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Colhedora de duas linhas: ganhos reais e agronômicos
Além dos ganhos mensuráveis que a colhedora de duas linhas tem propiciado, com a redução de 22% nos custos da operação da colheita mecanizada, a tecnologia também já mostra benefícios agronômicos
Falar sobre a colhedora de cana-de-açúcar de duas linhas é falar sobre um novo sistema de colheita de cana. Isto porque, muito além da máquina, capaz de colher ao mesmo tempo duas linhas de cana, estamos falando de um novo dimensionamento logístico e volumétrico de transbordos, de um novo dimensionamento logístico de transporte, de novas rotinas de manutenção dos equipamentos e de um tráfego controlado efetivo.
“Portanto, é uma nova maneira de trabalhar. Há décadas, desde o início da mecanização da colheita, se esperava uma oportunidade como está para melhorar o resultado do negócio”, afirma Carlos Newton Graminha, engenheiro mecânico com experiência na indústria automobilística e usinas sucroenergéticas e consultor em mecanização de cana-de-açúcar.
As colhedoras de duas linhas vêm mostrando ótimo desempenho na operação de colheita mecanizada. Não só trazendo redução no custo da operação, que chega a 22%, em reais por tonelada, como outros ganhos que ainda estão sendo mensurados: os ganhos agronômicos.
“A máquina de duas linhas em comercialização foi desenvolvida para colher, com performance e qualidade, duas linhas de cana de forma independente nas condições da maioria dos canaviais do Brasil que são plantados em nível, ou seja, curvas para controle de escoamento de água. Com duas linhas independentes de corte de base distanciados a 1,40 m que permitem desnível entre linhas de até 0,20 m, poucas são as condições que esta colhedora não consiga fazer um bom trabalho”, afirma Graminha.
Para o sucesso, entretanto, ele afirma que a máquina deve andar centrada nas linhas de colheita (colhendo as gêmeas de plantio) e, para isso, o uso de piloto automático/RTK é imprescindível para a operação.
Ganhos reais em custos
Colher duas linhas individuais de cana trazem uma redução de 22% do custo da operação da colheita cana em reais por tonelada. O que compõe esse valor, de acordo com Maria Renata Gonçalves, especialista de Mercado e Produto Cana-de-açúcar da John Deere, é a redução 36% nos custos com mão de obra na frente de colheita – não só na colhedora, mas na frente de colheita como um todo.
“O fato de o transbordo ser enchido na metade do tempo que é gasto com as máquinas de uma linha, o torna mais eficiente e capaz de fazer mais ciclos no dia, proporcionando uma redução da necessidade de tratores transbordos em aproximadamente 25%. E isso impacta diretamente tanto na redução de mão de obra como em consumo de combustível”
Na mesma linha de raciocínio, os fatores que justificam a redução de mão de obra, também impactam no consumo de combustível da frente de colheita, tanto na máquina, como nos tratores transbordos, que chega a proporcionar até 30% de redução no consumo.
O último fator que compõe a redução de custos de 22% é a redução de perdas. O dobro da taxa de descarga da máquina de uma linha exigiu a reengenharia do sistema de limpeza para entregar cana de alta qualidade.
“Todas essas modificações proporcionaram uma redução de perdas por estilhaço da cana, que chega mais bem distribuída no bojo para fazer a limpeza. Isso faz com que o operador consiga trabalhar em menores velocidades de rotação, causando menor perda por estilhaço. Essa é uma das perdas que é reduzida nesse sistema novo de colheita. Outro fator que reduz perdas é o fato de a máquina estar mais bem posicionada na entrelinha. A bitola permite que ela fique no centro da entrelinha e tenha menos contato com as linhas de cana. A melhora no tráfego faz com que não cause tantas quebras por perfilho, pisoteio e arranquio”, adiciona a especialista da John Deere.
Para Graminha, considerando como escopo que uma máquina de duas linhas pode colher por duas de uma linha, a estrutura de transbordo passa a ser otimizada, isto é, se para cada máquina de uma linha se utilizava em média dois trasbordos, para a colhedora de duas linhas pode se utilizar três transbordos, reduzindo um do sistema antigo.
Embora a colhedora de duas linhas seja maior e mais pesada, seus componentes são mais resistentes e adequados a maior quantidade de cana processada, portanto, de acordo com Graminha, se espera uma redução no custo de manutenção por tonelada colhida.
