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Como reduzir o custo da colheita de canaviais de baixa produtividade?

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O canavial que ninguém gostaria de ter, mas que todo mundo tem são os que atingem menos de 60 t/ha, não é mesmo? É uma realidade presente no setor. Quase toda usina ou produtor de cana tem uma área de menor densidade ou ainda áreas onde os tiros são curtos, o que dificulta a realização de manobras nos bicos. Em ambas as situações se perde mais do que é preciso em tempo e dinheiro.

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Informações da tese de doutorado do Ângelo Banchi, da empresa Assiste (Impacto da produtividade agrícola e da vida dos equipamentos na produção e no custo da colhedora de cana-de-açúcar, UNICAMP, 2017), que analisou informações de 276 colhedoras ao longo de 4 anos em 8 usinas do Centro-Sul de 2011 a 2015, num canavial de 50 t/ha de produtividade agrícola, revelam que o custo operacional médio só das colhedoras, trazido para 2020 pelo IGP-DI, é de R$ 22,48 reais por tonelada (ou R$ 1.124,10/ha).

A partir de simulação realizada pela RPA Consultoria, considerando que o mesmo canavial de 50 t/ha tivesse cada uma de suas linhas de cana “engordadas” com a cana da linha vizinha, ou seja, trabalhando com o rendimento em horas/hectare de metade daquele canavial original, agora com com produtividade média de 100 t/ha teria – comparando 1,39 hora/ha da linha engordada versus 2,77 hora/ha na linha original -, chegou-se a um custo médio com colhedora de apenas R$ 7,54 por tonelada ou R$ 753,70/ha.

Tecnologia que permite engordar as linhas de cana para colheita reduz o custo só da colhedora em 66,5%. (foto: reprodução)

“Isso implica numa redução do custo da colhedora em incríveis 66,5%!”, afirma Ricardo Pinto. O consultor destaca que é preciso observar que há um custo para a realização da operação de “engordamento de linhas”.

Considerando que hoje é possível terceirizar este serviço pelo custo de R$ 196,24/ha (a soma de R$ 178,00/ha do serviço mais 6 litros de diesel a R$ 3,04/l), a redução total de custo com as colhedoras seria de R$ 174,16 por ha.

Cabe ainda uma importante observação: o custo do Transbordamento da cana, que, segundo o Pecege, na safra 2019/2020 representou 56,72% do custo das colhedoras, também sofre redução ao se trabalhar com as linhas de cana “engordadas”.

Mantendo este índice, haveria uma economia de 50% no custo estimado de R$ 637,59/ha (ou R$ 12,75/t) do Transbordo num canavial de 50 t/ha. Esta fatia representa outra economia, agora de R$ 318,79 por ha.

Portanto, a simulação do emprego do equipamento de “engorda de linhas” num canavial de 50 t/ha de produtividade agrícola sugere ser possível reduzir o custo de CT (colhedora+transbordo) em R$ 492,95 por ha ou R$ 9,86 por t.

Estes cálculos demonstram o ônus de se trabalhar com as atuais colhedoras em canaviais de produtividade muito baixa, em paralelo com a viabilidade de se engordar as linhas para se reduzir custos, mesmo se conhecendo a piora nos índices de impurezas vegetais desta prática.

Agrícola Paraíso reduz até 35% de custos do CT

O produtor de cana Sérgio Paschoal da Agrícola Paraíso, que para a safra 2021/22 fará um plantio de 85 mil toneladas de cana para a usina Cevasa, faz uso do dispositivo engordador de linhas em cerca de 30% de sua colheita.

A tecnologia vem sendo utilizada pelo fornecedor desde a safra 2019/20. De acordo com o produtor, mesmo com todo o planejamento realizado, algumas áreas ficaram sem reforma ou por fatores logísticos ou climáticos. “Sendo assim, a utilização deste equipamento possibilitou a viabilidade de colheita para áreas com TCH menores que 60 t/ha”.

“Utilizamos a tecnologia principalmente para canas com TCH abaixo de 60 t/ha, mas também usamos em algumas áreas onde o rendimento da colhedora cai muito pela quantidade de manobras. Onde há a possibilidade de utilização do equipamento ele é também aproveitado.

