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Unidade da Raízen é pega praticando descarte irregular de vinhaça

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Equipes verificaram a presença do resíduo da produção de cana-de-açúcar em córrego que desagua no manancial responsável por 80% do abastecimento de água de Piracicaba (SP)

A Patrulha Rural da Guarda Civil flagrou despejo irregular de vinhaça, subproduto usado na produção de cana-de-açúcar, em afluente do Rio Corumbataí em Piracicaba (SP), na manhã desta terça-feira, 30. Segundo a corporação, o resíduo vinha sendo jogado no córrego desde a última sexta-feira, 26.

O flagrante ocorreu durante fiscalização de rotina feita pela equipe da patrulha rural da guarda de Piracicaba. O volume de vinhaça era grande, segundo a corporação, acabou escorrendo para uma mata e depois chegou ao córrego que desemboca no manancial.

O Rio Corumbataí é responsável por 90% do abastecimento de água em Piracicaba. A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) e a Polícia Civil foram acionadas e encaminhadas ao local.

O G1 e a EPTV, afiliada da Globo para Piracicaba (SP), entraram em contato com a Raízen, empresa responsável pela vinhaça. Em nota, a companhia informou que a operação de fertirrigação foi afetada pelas fortes chuvas, o que resultou no escorrimento.

“Prontamente, foram adotadas todas as medidas de contenção, mitigando maiores impactos. A empresa esclarece que dispõe de mecanismos de controle e equipe treinada para pronta atuação, seguindo as normas e protocolos ambientais, em conformidade com o Plano de Aplicação de Vinhaça (PAV)”, afirmou a Raízen.

A empresa também disse que está em contato com os órgãos competentes para “garantir ações contínuas voltadas à prevenção e proteção do meio ambiente”.

A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) informou que técnicos estão no local em atendimento. “A prioridade, no momento, é conter os riscos de danos ambientais”, assegura.

A Polícia Civil informou que investiga o caso. “Guardas civis municipais realizavam patrulha no local dos fatos, quando perceberam uma coloração e cheiro estranho no Ribeirão Tamandupá. Após diligências, avistaram um talhão de cana aplicando fertilizantes com vinhaça, ocorrendo a saturação da substância no solo e escorrendo até o ribeirão”, diz a nota oficial.

Crime ambiental

A vinhaça é um produto que se forma em todo processo de produção de açúcar ou de álcool. Cada litro de álcool ou quilo de açúcar pode gerar entre 13 e 16 litros de vinhaça, explica o professor e pesquisador em Ecologia Aplicada, Plínio Barbosa de Camargo, responsável pela divisão e funcionamento de ecossistemas do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), da Universidade de São Paulo (USP).

O pesquisador relata que a vinhaça é um composto ácido, geralmente enriquecido em potássio, formado por grande quantidade de matérias orgânicas que não foram transformadas em açúcar ou álcool.

“Esse resíduo é resultado de todos os outros compostos que não formaram o açúcar, como a celulose, lignina e fibras, por exemplo. É uma espécie de lodo – um resíduo desse produto, que é jogado junto com as águas desse processo de lavagem, que chamam de vinhaça”, detalhou o pesquisador, que também é membro da coordenação de área de biologia da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

A pesquisadora Luciana Cavalcante Pereira, doutora em conservação de ecossistemas florestais pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora de diagnóstico do Projeto Corredor Caipira para restauração ambiental, afirma que o despejo irregular de vinhaça em ribeirões e rios configura crime ambiental. “É como jogar esgoto direto na água”, compara.

Pereira alerta que o uso da vinhaça, quando feito da forma correta, com o manejo técnico adequado, poder ser muito útil e funciona como adubo em plantações. “Esse manejo é benéfico tanto do ponto de vista ambiental quanto produtivo, pois evita a poluição das águas e reduz o gasto com agroquímicos”, afirma a pesquisadora.

Mas o despejo irregular de vinhaça na água de rios, ribeirões ou afluentes faz como esses corpos d’água se tornem ricos em nutrientes para bactérias aeróbicas (que respiram oxigênio), explica a pesquisadora. Esses microorganismos consomem o oxigênio do ambiente aquático, provocando a morte dos peixes.

G1

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