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Serpasa torna realidade o sonho de produzir etanol de cana no oeste da Bahia
O sonho de produzir etanol na região do médio São Francisco, no Oeste na Bahia, mesmo com alguns desafios, começa a se tornar realidade. A Serpasa Agroindustrial, projeto idealizado pela família Paranhos, prevista inicialmente para começar a operar na safra 2022/23, somente teve sua primeira moagem de cana em 2023/24.
O projeto da Serpasa nasceu de um desejo da família de pernambucanos que tem em sua origem a cana-de-açúcar na região da Mata Sul do Estado, com sete gerações de produtores e usineiros. Sérgio Paranhos, CEO da Serpasa, conta que foi um ato inevitável. “Enxergamos algumas fortalezas desta região que nos motivaram a empreender e tornar realidade o projeto da primeira destilaria de etanol de cana-de-açúcar do médio São Francisco”, contou em entrevista exclusiva à RPAnews.
A usina foi construída no município de Muquém de São Francisco, localizado na margem esquerda do Rio São Francisco. A região conta com terras mistas, em sua maioria compostas de latossolos com 20% a 40% de argila. Até o momento, o projeto da Serpasa conta com a produção de cana em 2.320 hectares. Esta área possui canaviais irrigados por pivot central de alta vazão, com lâmina dimensionada e outorgada para até 10 mm/dia.
“A região tem a maior quantidade de horas-luz do Brasil, propiciando ambiente ideal para que a cana demonstre todo o potencial produtivo das variedades selecionadas. Firmamos convênio com a Ridesa de Alagoas, ocasião em que trouxemos 16 variedades de cana, já comprovadas em ambiente de produção equivalentes, como é o caso da Agrovale, com as variedades VAT 90-212, RB92579, RB961003 e RB931003. Essas variedades atingiram produtividade de 200 t/ha em experimentos analisados biometricamente em seu primeiro corte.”, afirma Paranhos.
A área agrícola da Serpasa, capitaneada por Felipe Paranhos, seu diretor, surgiu com o intuito de proteger esta nova região canavieira brasileira, buscando um manejo que reduz a propagação de pragas e doenças. “Sempre ficamos atentos à utilização de sementeira sadia e tratada com imersão em solução térmica e acrescida de defensivos”, adiciona o CEO da Serpasa.
As áreas de produção de cana da destilaria, conforme conta Paranhos, estão em terras planas, com raio médio inferior a 4 km, proporcionando baixo custo de CTT (Colheita, Transbordo e Transporte) de cana. O executivo conta que o greenfield – nome dado a todo projeto industrial iniciado do zero – foi planejado para que a localização da unidade agroindustrial estivesse no centro da sua área de produção.
“Do ponto de vista mercadológico, estamos distantes 600 km da usina canavieira mais próxima, capturando o diferencial logístico e evitando transportes rodoviários, o que representa importante diferencial competitivo”, afirmou Paranhos à RPAnews.
Um tema importante que atraiu a família Paranhos ao negócio foi a questão fiscal do Estado da Bahia, que oferece crédito presumido de ICMS de 7,86% na produção e comercialização de etanol hidratado, com objetivo de fomentar a produção doméstica do biocombustível. Tal incentivo se deve ao fato de que 85% do etanol consumido da Bahia advém de outros Estados, deixando de gerar emprego e renda internamente.
Moagem aquém da sua capacidade
A primeira safra da Serpasa, que acabou de terminar, foi realizada em duas etapas – uma moagem no início de 2023 e outra no final de 2023, entrando em 2024 – processando apenas 170 mil toneladas de cana. Isso corresponde a pouco menos de 20% da capacidade instalada atual.
No planejamento inicial do projeto, a previsão era de atingir na primeira etapa 1 milhão de toneladas de cana, com uma capacidade de moagem de até 360 t/hora e cerca de 400 m3/dia de etanol hidratado, podendo também produzir até 120 m3/dia de anidro.
De acordo com Paranhos, com mais investimentos na indústria – inclusive numa fábrica de açúcar -, na frota e em canaviais, a usina poderá atingir uma moagem de até 2 milhões de toneladas por safra. “Moendas e caldeira já temos para isso”, afirma o CEO da Serpasa .
“Tivemos alguns atrasos decorrentes de dois anos de pandemia, que desestruturou a cadeia de suprimentos, provocando a extensão da conclusão das obras e da autorização da ANP (Agência Nacional do Petróleo e Biocombustíveis), que nos foi outorgada no início de 2023. Por conta do atraso da moagem, o canavial bisou para a safra 2023/2024. Tivemos que uniformizar o canavial, ajustando a colheita para a janela ideal e esperamos que a produtividade agrícola aumente na próxima safra”, afirma Paranhos.
Investidores e consultoria especializada ajudam o projeto
Fundos das gestoras Vinci e Vectis compraram cotas de um CRI (Certificado de Recebíveis Imobiliários) no volume total de R$ 35 milhões emitido pela Serpasa em abril de 2022 para financiar o projeto, conforme divulgado pela mídia via Brazil Journal. Um FII (Fundo de Investimento Imobiliário) do BTG Pactual, o BTAL11, comprou 100% das cotas de outro CRI, de R$ 60 milhões, emitido em março de 2021, para financiar o mesmo projeto.
A família desmobilizou ativos imobiliários, adimplindo seus compromissos com Vinci/Vectis, e reduzindo de forma relevante o saldo do valor captado. “Negociamos nossos compromissos comerciais e financeiros com os principais parceiros”, disse Paranhos.
No caso do CRI de R$ 60 milhões, totalmente tomado pelo fundo do BTG Pactual, os pagamentos de juros foram parcialmente retomados após a venda do imóvel Fazenda Piragiba da família Paranhos.
Para que seja possível readequar o projeto, a companhia fez um levantamento detalhado de todos os compromissos financeiros, refazendo seu fluxo de caixa projetado para as próximas safras.
“Reduzimos consideravelmente o endividamento da companhia de R$ 200 milhões, para aproximadamente R$ 55 milhões. Teremos, já em 2025, uma relação de endividamento consideravelmente mais baixa frente aos anos anteriores”, afirmou Paranhos em entrevista à RPAnews.
“Estamos seguindo fielmente o planejamento agrícola para atingirmos o ramp up projetado, alinhado com os interesses e condições da RPA Consultoria e do BTG. Agregamos a RPA neste projeto, como consultoria, para validar o nosso Plano Diretor Agrícola. O BTG, parceiro financeiro de primeira hora, entendendo o momento da companhia, constituiu uma empresa que, em comum acordo com a Serpasa e seus fiadores, recebeu a fazenda Santo Antônio, alguns equipamentos e o ativo biológico, com objetivo de equalizar o endividamento e melhorar a estrutura de capital da Serpasa. A nova empresa, em conjunto com a RPA, está otimista com as possibilidades de ramp up agrícola para ampliação da lavoura de cana-de-açúcar com objetivo de aumentar a moagem da usina, pelo que será remunerada pela Serpasa pelo cultivo e exploração da cana-de-açúcar desta fazenda. Estamos animados e confiantes com o futuro da companhia, tendo em vista a região promissora que estamos localizados”, conclui Paranhos.