Com o uso do dispositivo em canaviais de baixo TCH o produtor computa uma redução de custos entre 25% a 35% em Corte e Transbordamento.

“Como diminuímos o número de linhas que temos de cortar, damos um rendimento maior para a colhedora. A possibilidade de agilizar a colhedora em pontos onde o rendimento da mesma cai para tiros muito curtos a utilização do equipamento ajuda bastante”, afirma Paschoal.

Em bicos de talhão de 20 m a 30 m, a Agrícola Paraíso também faz uso da engordadora de linha, evitando que a colhedora necessite fazer muitas manobras. “Tem uma quantidade de TCH que ela opera bem. Então usamos ela em canaviais de até 75 t/ha para fazer o corte dos bicos”, afirma o produtor.

Da Mata acopla dispositivo direto em uma colhedora de cana

A Usina Da Mata, localizada em Valparaíso, SP, desde a safra 2019/20 faz o uso do dispositivo engordador de linhas. A unidade optou por acoplar o equipamento não a uma carregadora, mas sim a uma colhedora que seria “aposentada”.

“Desmontamos toda a colhedora, elevadores, parte hidráulica e ficou somente o cockpit, as esteiras e as mangueiras para rodar a bomba do engordador. Trabalhamos no ano passado todo com ela e posso dizer que tivemos um ótimo resultado, tanto é que a estamos montando uma segunda colhedora acoplada e quero montar mais duas para rodar na próxima safra 2021/22”, afirma Newton Chucri, superintendente da Usina Da Mata.

Na Usina Da Mata a engordadora de linha vai acoplada a uma colhedora de cana. (Foto: reprodução)

A opção por acoplar em colhedoras, de acordo com ele, é que a máquina tem custo zero. “O motor rodando para transportar o próprio peso, não havendo esforço da parte hidráulica, não tem coisa melhor. É um equipamento obsoleto e depreciado, que pode ser usado para esta finalidade sem custo. Além disso, o operador trabalha em maior conforto dentro da cabine da colhedora.”

A ideia da Usina Da Mata é começar a fazer, além de engorda das ruas de cana, o trabalho nos bicos de talhão, na abertura de eitos, evitando o pisoteio que normalmente acontece quanto é preciso abrir ruas.

“Em ruas de 5, 10 a 15 metros, a gente vai e faz os bicos com a engordadora, o que faz com que a colhedora ganhe mais performance, pois ela perde muito tempo fazendo manobras”, adiciona Chucri.

Apesar de não ter sido possível mensurar a redução de custos em seu CT, o superintendente da Da Mata afirma que a máquina com o dispositivo engordador consome apenas 0,24 litros de diesel por tonelada carregada.

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“Isso é o que nós mensuramos com três conjuntos de caixotes que analisamos. Ela consumiu um determinado volume de diesel e calculamos quantos caminhões foram carregados, assim, chegando neste número. O resultado foi muito efetivo porque demos rendimento para a nossa colhedora a um custo de 0,24 litros por t. E esse ano, como vamos aumentar o uso deste dispositivo, teremos como fazer uma mensuração mais efetiva sobre custos”, completa Chucri.

Os dispositivos vêm sendo usados utilizados também, de acordo com Felix de Castro, diretor da FCN Tecnologias, por unidades de grandes grupos sucroenergéticos tais como Atvos, Grupo Santa Terezinha, BPBunge e Cevasa. Ao todo temos ao redor de uma centena de dispositivos espalhados em sete estados brasileiros e no exterior.

De acordo com ele todos têm, por motivos conjunturais ou estruturais, algumas áreas com canaviais de baixa produtividade.

“Todos têm canaviais de quarto e quinto cortes com TCH que demandariam adensamento para redução de custos de CT. Gastar uma hora e meia a duas horas para preencher um conjunto de transbordo inviabiliza a atividade. É possível melhorar muito os custos destas operações com o uso de tecnologias como esta. O setor está se sensibilizando para a necessidade desta operação. Temos recebido inúmeras solicitações de propostas para prestação de serviços, arrendamento mercantil e aquisição destes tipos de equipamentos”, salienta Castro.

Por: Natália Cherubin 

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