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O que está por trás da queda dos preços do açúcar?

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Movimentos de rolagem das usinas, fundos com posições vendidas e oferta global confortável explicam a fraqueza recente das cotações do açúcar, segundo análise da Archer Consulting.

A forte desvalorização do açúcar nas bolsas internacionais decorre menos dos fundamentos da safra e mais de fatores técnicos e especulativos. O avanço da moagem no Centro-Sul e o bom desempenho do ATR confirmam uma produção sólida, mas o mercado permanece pressionado por rolagem excessiva de contratos das usinas, posições vendidas recordes dos fundos e um ambiente de pessimismo que domina os investidores desde a “semana do açúcar” no Brasil.

É o que analisa o consultor Arnaldo Luiz Corrêa, da Archer Consulting, para quem o setor ainda digere “o excesso de negatividade acumulado nas últimas semanas”.

O contrato de março/26 em Nova York encerrou a última semana de outubro a 14,42 centavos de dólar por libra-peso, acumulando queda de 55 pontos, o que equivale a US$ 12 por tonelada. Corrêa lembra que, há dois anos, o açúcar valia o dobro. “Na época, o etanol tinha 800 pontos de desconto em relação a Nova York. Hoje, o açúcar vale metade disso e o etanol exibe 200 pontos de prêmio — um espelho invertido que deixa evidente que a distorção está em Nova York”, afirma.

Entre as principais razões da queda, o analista cita a rolagem contínua das posições das usinas, que transferiram vendas de um vencimento a outro, empurrando para frente cerca de 3 milhões de toneladas ainda pendentes de fixação. “Essa estratégia acumulou pressão sobre os contratos futuros”, observa.

A esse movimento somam-se as posições vendidas dos fundos especulativos, estimadas em 225 mil lotes — o equivalente a mais de 11 milhões de toneladas. “Descontando o volume das usinas ainda por fixar, restam 165 mil lotes que, em algum momento, precisarão ser recomprados. O problema é a ausência de gatilhos que justifiquem recompras imediatas”, disse Corrêa.

Mesmo assim, ele lembra que “os fundos raramente mantêm posições vendidas em mercados invertidos”, o que pode levar a uma liquidação antes do fim de dezembro.

Oferta global elevada e sem choques de produção

Outro fator que mantém o mercado pressionado é o abastecimento global confortável. O Brasil exportou 33,3 milhões de toneladas de açúcar nos últimos 12 meses até setembro de 2025 — 13% abaixo do ano anterior, mas ainda um volume robusto. Em quatro anos, o país embarcou 127 milhões de toneladas, média de 31,8 milhões por ano, ampliando em 6% o market share. “O país segue sendo o fornecedor mais confiável do mundo”, afirma Corrêa.

As projeções para a próxima safra, entre 620 e 640 milhões de toneladas de cana, reforçam a percepção de oferta ampla. E, apesar do atraso das chuvas na Índia, o analista avalia que a produção local não deve ser comprometida, somando-se à pressão sobre os preços.

Há ainda o risco de negociações entre Brasil e Estados Unidos sobre o etanol, que, se resultarem na suspensão da taxação, poderiam permitir a entrada do produto americano no mercado interno — “um risco adicional para o equilíbrio doméstico”, observa Corrêa.

‘As más notícias já estão no preço’

O consultor acredita que o mercado já precificou todos os fatores negativos. “As más notícias já estão no preço. Falta agora um motivo para o mercado respirar — e talvez esse motivo venha do fim do shutdown americano e da divulgação da posição dos fundos pelo CFTC”, afirma.

Se o relatório revelar mais de 210 mil contratos vendidos, Corrêa avalia que isso pode expor “uma vulnerabilidade significativa dos fundos, que teriam dificuldade em encontrar contraparte para recomprar seus lotes num mercado cada vez menos líquido”.

“Até lá, o mercado segue em compasso de espera. O jogo continua aberto, mas neste momento, a palavra-chave é paciência”, conclui.

Natália Cherubin para RPAnews

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