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Canaviais envelhecidos preocupam usinas diante de maior demanda por biocombustíveis no RenovaBio
O setor sucroenergético brasileiro vive um momento importante. Além da alta no consumo de etanol em relação à gasolina, deve ser beneficiado com a implementação do RenovaBio, política que vai ampliar a participação dos biocombustíveis na matriz energética e estimular a redução de emissão de carbono, seguindo os objetivos do Acordo de Paris.
Mas enquanto aguardam o governo definir as metas de produção de cada setor para 2030 e veem com otimismo o programa, as usinas lidam com uma preocupação que, a cada ano, se mostra mais relevante: o envelhecimento dos canaviais.
O problema está diretamente ligado à queda de produtividade da lavoura. No resultado de 2016/2017, o Centro-Sul, maior região produtora do país, moeu 76,6 toneladas por hectare, cerca de 10% a menos em relação à média histórica, de 85 toneladas/hectare.
“Isso sem dúvida alguma terá que ser revertido. Nós temos um potencial hoje na região Centro-Sul em 8 milhões de hectares, 10 toneladas a mais por hectare. Estou falando em até 80, 90 milhões de toneladas de cana de oferta a mais do que eu tenho hoje se eu tiver um canavial jovem”, afirma Antônio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).
Um canavial é produtivo por até oito anos e precisa de outros cinco para encontrar seu ponto de equilíbrio a partir da renovação das mudas, explica Rodrigues.
Embora a meta do RenovaBio seja divulgada em junho, o diretor estima que em torno de 18% das áreas cultiváveis do Centro-Sul precisam passar por melhorias por ano. Etapa que antecede, inclusive, projetos de instalação de novas indústrias. Segundo ele, há indicadores que mostram uma demanda de produção na casa dos 50 bilhões de litros de etanol.
“Vai ser a primeira fase do RenovaBio: não vamos começar com uma expansão, montando usina para lá e para cá. Nós temos uma condição de ter um crescimento vertical da produção e não um crescimento horizontal da produção”, diz.
Descarbonização
A garantia de ter condições de ofertar etanol nas quantidades estabelecidas pelo governo é apenas uma das implicações do RenovaBio para os usineiros, que também precisarão reduzir as emissões de carbono em seus processos produtivos.
Da quantidade de óleo diesel consumido pelas colheitadeiras à destinação da palha da cana para a cogeração de energia elétrica, tudo que possa representar impacto ambiental entrará nas contas do Crédito de Descarbonização por Biocombustíveis (CBIO), certificação com valor no mercado financeiro a ser emitida pelas usinas na venda do etanol às distribuidoras.
Com isso, as indústrias terão que melhorar a eficiência em todos os seus processos. Rodrigues estima que usinas que hoje emitam até 25 gramas de CO2 por megajoule possam inclusive zerar seu impacto, a depender de como vão se adequar.
“Se eu sou uma usina ruim posso estar emitindo 25 gramas [de CO2 por megajoule, a medida que base para o cálculo de emissão]. Se sou uma usina competente posso estar emitindo 15 gramas”, cita e detalha: “A usina eficiente está emitindo mais papel para colocar no mercado por litro de etanol do que a usina menos competente. Aí tenho que avaliar de uma forma geral, não só a cana. Quero que o fornecedor de cana seja produtivo, que a minha cana própria seja produtiva”.
Além da cogeração de energia, o diretor menciona a importância da produção de etanol de milho, em áreas com disponibilidade dessa cultura, como Mato Grosso, Goiás e Paraná, do etanol de segunda geração, ainda em fase inicial, produzido a partir da palha e do bagaço da cana, e do reaproveitamento da vinhaça na produção de biodiesel.
“Se uma usina tem bagaço e vai vender para a indústria de laranja, não vai pesar nada. Mas se eu tenho bagaço e faço cogeração de energia vai pesar muito. Se eu tirar essa do campo e fizer cogeração de energia vai pesar muito. Tudo isso é o que já começamos a demonstrar para as empresas se prepararem”, afirma.
Rodrigues, no entanto, observa que uma meta estará associada a outra, ou seja, não bastará a usina melhorar seus processos internos se não der conta de atender a demanda pelo biocombustível. “A primeira variável minha é ser mais eficiente, é aumentar a minha produtividade e reduzir meus custos de produção. Eu não vou fazer isso de um ano para o outro”.
Fonte: G1
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