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Especial: Cana elétrica

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Se o título deste texto faz você pensar que cana-de-açúcar dá choque, enganou-se. O “choque” de que falamos aqui é o da inovação ambiental, de uma matéria-prima, uma alternativa limpa e sustentável que terá papel fundamental no futuro da matriz energética brasileira: a biomassa da cana-de-açúcar.

A eletricidade gerada a partir do vapor resultante da queima do bagaço da cana foi o tema do “I Seminário Mineiro de Bioeletricidade”, realizado pela Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), na capital mineira. Representantes de associações nacionais, empresários e especialistas do setor participaram do encontro, que reuniu mais de 150 participantes no auditório da Fiemg.

“A bioeletricidade é uma energia renovável e limpa e sua geração acontece próximo ao centro de carga. É complementar à geração hídrica, já que é produzida nos períodos mais secos do ano, além de ser fabricada aproveitando-se os resíduos da produção de açúcar e etanol, em vez de desperdiçá-los”, afirmou Mário Campos, presidente da Siamig.

E completou: “A grande estrela do nosso negócio é a cana-de-açúcar. Os produtos originários desta planta extraordinária representam 16,9% da oferta de energia no Brasil, sendo a principal fonte renovável da nossa matriz energética. Este evento é uma oportunidade para se conhecer melhor essa energia, dentro da categoria biomassa, com 77% de potência outorgada em 2015 e que ofertou ao Sistema Integrado Nacional (SIN) 20.400 GWh”.

Esta oferta, aponta ele, poderia prover o atendimento de energia elétrica a 10,5 milhões de lares brasileiros. “E evitou a emissão de 8,3 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera, marca que somente seria atingida com o cultivo de 58 milhões de árvores nativas ao longo de 20 anos.”

Apenas em Minas Gerais, que tem ótima vocação para a produção de energia a partir da biomassa de cana, os investimentos no setor possibilitaram que a produção de cana fosse quadruplicada em dez anos.

“As 35 usinas em operação no Estado geram mais de 61 mil empregos diretos em mais de 125 municípios canavieiros. Todas as usinas são autossuficientes na produção de energia para fabricação do açúcar e do etanol. Vinte e duas unidades já vendem o excedente e outras duas estão programadas para iniciar a comercialização de energia em 2017. Essas usinas representam mais de 85% da cana moída em Minas Gerais”, informa Campos.

O representante da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), José Mauro Coelho, enfatizou que o Brasil está na vanguarda do uso de energia renováveis e o papel do setor sucroenergético pode ser ainda maior. “Minas Gerais tem uma participação importante na bioeletricidade do cenário brasileiro, há necessidade de complementariedade com a geração hídrica e esse é um ponto positivo para essa energia.”

 

Segundo Jaime Finguerut, membro da Associação Brasileira de Biotecnologia Industrial, há necessidade de mais investimento tecnológico para que a cana alcance o dobro de produtividade que tem hoje. “Estamos colocando no saco de açúcar, no tanque de etanol e no fio de eletricidade somente 0,6% do que a cana oferece. Poderíamos estar colocando quatro vezes mais”, afirmou.

A cana-de-açúcar é uma das plantas mais eficientes na transdução de energia solar. “Tem grande capacidade de fotossíntese e enorme capacidade de se adaptar a diferentes ambientes, tendo em vista sua complexidade genética”, afirma ele, que também é assessor de Tecnologia do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC).

Jaime, que ministrou a palestra “Visão de mercado para novos produtos e negócios com biomassa de cana”, também destacou outros potenciais da cana-de-açúcar. “Sabemos, hoje, usar muito bem a fração solúvel da fotossíntese da cana (um terço do total): a sacarose. Com a produção de açúcar e etanol, geramos aproximadamente 2% do PIB, com mais de 800 mil empregos no interior do país. Com o outro terço da fotossíntese, o bagaço, permitimos que a produção de açúcar e álcool seja a mais sustentável do mundo. E ainda geramos bioeletricidade, adicionando valor à cana e substituindo outras fontes de eletricidade”, afirma ele, tendo como referência a energia gerada por meio de combustíveis fósseis.

“A outra parte da fotossíntese, as folhas, as pontas da cana e as palhas, é menos utilizada. A palha pode substituir parte do bagaço na queima das caldeiras, e o bagaço liberado pode ser usado para outros fins, como fabricar etanol de segunda geração”, reforça Jaime, apontando diferentes soluções energéticas a partir da cana-de-açúcar.

