MPB, reconhecemos que o mesmo ocorrerá com as sementes sintéticas, e queremos incentivar isso”, explica Carver.
O sistema CEEDS™ pode ser implementado nas usinas e usa a mesma infraestrutura da produção de MPB, mas produz uma quantidade maior de plantas (CEEDS™) usando a mesma área de produção. Sendo assim, a NEF afirma que é uma tecnologia complementar aos investimentos existentes nas usinas, que pode ser usada para estabelecer biofábricas capazes de fornecer entre 1.000 e 5.000 ha de material de plantio por ano.
“O fornecimento do CEEDS™ é economicamente vantajoso para as usinas no processo de plantio. Além disso, o modelo de licenciamento oferece às usinas a oportunidade de internalizar a produção, como no caso do MPB, e otimizar seus recursos internos de mão de obra, substratos e energia para reduzir custos. As melhorias tanto na redução de investimentos em ativos quanto nos custos de produção e na eliminação do uso de viveiros abrirão caminho para um novo patamar de benefícios econômicos para as usinas. Isso resultará em um significativo encurtamento do prazo de replantio da cana, aumentando consideravelmente a média de produtividade dos canaviais”, destaca Bachner.
Substitui ou não o plantio convencional de cana?
As sementes sintéticas serão uma tecnologia complementar ao plantio mecanizado de cana-de-açúcar. Segundo a NEF, será parte da solução. De acordo com a companhia, fazer 30% do plantio por meio da tecnologia de sementes sintéticas como o CEEDS™ é economicamente viável. Mas, técnica e logisticamente, toda a área de plantio poderia ser fornecida por esse tipo de tecnologia, se necessário.
“A tecnologia vai ter um atrativo muito grande em termos de custo, porque a gente vai mudar a questão do maquinário, uma parte da linha de produção importante e que impacta nos custos de operação. Nós não vamos substituir 100% a operação de cana no Brasil. Nós estamos trabalhando com duas situações. Primeiro, olhar a subcaracterísticas de materiais sadios. Segundo ponto mais importante, redução de mão de obra. Hoje o mundo tem dificuldade na mão de obra e através do CEEDS™ você consegue fazer um plantio que usa pouca mão de obra”, salientou o diretor da Explante Biotecnologia.
Nos últimos sete anos, houve um progresso significativo no desenvolvimento do CEEDS™ no Brasil, segundo a NEF. Mais de 300 ha de testes foram plantados em diferentes cenários de produção em mais de 40 usinas no Brasil, os clientes e o feedback sobre o desempenho do produto tem sido positivo.
A NEF está trabalhando comercialmente com usinas para fornecimento e licenciamento e já vem observando um interesse comercial significativo. De acordo com Carver, houve um grande investimento no desenvolvimento do produto até o atual estágio para atender a todos os requisitos do mercado brasileiro.
“O setor de cana-de-açúcar no Brasil alcançou um nível significativo de inovação em várias áreas do seu processo produtivo. No entanto, o maior desafio ainda persiste no plantio de cana, com a introdução de novas tecnologias de plantio pela NEF , há uma oportunidade única de agregar valor substancial ao setor. Oferecer soluções para o mercado sucroenergético é um desafio continuo. Nossa tecnologia está preparada para suportar a introdução das novas variedades que serão necessárias nos próximos anos. Estamos à disposição de qualquer usina ou produtor que queira saber mais sobre o licenciamento ou compra direta de CEEDS™, concluiu o CEO da NEF, Paul Carver.
Natália Cherubin para RPAnews
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