Indústria
Coronavírus faz venda de combustíveis despencar 35%
Sem levar filhos para escola, sem ir à academia e, muitas vezes, trabalhando dentro da própria casa, o tanque de combustível está durando mais. O que para o consumidor é sinônimo de economia, para os postos é prejuízo. Todos os combustíveis tiveram queda nas vendas no primeiro semestre. Em Minas Gerais, segundo dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a redução foi de aproximadamente 3% para o diesel, 7% para a gasolina e 15,5% para o etanol.
Mas, de acordo com representantes do setor, as reduções foram muito maiores. “Na média, a venda desses três produtos juntos caiu 35%”, afirma o presidente da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis), Paulo Miranda.
A estimativa é feita com base em dados das operações realizadas com cartões de crédito e débito. “Na maioria dos postos, os cartões representam de 50% a 60% dos pagamentos. E esse volume de transações caiu 35%”, justifica Miranda, lembrando que a queda é muito maior nos centros urbanos. “Em cidades como Belo Horizonte, Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro, a queda chegou a 70% bem no começo do isolamento”, lembra.
O presidente do Sindicato do Comércio Varejista dos Derivados de Petróleo do Estado de Minas Gerais (Minaspetro), Carlos Guimarães, explica que os postos das capitais têm perdas maiores do que aqueles localizados no interior e ao longo de rodovias. “Hoje, os postos da região metropolitana de Belo Horizonte trabalham com vendas entre 30% e 40% menores, mas já chegaram a queda de 50%. Nas rodovias, eles perdem menos porque têm maior venda de diesel, pois os caminhões continuam transportando produtos”, avalia Guimarães. Segundo a ANP, as vendas do diesel em Minas, no primeiro semestre, caíram duas vezes menos do que as da gasolina e cinco vezes menos do que as do etanol.
Dentro de Belo Horizonte, Guimarães observa que também há desigualdade no ritmo de perdas. “Em média, a queda está em 30%, mas, na região Centro-Sul, é ainda maior e chega a 50%, por causa das escolas fechadas e da maior quantidade de profissionais que têm a opção de trabalhar em casa. Nos postos das periferias, onde as pessoas continuam tendo que sair para trabalhar, a queda nas vendas é menor”, analisa.
Demissões e investimentos parados
Nos cálculos do presidente do Minaspetro, o setor demitiu cerca de 30% dos funcionários. “Como somos serviço essencial, não tivemos a opção de parar. Mantivemos as operações, mesmo com prejuízo. Os postos deram férias, suspenderam contratos, mas chegou um ponto em que o setor teve que reduzir a mão de obra”, lamenta.
Com os impactos, investimentos foram paralisados. “Tem posto que ficou pronto, mas está esperando a pandemia passar para ser inaugurado. Sem falar que a parte de emissão de licenças e alvarás também está parada”, destaca Guimarães.
Etanol enfrenta a Covid-19 e a perda de competitividade
Depois de três anos de consumo em alta, o etanol tem sofrido duas vezes mais os impactos da pandemia do que a gasolina. Segundo dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP), enquanto as vendas de gasolina caíram 7,4% em Minas, no primeiro semestre, o álcool sofreu redução de 15,5%.
Mário Campos, presidente da associação do setor (Siamig), explica que, além da queda na circulação, o setor enfrentou outros desafios. “A Covid-19 provocou um choque de demanda, mas o etanol também perdeu competitividade em relação à gasolina, que teve várias reduções de preço. Em junho de 2019, a gente tinha 40% do mercado. Em junho deste ano, estávamos com 34%”, compara. É que, quando a gasolina fica mais barata, atrai os consumidores.
Segundo Campos, a situação deve mudar com os recentes aumentos da gasolina. “Em abril, as vendas caíram 31%. Em maio, 26%, e, em junho, 20%. Até o fim de 2020, devemos estar com volumes parecidos com os do ano passado”, avalia.
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