O canavicultor já consegue antecipar em quatro anos a adoção de uma nova variedade de cana-de-açúcar, que pode proporcionar um aumento de produtividade de 20% em relação à variedade antiga.
Esse salto decorre apenas da renovação da variedade plantada. Porém, esse ganho vem sendo acelerado quando a instalação do canavial é feita por meio do uso do sistema de Mudas Pré-Brotadas (MPB) associado com o sistema de MEIOSI.
Essa condição benéfica está mudando a vida do produtor de cana não só pelo incremento na produtividade. Há também o ganho proporcionado pelo combo tecnológico MPB + MEIOSI, que torna o produtor independente em relação à escolha da variedade e à produção de mudas dessas novas variedades, mais adequadas ao seu nicho de produção. Desenvolvido pelo IAC, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, o MPB mudou o modo de plantar cana no Brasil e está em várias regiões do país.
Esses ganhos foram revelados pelo pesquisador do IAC, Marcos Guimarães de Andrade Landell, durante a live sobre Inovações em Cana-de-açúcar, promovida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), com a presença de especialistas de várias instituições do setor sucroenergético.
Além de ampliar a produtividade, as variedades novas, normalmente, têm maiores taxas de multiplicação, o que dilui o custo da muda. Esses novos materiais promovem outros ganhos, decorrentes da combinação entre MPB e MEIOSI.
Por exemplo, o canavicultor pode se limitar a comprar mudas pré-brotadas para plantar apenas cerca de 8% da área de seu canavial. Esses 8% de área irão produzir, em seis meses, as mudas suficientes para instalar o canavial total. Esse é um dos acontecimentos pós-lançamento do MPB, feito em 2011-12 pelo IAC.
Segundo Landell, quando o canavicultor não dispunha dessas tecnologias, ele se via obrigado a comprar as mudas das usinas, que têm realidades diferentes e, portanto, muitas vezes, fazem escolhas distintas daquelas que melhor atendem ao produtor de cana.
A associação MPB + MEIOSI possibilita aumentar em cerca de 700 vezes a taxa de multiplicação de uma nova variedade de cana-de-açúcar, em um período de mais ou menos nove meses. “Isso é uma taxa de multiplicação fabulosa”, diz Landell, ao lembrar que, no passado, quando predominava o plantio manual, a taxa era de um para dez, isto é, com um hectare de material biológico eram feitos dez hectares de plantio.
“Com o advento da mecanização, esse desempenho tornou-se mais crítico, passando a ser de um para quatro, ou seja, para realizar o plantio de quatro hectares passou a ser necessário um hectare de viveiro de mudas”, comenta.
Conforme Landell, o sistema MPB, por si só, aumenta a taxa de multiplicação da cana. Com dez mil MPBs, é possível plantar um hectare de cana. “Existem variedades na atualidade, que possuem até 20 mil gemas em uma tonelada de colmos, possibilitando a produção de mais de 15 mil MPBs. Teoricamente, o que se gasta em plantio mecânico é perto de 13-14 toneladas, por hectare. Hoje, com uma tonelada, isto é, 13 vezes menos, consegue-se produzir MPB para plantar o mesmo hectare”, explica. A associação do MPB ao conhecimento de MEIOSI ampliou os ganhos.
A MEIOSI é o método intercalar de plantio, em que se planta uma linha de cana e deixa um espaço para até 15 linhas, que serão plantadas dentro dos próximos seis meses. Esses novos plantios serão feitos no espaço intercalado, a partir de mudas geradas pelas primeiras linhas instaladas. O método de MEIOSI foi desenvolvido pelo pesquisador José Emílio Barcelos, durante doutorado realizado na UNESP Jaboticabal, no meio da década de 80.
Para o pesquisador do IAC, o setor sucroenergético está diante de uma oportunidade com o avanço da biotecnologia como um todo e o importante é contextualizá-la com aspectos palpáveis da cultura. “Nós temos um verdadeiro pré-sal biológico, com possibilidades reais de produzir algo como 10 mil litros de etanol, por hectare”, destaca Landell.
Ele acredita que, ao atingir esse patamar, o produtor terá recursos inclusive para financiar a pesquisa. O líder do Programa Cana IAC defende a visão agregada do setor, de modo a mostrar como os elos se complementam para fortalecer a canavicultura de alta produtividade.