O BB Investimentos estabeleceu um novo preço-alvo de R$ 2,30, com potencial de alta de 79,7%, para a Raízen no final de 2026. Na análise, a principal explicação que justificará a valorização será a simplificação do negócio.
Segundo o analista Daniel Cobucci, após seu IPO, em 2021, a Raízen teve uma estratégia de expansão agressiva, elevando seu endividamento com a aquisição da Biosev e dos ativos de refino na Argentina.
Além disso, a empresa, para ele, tinha uma agenda que contava com um crescimento de longo prazo centrado no etanol de segunda geração (E2G).
As premissas adotadas passavam por uma expectativa de queda nas taxas de juros, de retorno elevado e sinergias nas aquisições. Além disso, a Raízen tinha uma projeção de custos de cerca de R$ 800 milhões em cada planta de E2G e boas margens no mercado de distribuição de combustíveis.
Mas, para o BB Investimentos, algumas questões afetaram a Raízen:
- Aquisições não trouxeram sinergias esperadas
- Juros domésticos voltaram a subir, pesando no endividamento
- O custo de construção das plantas de E2G era estimado em R$ 800 milhões cada, mas acabou saindo na faixa dos R$ 1,2 bilhão e, hoje, já é mais próximos de R$ 1,5 bilhão
- No lado agrícola, os custos subiram, principalmente após o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, com gastos com fertilizantes, por exemplo, pressionando margens
- O preço do açúcar flertou com as mínimas nos últimos quatro anos e o etanol perdeu competitividade com a gasolina
- A concorrência ficou mais apertada em distribuição de combustíveis, devido a fraudes com biodiesel e compra de CBios, com os postos bandeira branca ganhando market share após 2022
A partir dessas questões, o endividamento da Raízen saiu do controle e passou a afetar os resultados. Agora, a empresa passa por uma nova fase, com mudanças no comando, venda de ativos e redução de custos.
Os esforços recentes para reduzir o endividamento, como desinvestimentos, somam cerca de R$ 5,1 bilhões ao caixa da Raízen no último ano.
Ainda assim, a dívida líquida saiu de R$ 34,5 bilhões ao final do quarto trimestre de 2024/25 para R$ 49,2 bilhões no primeiro trimestre de 2025/26. Isso sugere que a estrutura de capital ficará desequilibrada por um tempo mesmo com o avanço de outros desinvestimentos.
A situação, então, reforça a chance de uma potencial capitalização. Na visão do BB, a entrada de novos sócios seria a forma mais rápida de reestruturar a companhia e colocá-la de volta em um ciclo de crescimento.
“Porém, para os minoritários, as dúvidas seguem elevadas. Por um lado, o mercado está precificando a empresa considerando prazos bastante longos para voltar a gerar caixa. Por outro, não sabemos como será essa capitalização e como será o efeito de diluição”, dizem os analistas.
Eles ainda completam: “Isso sugere que, apesar do elevado potencial de alta para a ação com o novo preço-alvo, a cautela justifica a recomendação neutra. Isso até que fique mais claro se realmente o pior já passou”.
Money Times| Pasquale Augusto