Ao todo, foram realizadas 13 palestras no evento, em que os especialistas demonstraram também o potencial dessa matéria-prima para geração do biometano, o gás ecológico proveniente da vinhaça (subproduto do etanol), e que pode ser um importante substituto ao diesel em caminhões e ônibus. Essa tecnologia já vem sendo empregada em várias partes do mundo com a utilização da vinhaça, por exemplo, em fábricas de cervejas e rum.

Principais desafios

As perspectivas do setor para o futuro são animadoras, garante Mário Campos, presidente da Siamig. “De acordo com o último Plano Decenal de Expansão de Energia da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a geração de bioeletricidade sucroenergética para a rede tem potencial técnico para chegar a mais de seis vezes o volume ofertado atualmente.”

Mas ainda há desafios pela frente. É preciso atender aos compromissos do país, via iNDC (Contribuição Nacional Determinada), assumidos no Acordo de Paris. O primeiro deles é “expandir o uso doméstico de fontes de energia não fóssil, aumentando a parcela de energias renováveis no fornecimento de energia elétrica dos atuais 11,6% para ao menos 23% em 2030, bem como da eólica, de outras biomassas e da solar”. O segundo, aumentar a participação de biocombustíveis na matriz energética brasileira para 18% até 2030, incluindo o etanol.

Outro detalhe importante: o setor defende uma solução de incentivo conjunto para o etanol e a bioeletricidade no planejamento energético do país. E repudia retrocessos (leia mais a seguir), como o Projeto de Lei 1.013/2011, que libera a produção e venda de carros de passeio a diesel no país, em detrimento à ampliação do uso do etanol, que é comprovadamente menos poluente.

Cana sustentável

Os produtos da cana-de-açúcar são limpos porque a planta absorve grande quantidade de CO2 durante a fotossíntese.

O setor sucroenergético deixou de emitir 7,5 milhões de toneladas de gás carbônico equivalentes apenas na safra 2015/2016.

Com a oferta de etanol hidratado, o setor possibilitou o consumo de 9,1 bilhões de litros nos últimos 10 anos.

Em 2015, a bioeletricidade participou com 77% de potência outorgada dentro da biomassa e ofertou ao Sistema Integrado Nacional 20.400 GWh.

Esta potência outorgada resultou na economia de 14% do uso de água dos reservatórios do submercado elétrico do Sudeste/Centro-Oeste.

 

Em Minas, a oferta de bioeletricidade pelo setor evitou a emissão de 797 mil toneladas de CO2 na atmosfera (equivalente ao plantio de 5,6 milhões de árvores nativas ao longo de 20 anos).

Fique por dentro

O Brasil é o maior produtor e exportador mundial de açúcar e o segundo maior produtor de etanol.

O valor bruto movimentado pela cadeia sucroenergética supera US$ 100 bilhões por ano, com um PIB de aproximadamente US$ 40 bilhões (2% do PIB Brasileiro).

A utilização de fontes de energia renovável reduziu a emissão de gases de efeito estufa (GEE) em mais de 300 milhões de toneladas de CO2eq de março de 2003 até meados de 2015.

A cana-de-açúcar é a primeira fonte de energia renovável do país (15,7% da matriz nacional). Além do etanol, o setor produz energia elétrica com potencial estimado em 18,8 GW médios até 2024 (equivalente a mais de quatro usinas de Belo Monte).


Ganhos e perdas

Presidente da Frente Parlamentar Mineira em Defesa do Setor Sucroenergético, o deputado Antônio Carlos Arantes lembrou que a sustentabilidade é uma busca contínua pelo mundo inteiro e o setor sucroenergético vem mostrando que isso é possível. Seja com a cana, que produz o etanol usado nos carros, um combustível limpo e renovável. Seja com a bioeletricidade; e com o açúcar, que é o principal energético consumido pelo ser humano: “Agora, até plástico biodegradável está sendo fabricado da folha da cana”, ressaltou.

 

Ele lembrou que onde tem cana plantada tem desenvolvimento, por isso o setor responde por 2% do PIB e gera cerca de 850 mil empregos. “Antigamente diziam que a cana estragava o solo, mas é o contrário. Diziam que cana era sinônimo de escravidão, mas a geração hoje de empregos mostra que é o contrário. Que onde tinha cana era sinal de poluição, o que não é mais verdade. E, ainda, que sobrava um monte de bagaço que o produtor não sabia o que fazer com ele, mas agora virou energia. Enfim, a cana hoje é produzida de maneira ambientalmente correta. Isso mostra o avanço da tecnologia e o empenho do setor em fazer a diferença no Brasil e no mundo, ambos ameaçados pelas mudanças climáticas”, ressaltou.Revista Ecológico – Nº 93 – Outubro/Novembro – 2016

 

 

 
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