* Beatriz Resende
Identifiquei-me muito com o texto de Sydney Finkelstein, publicado na Revista Harvard Business Review de fevereiro de 2018 e resolvi trazer aqui alguns highlights do texto escrito pelo autor, entremeados com a minha visão sobre o assunto.
O autor começa o texto citando o CEO do ICICI Bank Of India, Kundapur Vaman Kamath que, durante quatro décadas, entre as posições como executivo sênior e depois a de CEO, lecionou no escritório. E que seus alunos foram seus subordinados. Para ele, cada dia era uma oportunidade de fornecer a seus subordinados diretos uma aula individual de mestrado em gestão. O ICICI tornou-se um dos bancos mais importantes e inovadores da Índia e Kamath recebeu o crédito por ter moldado uma geração inteira de executivos bancários do país.
Falamos e sonhamos a liderança de uma forma que ainda pouco conseguimos enxergar nas empresas. Muitas vezes não temos nem o básico bem feito do exercício dela, quanto mais a versão do líder professor, na visão apresentada pelo autor.
De acordo com Finkelstein, esses líderes que ele chama de excepcionais, e que ele passou dez anos estudando, tinham a rotina diária de acompanhar seus colaboradores nas “trincheiras”, ensinando-os habilidades técnicas, táticas gerais, princípios de negócios e lições de vida. Seu ensino era informal e orgânico.
Tenho dito que a liderança, para mim, é muito mais propósito do que dom; é muito mais boa vontade, disciplina e fé no outro, do que estilo e padrões; é uma escolha genuína de um papel a ser exercido, mais do que o merecimento advindo de vários critérios como tempo de casa; formação; experiências; relação de confiança; autoinvestimento; entre outros. Falo aqui da liderança que estamos tratando, aquela que os seguidores desse propósito dedicam para apoiar as pessoas a decolarem em seus objetivos, sonhos e ambições, o que, da mesma forma, contribui para que as empresas tenham os melhores resultados de excelência, aquela que vem de pessoas felizes, comprometidas e engajadas com o que fazem, criam, contribuem e inovam.
Para ele, não é necessário talento ou treinamento especial, nem mesmo muito tempo, para que um líder tenha o propósito de ensinar, como esses gestores “nota 10” aqui citados. Basta seguir seus exemplos: aprender o que ensinar, como ensinar e como fazer suas aulas “grudarem” na memória, no coração e na alma de seus “alunos”.
O autor cita ainda que, ao longo de seu estudo, percebeu que a maioria dos líderes recorrem a práticas tradicionais de gestão e desenvolvimento de pessoas, tais como a realização de avaliações formais, suporte nos planos de carreira existentes, aconselhamento dentro de opiniões tradicionais e previsíveis, tudo isso a partir das políticas internas vigentes. E aí eu queria dizer a este entusiasta autor, neste ponto específico: isso quando o fazem! Pois a maioria não usa nem os instrumentos básicos e conhecidos que têm em mãos.
Gestores de pessoas têm sido estimulados a utilizar seu tempo mais precioso na orquestração de seus times, do que na operação e burocracia que esses papéis carregam. Mas ainda parece que o outro lado tem mais força, mais status. Ou pelo menos é aquela zona que conhecemos, dominamos e nos garante a “féria”.
Para o autor, grandes líderes ensinam uma variedade de tópicos, mas suas melhores lições se dividem nas categorias:
– Profissionalismo: o aprendizado sobre a ênfase na integridade e altos padrões éticos.
– Conhecimento da arte: ser dotado de um volume de conhecimento, em vários aspectos, que deixa qualquer um atordoado.
– Lições de Vida: grandes líderes não ensinam apenas a trabalhar, eles oferecem uma profunda sabedoria de vida.
Seguindo a visão mostrada, líderes bem sucedidos não aguardam por avaliações formais e check-ins. Eles aproveitam e criam oportunidades, o tempo todo, para transmitir a sua sabedoria aqueles com os quais trabalham e têm o propósito de formar profissionais e líderes, não à sua semelhança, mas com independência de pensamento e ação.
Nossa missão, como condutores do desenvolvimento e estímulo de profissionais que decidem ou são indicados para o tão nobre exercício da liderança, é transformar alguns paradigmas e práticas que, já sabemos, não têm dado certo ao longo de décadas. Os cenários mudam, mas nós temos caminhado para o mesmo lado: com alguns bibelôs e artifícios diferentes, o que parece ser mais importante do que a causa em si.
“Ensinar não deveria ser apenas um ‘extra’ no papel de bons gestores. É parte integrante de suas missões e responsabilidades. Se você não está ensinando, não está liderando de fato.” Sydney Finkelstein.
Tornemo-nos, pois, o melhor exemplo, o melhor “benefício” e reconhecimento que um profissional possa ter na sua carreira: um líder de que ele se orgulhe e que seja seu grande mentor, seu mestre, ao longo da vida. Esta missão e o resultado advindo dela são impagáveis.
* Beatriz Resende é consultora, palestrante e conselheira de Carreiras da Dra. Empresa Consultoria Empresa