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Edição 197

Tecnologia Agrícola – Controle biológico com uso de drones

Publicado

em

Natália Cherubin

Enquanto a cana transgênica resistente a broca desenvolvida pelo CTC (Centro de Tecnologia Canavieira) não se torna comercialmente realidade, usinas e produtores de cana continuam sua busca pela melhor forma de fazer o manejo integrado desta praga, hoje encontrada em 100% dos canaviais brasileiros e causando prejuízos estimados em R$ 5 bilhões por ano, sendo o custo de controle equivalente a aproximadamente 20% deste montante.

Não há mais dúvida de que a aplicação manual é mais onerosa e menos eficiente do que a liberação via drones

Hoje o manejo da broca é realizado de forma integrada com o uso de inseticidas e controle biológico, feito por meio da propagação de cotesia e trichogramma. Na maioria das unidades, a disseminação de agendes biológicos, principalmente da cotesia, ainda é feita manualmente e, dependendo do tamanho da área, gastam-se horas propagando os insetos predadores. No entanto, esta realidade v

em mudando em muitas áreas, já que esta tarefa pode ser realizada hoje em poucos minutos com o uso de drones, que vêm sendo desenvolvidos especificamente para disseminação de agentes de controle biológico.

Diogo Carvalho, gerente Comercial da Koppert, explica que a maioria das usinas ainda faz a liberação de cotesia manualmente no copinho. “Cada indivíduo entra no canavial e vai caminhando e liberando copinho por copinho no campo.” Já no caso do trichogramma, a maioria das aplicações se dá por liberação aérea, seja via avião tripulado ou drones. “Neste caso, a liberação geralmente é feita por uma empresa terceirizada.”

Pedro Faria, engenheiro agrônomo e consultor da Cultivar Tecnologias e Serviços de Agronomia, afirma que a tecnologia de aplicação via drones vai revolucionar o uso de predadores, parasitas e parasitoides na agricultura de larga escala, porque a dificuldade operacional para a liberação dos insetos no campo ainda é um fator limitante para a adoção da tecnologia de controle biológico. “Muito se discutiu, nos últimos anos, sobre a eficácia de se liberar o adulto já nascido ou a própria pulpa, porque não se acreditava que os drones seriam capazes de dosar isso de maneira correta. Além disso, não se sabia se os insetos sobreviveriam no campo, mas o que temos visto é justamente o contrário. É a dispersão muito mais precisa, muito mais eficiente e muito mais rápida.”

MAIS PRECISÃO E EFICIÊNCIA

Para fazer a liberação eficiente de cotesia, por exemplo, é preciso que a mão de obra responsável entre muito cedo no campo, às vezes, antes mesmo do sol nascer. De acordo com Faria, dependendo do estágio de crescimento da lavoura da cana e das condições climáticas, fica muito difícil fazer a caminhada de liberação, então o drone entra como uma solução para a liberação da cotesia na melhor hora e da melhor forma.

“Como as missões são previamente traçadas em cima de uma mapa digital, o piloto monitora o trabalho, ele não atua, a não ser em emergências. Além disso, já existem algumas gerações de drones que fazem a correção automática da altitude do voo de acordo com o relevo, ou seja, é tudo que se podia querer para fazer esse trabalho.”

Carvalho explica que, apesar de existir uma forma de fazer a liberação com embalagens, que são cápsulas, a maioria é feita a granel, ou seja, colocam-se os ovos soltos no drone que faz a liberação. “A maior vantagem desse tipo de liberação é que se consegue esparramar melhor os agentes de controle biológico, ou seja, distribuir homogeneamente e melhor os parasitoides na área. Com isso, o inseto não gasta tanta energia para procurar a praga e tem uma eficiência muitas vezes maior do que a liberação manual. O processo aéreo tem essa característica. Outro fator importante é o tempo. Com a tecnologia consegue-se liberar muito mais hectares por hora e não depende muito do clima, porque muitas vezes depois de chuvas não se consegue entrar na área nem a pé”, destaca o gerente da Koppert.

Faria revela que um drone é capaz de fazer, em condições normais de clima e vento, 60 ha a cada 40 minutos, já considerando período de troca de bateria. “Isso é ótimo porque se você for considerar a taxa de aplicação de um pulverizador automotriz, em ótimas condições ele faz de 100 a 120 ha por dia. E o drones fazem 60 ha por hora e funcionam maravilhosamente bem, tanto na operação de voo quanto na liberação correta do controle biológico”, adiciona.

TECNOLOGIAS

Existem cerca de oito empresas que prestam serviços de aplicação de controle biológico com o uso de drones. E por isso, uma gama de aeronaves não tripuladas vem sendo projetada para comportar carregamentos de bombas de insetos selecionados que combatem pragas.

