Edição 183
Conjuntura – Nordeste inicia a todo vapor: o que esperar desta safra?
O ciclo 2016/17 pode significar o começo de uma retomada para a região do Nordeste, que deverá produzir 54 milhões de t de cana-de-açúcar
Natália Cherubin
As usinas sucroenergéticas nordestinas estão se preparando para uma safra que aponta para o começo da recuperação do setor na região. Iniciada oficialmente no mês de setembro, as perspectivas são positivas e de aumento de moagem, que deverá atingir, segundo a Datagro, a 53,5 milhões de t de cana, podendo chegar as 54 milhões de t, de acordo os sindicatos da região.
Entre agosto e setembro, o desenvolvimento da cana-de-açúcar foi beneficiado com o aumento das chuvas. E mesmo com a perspectiva de uma produção com aumento satisfatório, se comparada a última temporada, ela não deve chegar aos níveis alcançados no ciclo 2014/15.
Na safra 2016/17, o setor sucroenergético nordestino terá em funcionamento 73 unidades produtoras, sete a mais do que na última safra. De acordo com Alexandre Lima, presidente da Unida e da Feplana (União Nordestina dos Produtores de Cana e Federação dos Plantadores de Cana do Brasil), a colheita na região será maior porquê no mês de julho houve uma ótima distribuição das chuvas.
“Houve uma excelente distribuição das chuvas de dezembro até meados de junho, embora nesse último mês de julho, período tradicional de bom volume pluviométrico, choveu apenas 10% da sua média histórica. A previsão é de ter também uma produção de açúcar maior que a do ano anterior, face a melhora dos preços do adoçante. Deveremos produzir cerca de 3,3 milhões de t de açúcar. ”
Já o etanol, segundo projeções de Renato Cunha, presidente do Sindaçúcar-PE (Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco), deverá bater 1,95 bilhão de l na safra nordestina de 2016/17.
Mesmo com o aumento de produção de cana, o volume ainda deverá ficar aquém do total processado na temporada 2014/15, que chegou a 61 milhões de t de cana. “O ideal seria que o regime de chuvas estivesse associado a um melhor nível de capitalização para que fosse possível investir mais em adubação e tratos culturais”, afirma Cunha.
Em Pernambuco a moagem deverá atingir 13,5 milhões de t de cana, ainda como reflexo da seca ocasionada pelo El Niño entre 2014 e 2015. O perfil do Estado, num volume do ponto de maturidade, gravita entre 17 a 19 milhões de t. “Estamos, portanto, abaixo do que podemos produzir, operando com capacidade ociosa.”
A estimativa é passar de 820 mil t de açúcar da safra 2015/16 para uma produção entre 950 mil t e 1 milhão de t na safra 2016/17. “Já a produção de etanol deverá ser de 310 milhões de l na safra 2016/17, 10 milhões a mais do que a safra passada, na qual foram produzidos 300 milhões de l.”
Pedro Robério, presidente do Sindaçúcar Alagoas (Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool do Estado de Alagoas), conta que pelo menos para sua região, a safra não significará uma retomada. “Na minha opinião, essa safra poderá apenas significar uma paralisação da queda de produção de cana. Decorrente da situação econômica que estamos vivenciando, acreditamos não ser possível quaisquer investimentos, salvo uma retomada lenta da renovação de canaviais, caso se consolide um financiamento externo e de longo prazo, que está sendo negociado pelas empresas exportadoras da região. ”
HISTÓRICO DASAFRA NORDESTE2012/2013 55,61 milhões de t2013/2014 55,73 milhões de t2014/2015 61,25 milhões de t2015/2016 49,07 milhões de t2016/2017 (estimativa) 54 milhões de tFonte: Sindaçúcar-PE |
Francisco Celestino, superintende Agrícola da Agrovale, unidade localizada em Juazeiro, BA, que já iniciou sua moagem, também acredita que a retomada para o setor deverá acontecer somente na próxima safra. “Não será uma retomada para a região, continuaremos em fluxo normal. Há necessidades e possibilidades de investimentos só a partir de 2017. Neste ano de 2016 trabalharemos com contenção total de custos, fazendo somente o estritamente necessário para funcionamento do negócio”, afirma.