“Não há ainda números consistentes desta redução, pois os equipamentos em campo fizeram no máximo duas safras. Mas conseguimos dizer é que há uma otimização de mão de obra não só na estrutura da frente de colheita considerando a redução de colhedoras e transbordos, como também da mão de obra de manutenção e lubrificação. Há uma significativa redução de custos, mas depende de como cada usina distribui seus custos”, adiciona.
Tráfego controlado efetivo traz benefícios agronômicos
Um grande ganho do novo sistema de colheita está no trafego controlado efetivo, já que todos equipamentos trafegam no mesmo caminho. “Isto é, com tráfego em apenas 22% da área plantada há uma expectativa de aumento da produção e longevidade do canavial o que trará uma redução no custo de produção da tonelada de cana”, destaca Graminha.
Quando comparado o rastro da máquina de uma linha com a de duas, tanto na ida quanto na volta acaba havendo uma compactação em toda a entrelinha.
“Na ida ela vai bem próxima a um lado da soqueira e na volta, vem compactando o outro lado. Então, a bitola da máquina de uma linha acaba compactando toda a região radicular da entrelinha. Já na CH 950, sua bitola permite que ela vá e volte quase que no mesmo rastro. E ela preserva todo o canteiro central, que não tem contato com o tráfego das operações. O rastro se repete desde o plantio, com a bitola de 3 m e acabamos criando uma pista de tráfego. Criamos um vazo radicular que fica preservado. Quando chove, tanto a água quanto os nutrientes acabam se concentrando nessa região radicular que foi preservada”, explica a especialista da John Deere.
Ainda não é possível mensurar tais ganhos com precisão, porque algumas experimentações e análise de mais ciclos devem ser feitos para medir a questão da produtividade, mas, consequentemente, a preservação das raízes vai proporcionar tanto produtividade quanto longevidade dos canaviais. “O benefício financeiro de um corte a mais faz muita diferença para o produtor. A longevidade também é aumentada com os benefícios agronômicos”, diz Maria Renata.
Em um produtor que vem fazendo o uso da máquina de duas linhas, foi possível notar a grande diferença de brotação da cana pós-colheita. Lado a lado, fazendo uma comparação da colheita de uma com a de duas linhas na mesma área, é nítida a diferença de vigor dos canaviais (Veja Imagem 1)
“Percebemos que o canavial onde a colhedora de duas linhas operou tem menos falhas e é mais vigoroso. Com o crescimento da soca, foi possível ver a diferença de perfilhamento e brotação e a quantidade muito menor de falhas onde foi colhida com duas linhas. Não temo dados concretos e números para falar. E esses números não estão considerados na redução do custo por tonelada, entretanto o benefício agronômico com certeza vai ser sentido nos próximos ciclos”, destaca Maria Renata.
O John Deere, em parceria com o IAC, vem fazendo a quantificação, com avaliações em campo para trazer números consolidados, no entanto, cliente que comparou a produtividade do mesmo bloco, que foi colhido dois anos seguidos com a CH950, um canavial de 4°corte comparado no ano seguinte com o 5° corte, identificou 8% a mais de produtividade.
“Temos que continuar pesquisando para mensurar quais são os reais ganhos agronômicos em produtividade e longevidade. Mas acreditamos certeza que está diretamente ligado ao controle de trafego, redução de compactação que acaba preservando o canavial”, salienta a especialista da John Deere.
Rendimento supera em 2 vezes máquina de uma linha
Um dos maiores ganhos reportados por clientes – hoje aproximadamente 50 máquinas desta rodam no campo – têm sido o rendimento da colhedora de duas linhas, que chega a ser de 1,7 a 1,95 vezes ao da máquina de uma linha.
“Não posso dizer o quanto a máquina vai produzir. Depende da realidade operacional de cada unidade. Tem clientes que colhem de 600 a 700 t/maquina/dia com a máquina de uma linha, tem clientes que chegam à colher 900 t/máquina/dia e alguns chegam a ultrapassar as 1000 t/máquina/dia. Esse mesmo range se aplica também a CH950”, revela a especialista da John Deere.