Grazziani Resende Rodrigues Marques, diretor da MAPSKY, empresa especializada na fabricação e prestação de serviços com aeronaves não tripuladas, explica que os drones possuem um sistema de controle de dispersão que distribui por igual os ovos das vespas predadoras da broca da cana por todo o canavial. “Os drones precisam conter equipamentos exclusivos para cada tipo de parasitoide que será aplicado, sendo que a dispersão precisa ser calibrada de acordo com a velocidade e altura do voo. A MAPSKY está finalizando um equipamento que terá capacidade de carregar até 1,5 kg.”

Ainda de acordo com Marques, as maiores vantagens da aplicação via drones são: o custo benefício, a rapidez na aplicação, a maior capacidade de cobertura e o pouco deslocamento em campo. “As aplicações de controles biológicos tradicionais não conseguem competir com a rapidez e a cobertura que o drone pode oferecer, pois a maioria é feita por meio de moto ou carro apenas nos carreadores, já os drones aplicam em toda a área plantada. A vantage

m é maior ainda se compararmos com a utilização de inseticidas químicos, já que a broca da cana fica grande parte no subterrâneo.”

A Geocom faz aplicações georreferenciadas, automatizadas e rastreáveis, de forma a melhorar a performance da cotesia. De acordo com Luiz Claudio Gromboni, diretor da Geocom, diferentemente da aplicação tradicional, que é feita com copos de plástico e por meio de trabalhadores rurais, a aplicação com o drone – em que as cotesias são colocadas em caixas produzidas com celulose biodegradável – além de ser mais rápida, também é mais eficiente por não encontrar barreiras terrestres. “Essas caixas, além de não causarem impacto algum ao meio ambiente, oferecem conforto térmico e segurança para o agente biológico.”

A eficiência do equipamento também se confirma pelos mapas de pós-aplicação que são entregues para os clientes, com todas as informações da quantidade de área aplicada, data da aplicação, quantidade de produto aplicado por hectare e quem é o responsável pelo procedimento, conseguindo, assim, mapear todos os processos do início ao fim.

CUSTO E MÃO DE OBRA

Para fazer uma única aplicação, são necessárias de três a sete pessoas por usina para o controle químico, e de seis a 23 pessoas para o controle biológico. Dados do CTC de 2015 mostram que se consideramos os custos de dois inseticidas e cotesia, mais a aplicação e supervisão, o custo médio para uma unidade chega a R$ 223,84 por ha (Tabela 1).

Já a aplicação via drones em áreas de mais de 200 ha, segundo Faria, custa entre R$ 8 a 10 por ha, independentemente do local onde está sendo feito. “Se a liberação do controle biológico for feita por avião agrícola, o que vai variar de região para região e da empresa aérea que está fazendo o trabalho, o custo fica entre R$ 12 e 18 por ha, mas em compensação, em situação de condição favorável de clima, este método faz 1000 ha por dia. É compensador”, destaca.

O preço do agente biológico, segundo Faria, dependerá da condição comercial da negociação e prazo de pagamento. Mas ele acredita que o inseto custa cerca de R$ 80 reais por ha. “Considera-se aí um conjunto de três aplicações, porque a liberação é feita em três semanas seguidas. No momento em que se percebe o índice de controle são realizadas três liberações seguidas semanais, com sete dias de intervalo. Tudo isso deve custar em torno de R$ 80 reais.”

O pesquisador em Manejo Integrado de Pragas, Alexandre de Sene Pinto, afirma que entre os estados que mais utilizam o controle biológico estão São Paulo, Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais. Produtos à base do fungo trichoderma sp são os mais aplicados, com volume superior a 5 milhões de ha tratados. “Essa expansão foi possível graças aos avanços na tecnologia de produção, manejo e à adoção de inovações. Em macrobiológicos, por exemplo, atualmente os drones são responsáveis por 35% da aplicação de 1,7 milhão de ha de trichogramma galloi. O avião ainda é o meio mais comum, com 50%.”

O gerente Comercial da Koppert, revela que o controle biológico geralmente custa entre R$ 20 e 25 reais para a liberação de cotesia e R$ 25 a R$ 30 para o trichogramma. “O que varia é o número de liberações, que de cotesia pode chegar a três e de trichogramma de três a quatro. No entanto, a comparação de custo é complicada em se estimar, porque a liberação manual é hora/homem. Na liberação aérea você tem um rendimento bem maior. É difícil calcular. Como as áreas são muito grandes e comerciais, a adesão a esse tipo de liberação (aérea) é muito alta”, adiciona.

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