Para Cunha haverá uma tímida retomada. “Mesmo que não tenhamos chegado aos mais de 60 milhões de t, o fato de crescer de 49 milhões para 54 milhões de t na moagem de cana, começa a sinalizar que talvez cheguemos novamente ao patamar que nos dá mais equilíbrio.”
Cunha adiciona que a sinalização de uma melhora na produção faz com que a contenção de gastos com novas tecnologias seja deixada de lado e novos investimentos em equipamentos de bioeletricidade sejam retomados. “No campo teremos investimentos em genética e na mecanização do corte, mas o setor ainda precisa de umas três safras com preços melhores para se capitalizar. ”
Lima parece estar mais otimista e afirma que após cinco anos trabalhando no vermelho os produtores estão mais otimistas com os preços deste ano para o açúcar e do etanol. “Será um ano de recuperação, de pagar passivos dos anos anteriores e depois investir. ”
CLIMA SERÁ BENÉFICO
O principal responsável pela melhora é o clima, que já havia sido apontada por uma série de consultorias nos últimos meses como benéfico para a produção de cana. A INTL FC Stone, em estudo sobre como o La Niña influenciará a safra brasileira, indicou que o Nordeste, diretamente afetado pelo El Niño, verá no La Niña um impacto mais definido e positivo. Segundo Lima, o prognóstico é de que o clima afete positivamente os estados do Rio Grande do Norte, Pernambuco e Alagoas. “Nestes locais teremos aumento de safra”.
Já nos estados de Sergipe e extremo Sul da Bahia, poderá haver redução significativa de até 60% na produção. “Em Pernambuco e Alagoas, onde temos a maior produção, a safra será maior em cerca de 3 milhões de t de cana”.
“Os aspectos climáticos apresentaram chuvas imprevistas na colheita do Centro-Sul que, imagino, não devem diminuir as expectativas de safra, apesar de acarretarem mais custos desnecessários. As chuvas mais adequadas no atual inverno do Nordeste, depois das secas intensas nos últimos três anos-safra, deverão propiciar uma certa recuperação, com crescimento em torno de 12% em relação à safra 2015/16. O mês de julho não teve uma boa precipitação hídrica o que pode conter um crescimento além de 12%”, explica Cunha.
DIVERSIFICAÇÃO E OTIMIZAÇÃO DOS PROCESSOS PRODUTIVOS
O setor nordestino tem como grande desafio quebrar paradigmas. Esta é a opinião do superintendente Agrícola da Agrovale, que afirma que o setor da região precisa fazer diferente, pensar de outra forma e procurar diminuir as dependências de clima e as dependências financeiras, e diversificar mais para reduzir os custos de produção, alterando a escala convencional.
“É necessário otimizar os processos produtivos e ser mais previsível no ponto formação de ativo biológico e gestão do negócio como um todo, pois o modelo atual não resiste mais a tantos fatores de riscos e contrapontos, como baixos preços dos produtos e crescimento de custos de produção, sem apoio político ou outra forma de viabilização da atividade. ”
Para Cunha, no momento, o grande engajamento dos produtores está na busca por medidas estruturantes. Isso inclui políticas de estímulo, manutenção da competitividade tributária e previsibilidade mercadológica.“No segmento de energia automotiva, a definição de regras claras e previsíveis para o etanol é um dos principais pleitos do setor, tanto no Nordeste, quanto em todo o país. Precisamos que o etanol, um combustível limpo e que atende aos compromissos do Brasil com a COP 21, tenha uma política diferenciada, coerente com o bônus ambiental gerado.”
Na energia elétrica, o Nordeste tem um grande potencial para a produção bioeletricidade, com as térmicas de biomassa da cana. “Temos conversado com o Ministério das Minas e Energia sobre uma política adequada para a bioeletricidade que poderia vir a incrementar a geração. Ainda operamos muito abaixo do que podemos produzir e o ministro Fernando Bezerra Filho tem se mostrado muito sensível a esta questão. Quem sabe o ministério não estrutura, dentre outros programas para fontes renováveis, um para a biomassa? Estamos aguardando”, finaliza Cunha.
HISTÓRICO DASAFRA NORDESTE2012/2013 55,61 milhões de t2013/2014 55,73 milhões de t2014/2015 61,25 milhões de t2015/2016 49,07 milhões de t2016/2017 (estimativa) 54 milhões de tFonte: Sindaçúcar-PE |