Edição 186
A broca da cana e seu impacto na indústria
Os prejuízos causados pela broca vão muito além dos canaviais
*Bruno Sattolo
*Claudemir D. Bernardino
*Dinailson C. Campos
*Fernando Henrique C. Giometti
Entre as diversas pragas que ocorrem nas diferentes regiões produtoras de cana-de-açúcar, e que em conjunto causam perdas econômicas bilionárias ao setor, a principal e mais importante é a broca, que causa prejuízos que ultrapassam os canaviais e que podem trazer grandes perdas também dentro da indústria, atingindo diretamente a qualidade do produto final. No entanto, os impactos na indústria, em determinadas situações, são difíceis de serem percebidos ou correlacionados com esta praga seja porque os prejuízos causados se confundem com outros fatores que afetam a produção ou devido a amostragens incompletas ou erros na avaliação de intensidade de infestação da broca.
Visando quantificar as perdas econômicas industriais causadas pela broca e correlacioná-las a cada 1% de intensidade de infestação de broca, profissionais da Fermentec, empresa especializada em otimização de processos industriais de fabricação de açúcar e etanol, analisaram em profundidade dez casos reais, onde avaliou-se o impacto sofrido no rendimento industrial em função da presença de broca na cana processada.
As perdas industriais causadas pela broca estão relacionadas com o aumento de microrganismos contaminantes na fábrica de açúcar e na fermentação alcoólica. Estes microrganismos penetram a cana e entram na indústria através dos colmos contaminados. A contaminação por fungos causa a podridão vermelha, que associada com a contaminação por bactérias e leveduras selvagens causam inversão da sacarose e redução da pureza da cana, diminuição do pH, formação de dextrana, manitol, ácidos orgânicos e compostos de cor que vão interferir na qualidade e na recuperação do açúcar (Figura 1). Esta contaminação por leveduras e bactérias também afeta o desempenho da fermentação, reduzindo sua eficiência, além de estar associada à formação de espuma em excesso e floculação por leveduras selvagens contaminantes (Figura 2). Além disso, a cana infestada por broca eleva os custos de produção, principalmente de insumos como cal, ácido sulfúrico, antibióticos e antiespumantes.
ÍNDICE DE INTENSIDADE DE INFESTAÇÃO
A gravidade do impacto da broca na indústria depende do índice de intensidade de infestação que pode variar de uma safra para outra e entre diferentes regiões de produção, e por isto deve ser cuidadosamente monitorado. O porcentual do índice de intensidade de infestação (I.I.%) é obtido da seguinte forma:
I.I.% = (número de entrenós brocados/número
de entrenós totais) x 100
Nos dez casos avaliados, para cada 1% de intensidade de infestação de broca foram observadas perdas agroindustriais de 3,63 kg açúcar por t cana e 5,2 l etanol por t cana, além de perdas exclusivamente na indústria com reduções do Recuperado Total Corrigido (RTC) de 1,48%, no recuperado de fábrica SJM de 0,5% e no rendimento geral da destilaria, de 2,08% em um caso, e de 0,19% em outro. O consumo adicional de insumos devido à cana brocada na indústria foi de cal (46,2 g/sc açúcar 50 kg), antiespumante (0,37 g/l etanol), ácido sulfúrico (0,42 g/l etanol) e antibióticos (1,81 mg/l etanol). O impacto econômico em cada parâmetro foi padronizado para uma unidade de moagem de 2 milhões de t de cana, equivalentes a 25 mil ha de cana colhidos (produtividade de 80 t de cana por ha).
A média de intensidade de infestação de broca mostra variações de safra a safra nas regiões produtoras, estando próxima de 3,5%, conforme a Figura 3. Esta intensidade de infestação é residual, pós-controle, ou seja, uma infestação que persiste mesmo após aplicados os métodos atuais de controle de broca. As perdas econômicas por unidade produtora foram calculadas usando-se este número médio de intensidade de infestação de broca.
Um resumo das perdas e prejuízos econômicos por parâmetro agroindustrial, assim como para os parâmetros industriais em diferentes unidades produtoras estão apresentados nas tabelas 1 e 2. Os prejuízos variam de uma usina para outra em diferentes etapas do processo de produção. As maiores variações têm sido observadas em relação ao rendimento geral da destilaria e por essa razão foram incluídos dois estudos de casos mostrando a magnitude desta variação. Os resultados demonstram como os efeitos indiretos da broca impactam fortemente o rendimento industrial e também os custos de produção.
Em relação à agrícola, os prejuízos podem ser ainda maiores se houver redução da produtividade em tonelada de cana por hectare. Publicações mais recentes apontam redução na produtividade de colmos entre 1,21% (Almeida, 2016) e 2,9% (Dinardo-Miranda et al., 2013) a cada 1% de intensidade de infestação de broca. Resultados obtidos a partir de usinas clientes da Fermentec na safra 2011/12 mostram que as perdas na produção de colmos devido à broca podem chegar a 2,85 t/ha, o que corresponde a 400 kg de ART/ha ou o equivalente a 230 l de etanol/ha para cada 1% de intensidade de infestação.
Muitas vezes os problemas causados pela broca não são facilmente percebidos ou quantificados dentro da indústria, e podem passar a falsa impressão de que eles estão restritos à área agrícola.
O setor deve se atentar para o fato de que, mesmo sob condições atuais de controle da broca, quando se estendem para todo o mercado, as perdas agrícolas e industriais e os prejuízos alcançam uma ordem de grandeza na casa dos bilhões de reais. E sem um combate efetivo e permanente da broca, os prejuízos econômicos continuarão a se estender para muito além do canavial.
O trabalho completo e detalhado pode ser acessado pelo site da Fermentec: www.fermentec.com.br.
Autores
*Bruno Sattolo é especialista de Aplicação da Fermentec
*Claudemir Domingues Bernardino é diretor de Transferência de Tecnologia da Fermentec
*Dinailson Corrêa de Campos é coordenador de Cursos e Treinamentos e consultor de Processo e Microbiologia da Fermentec
*Fernando Henrique Carvalho Giometti é especialista de Aplicação em Processo e Microbiologia da Fermentec
*Henrique Berbert de Amorim Neto é vice-presidente da Fermentec
*Henrique V. Amorim é o presidente da Fermentec
*Mario Lucio Lopes é diretor Científico da Fermentec
*Henrique B. Amorim Neto
* Henrique V. Amorim
*Mário L. Lopes