Se nesta safra as usinas sucroalcooleiras do Centro-Sul tiveram poucos motivos para reclamar – como as fortes adversidades climáticas -, a expectativa para a próxima temporada é que existam ainda muito menos. A seca que abalou os canaviais neste 2021/22 não deve se repetir no próximo ciclo, e é esperada uma recuperação parcial da moagem, além de preços novamente altos de açúcar e etanol.
Em coletiva, a União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica) indicou que o volume a ser processado tende a crescer com a recuperação da produtividade agrícola, que nesta safra ficou em 67 toneladas por hectare na média do Centro-Sul.
Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da entidade, compara a safra atual com a de 2011/12, que também foi fortemente afetada por intempéries, sucedida de uma temporada com aumento de 8,5% na produtividade agrícola. Embora prefira não cravar ainda uma previsão, Padua acredita ser possível que a próxima safra (2022/23) repita o nível de recuperação de produtividade observado na ocasião.
Já para a área, ele observa que o número ainda é uma incógnita, mas que caso as usinas decidam aumentar a área de reforma das canas que levam ano e meio para se desenvolver, a extensão colhida pode retrair em 2%.
Ainda assim, a moagem de cana, que nesta safra deve encerrar em 525 milhões de toneladas, pode se aproximar das 560 milhões de toneladas no próximo ciclo, como algumas consultorias estimam, afirmou o diretor técnico da Unica.
O cenário ainda é visto com reservas, já que o desenvolvimento da cana ainda depende do clima do verão. Mas, por enquanto, as previsões para janeiro e fevereiro são de boas chuvas, após novembro e dezembro com precipitações favoráveis, observou.
Além disso, ele acredita que a capacidade de recuperação do canavial atualmente é melhor do que dez anos atrás, já que houve mais investimentos recentes em insumos biológicos e micronutrientes, as variedades utilizadas são mais modernas e o cultivo é mais sistematizado, explicou.
O aumento da moagem deve se refletir igualmente na variação da produção de açúcar e etanol, sem uma grande alteração no mix de produção, segundo Padua. “Não teve investimentos adicionais em fábrica de açúcar, se tiver é pontual”, lembrou.
A oferta de etanol deve ganhar o reforço da produção a partir do milho, que deve subir dos atuais 3,5 bilhões de litros esperados para a safra atual para 4,6 bilhões de litros no próximo ciclo, segundo a entidade. Esse volume equivale à produção derivada da moagem de 60 milhões de toneladas de cana.
Se o volume de produtos tende a aumentar, a expectativa do setor para os preços é ainda mais favorável. “Os preços no ano que vem não vão ser inferiores a este”, disse Padua.
No caso do açúcar, boa parte das exportações já estão com preços fixados por valores bem acima das exportações de açúcar da safra atual. Para 2022/23, os preços fixados estão entre 18 e 20 centavos de dólar a libra-peso, com câmbio acima de R$ 5,50. Já na safra atual, os preços foram fixados com câmbio menos depreciado e preços de açúcar entre 13 e 14 centavos de dólar a libra-peso.
Segundo Padua, o mercado exportador pode acomodar eventual queda nas vendas de açúcar no mercado interno. Neste ano, as vendas de janeiro a novembro recuaram 4,5% em relação ao mesmo período do ano passado, já refletindo o desaquecimento da economia nos últimos meses.
O setor também espera preços sustentados para o etanol. Padua não vê um cenário de forte queda do petróleo, muito menos uma alteração na política de paridade de importação da Petrobras.
Neste ano, os preços do etanol bateram recordes diante da quebra na safra de cana e, mais recentemente, do sentimento de que os estoques para a entressafra ficariam muito apertados para atender à demanda, segundo o executivo. Mas, com a forte redução das vendas de etanol dos últimos meses, a percepção agora é de estoques mais folgados pela frente, o que inverteu a curva de preços e pressionou os valores na entrada da entressafra.
Outro fator positivo esperado para a próxima safra é o efeito do Consecana no custo da cana de fornecedor. Na safra atual, o custo da cana já refletiu a alta recente dos contratos do açúcar na bolsa, enquanto os valores recebidos pelas usinas correspondiam aos preços travados meses antes. Para a próxima, Padua espera uma equivalência entre os preços recebidos e pagos.