Quanto ao consumo de combustível, em litros por hora, o range levantado pela companhia fica entre 50 e 60 litros/hora de consumo. Mas o que vai influenciar mesmo neste consumo é a velocidade em que o operador vai trabalhar e a produtividade do canavial, ou seja, as toneladas colhidas por hora, pois faz mais sentido comparar o consumo em Litros por tonelada de cana colhida.
Maria Renta explica que quando mais produtivo o canavial, mais impacto haverá sobre o consumo de diesel. De acordo com a TCH e as velocidades trabalhadas, tem-se visto um consumo que vai de 0,5 a 0,75 l/t.
“Tanto em números de produtividade quanto de consumo, vemos alguns casos de clientes que conseguiram ter um rendimento de colheita maior que 2X, se comparada a colhedora de uma linha, e também tivemos consumo de combustível atingindo 0,45 l/t. Estes dados ‘mais esporádicos’, são de clientes que já ultrapassaram a curva de aprendizado e estão experimentando números ainda melhores”, destaca a especialista da John Deere.
A questão é que, quando são dadas as condições para a máquina produzir, ou seja, uma operação perfeita, sem falta de tratores ou transbordos, a colhedora de duas linhas tem condição de atingir uma produtividade duas vezes maior ou até mais.
“Então é importante que haja o dimensionamento de frota adequado, porque se você dá condições para essa máquina ela produz 2X mais. Isso são relatos de clientes”, adiciona Maria Renata.
Velocidade de trabalho
A máquina de duas linhas tem total condição de trabalhar na mesma velocidade da máquina de uma linha, ou seja, não é recomendado que se reduza a sua velocidade. Muito pelo contrário, a colhedora de duas linhas tem um sistema de corte independente de base, com row adapt (adaptação de linha), que copia o solo e proporciona um corte com alta qualidade.
“É preciso deixar a máquina render, porque assim também vai melhorar o seu consumo por tonelada”, destaca Maria Renata.
Um comparativo feito entre a máquina de duas linhas e outros modelos de máquinas de uma linha em uma frente de colheita do cliente, mostrou que a produção dela atingiu 1,8 vezes o da máquina de uma linha.
Em outro comparativo, em que se analisou o comportamento de 5 máquinas CH 950 de um mesmo cliente, é possível ver algumas diferenças. Uma delas, que rodou a safra cheia, chegou à colher 191 mil toneladas acumuladas.
“Vemos que o rendimento muda muito de uma máquina para outra porque depende do ambiente e da experiência e cultura do operador. Quanto a velocidade, podemos ver que a colhedora de duas linhas consegue trabalhar na mesma média de velocidade das máquinas de uma linha. No consumo em litros por tonelada, vemos uma variação grande, porque neste quesito impacta bastante não só a velocidade quanto também a produtividade da cana. Em horas de elevador por horas de motor esse cliente atingiu uma média de 60%, o que é bem positivo”, adiciona Maria Renata.
Para que a máquina colha o dobro de cana, o que a tecnologia propõe, algumas adequações tem de ser realizadas nos canaviais. O consultor especializado em mecanização em cana-de-açúcar afirma que a nova tecnologia de duas linhas encontra as mesmas dificuldades de quando as máquinas de uma linha começaram a trabalhar nos campos de corte manual, que acabaram sendo adequados para melhorar a performance das máquinas (desenhos de linhas, nivelamento, GPS etc).
“Hoje é o que as máquinas de duas linhas estão encontrando e com a experiência os produtores irão se adequar para que consigam colher por duas. O importante é que o equipamento está dimensionado para tal e precisa ser aproveitado. Já ouvimos casos, nestes dois anos, de que se colheu, em 24 h, mais de 4.000 t de cana. Como isso foi feito?”, comenta Graminha.
No entanto, para atingir a alta performance é imprescindível o uso da agricultura de precisão. “Não estamos falando apenas de GPS, estamos falando de conectividade, de monitoramento a distância, de automação de parâmetros operacionais, de integração da atividade desde o planejamento da área, preparo de solo, plantio, tratos culturais e finalmente a colheita de alta performance. Só assim poderemos chegar à automação das máquinas”, conclui Graminha.
Nas próximas semanas, a RPAnews trará detalhes sobre tecnologias de agricultura de precisão que tem feito toda a diferença nos resultados da colheita mecanizada de cana-de-açúcar e que serão aliadas da colhedora de duas linhas.
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