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Entenda como o Coronavírus pode IMPACTAR o setor canavieiro 

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Apesar do momento complicado que o setor sucroenergético vive, com a queda dos preços e da demanda pelo etanol, a expectativa é que ações como a retirada do Pis/Cofins, a volta da Cide, o financiamento de estocagem, e depois disso, o retorno das atividades do país, serão capazes de tirar o setor da dificuldade em que ele se encontra hoje. Essa é a opinião de Alexandre Mendonça de Barros, sócio e consultor da MB Agro.

O anúncio do primeiro caso do Coronavírus (Covid-19) no Brasil, já presente em vários países do mundo, tem causado tumulto no mercado financeiro. O dólar, que já havia batido a casa dos quatro reais, agora chega perto dos cinco.

Tal fato representa um recorde desde a criação da moeda, com o Plano Real. Agora, a tendência é que a situação ainda piore um pouco, enquanto a epidemia no mundo não está totalmente controlada. Mas como isso afeta diretamente o setor sucroenergético?

Para Ricardo Pinto, sócio-diretor da RPA Consultoria, o Coronavírus causa dois tipos de efeito. O primeiro é geral (de toda a economia global) e o segundo é específico na cadeia produtiva de açúcar e etanol.

Como efeito geral, ele acredita que as economias estão e continuarão sofrendo um baque, uma queda. Isso influencia negativamente todos os negócios, inclusive no setor canavieiro, diminuindo transações. Porém, no caso dos produtos açúcar e etanol, há dois efeitos específicos diferentes.

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“No açúcar haverá um crescente enclausuramento de famílias nas suas casas, armazenando gêneros de primeira necessidade. Sem falar na provável redução de trabalho nas usinas açucareiras asiáticas”, relata.

Ricardo Pinto diz que se surgir cura do Coronavírus com uma nova vacina, os negócios e a vida voltam ao normal e os efeitos acima não se concretizam

Com isso, os preços do açúcar poderão subir mais fortemente do que vem ocorrendo nos últimos meses. Já no caso do etanol, como haverá menor mobilidade no mundo, o consumo de petróleo se reduzirá, o que fará com que seus preços caiam em função da redução da demanda.

“Com o preço do petróleo caindo, cai no Brasil o preço da gasolina, que pode levar junto o preço do etanol”, adiciona Ricardo Pinto.

Mesmo assim, ele lembra que estes efeitos vão se consolidando conforme haja a disseminação do Coronavírus. “Se houver a cura e/ou a prevenção do mesmo com uma nova vacina, daí os negócios e a vida voltam ao normal e os efeitos acima não se concretizam”, observa.

João Henrique de Lima Rissi, consultor da FG/A, acredita que o impacto mais relevante até o momento é sobre o preço do petróleo, devido a expectativa de menor atividade econômica mundial, que impacta diretamente no preço da gasolina A e por consequência no etanol.

Na última semana, apesar do real ter desvalorizado cerca de 3%, o petróleo teve queda em suas cotações de 15%. Assim, se mantido esse cenário, a Petrobrás deverá reduzir em mais de 10% o valor da gasolina A no mercado interno, tendo como base cotações de 28/02. O açúcar, por sua vez, com as expectativas de menor demanda dado a redução da atividade econômica com o Coronavírus, também está sofrendo retração de preços. A tela mais curta do açúcar já teve uma queda de 7% nessa semana.

Contudo, de acordo com Rissi, as quedas foram mais significativas nos preços futuros de curto prazo (3 a 6 meses). No mercado futuro mais longo (final 2020 ou 2021) tanto petróleo como açúcar, considerando preços em Reais, as quedas foram menos significativas (3% a 8%).

“A grande questão é qual a extensão desses efeitos, dado a impossibilidade de prever o quanto o Coronavírus irá se disseminar ao redor do mundo. Enquanto o cenário for de expansão do vírus, devemos seguir tendo deterioração em preços. Por outro lado, os países estão encarando com seriedade o problema e diversos grandes laboratórios estão avançando nas pesquisas de vacinas. Assim que houver algum desses gatilhos o cenário deve se acalmar e os preços devem se recuperar”, afirma Rissi.

Câmbio é vetor de salvação

O Pecege (Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas) da Esalq/USP, que havia feito uma projeção bastante positiva para o setor sucroenergético na safra 2020/21, mesmo diante do Coronavírus e seus impactos na economia, aposta em um bom ano para o setor.

Haroldo José Torres da Silva, doutor em Economia Aplicada pela Esalq/USP em levantamento do Pecege, diz que o cenário que se desenha não é tão negativo.

“Com o Coronavírus o que a gente cria no mercado internacional é a volatilidade. E essa volatilidade faz com que os investidores fujam para ativos mais seguros. Ou seja, isso fortalece o processo de desvalorização cambial, que na realidade é um ponto interessante para o setor sucroenergético. Esse é o ponto positivo: câmbio”, opina Torres.

O ponto negativo, segundo ele, é que a tendência é se ter um arrefecimento pela demanda de commodities em geral. Ontem, 27, por exemplo, o preço do açúcar caiu bastante e o preço do petróleo tem reduzido. “Para o setor o que eu diria é que, ao mesmo tempo em que os preços das commodities vão ser afetadas como açúcar e petróleo, por outro lado o câmbio vai ser o vetor de salvação”, afirma o pesquisador do Pecege.

“Eu não mudaria a questão ainda dos bons ventos. Tudo aponta para a recuperação da produtividade e dos preços que, mesmo que continuem estáveis, serão melhores que os da safra 2019/20”, diz Torres.

De acordo com ele, em termos gerais, neste momento, o Coronavírus faz com que o setor sucroenergético praticamente mantenha uma laterização de preços. Sendo assim, os preços acabam ficando relativamente mais estáveis. “Se antes estávamos pensando num crescimento muito forte de preços, neste momento talvez estaremos falando muito mais em estabilidade”, acrescenta.

A estabilidade, trazida pelo câmbio, vai puxar para cima e o petróleo e o açúcar um pouco para baixo. O açúcar vai para baixo, mas continuará com uma valorização significativa com relação à safra passada.

“Esse é o cenário que se apresenta. Eu não mudaria a questão ainda dos bons ventos. Tudo aponta para a recuperação da produtividade e dos preços que, mesmo que continuem estáveis, serão melhores que os da safra 2019/20. Então ainda aposto em um cenário bastante promissor e positivo para o setor sucroenergético, embora neste começo de safra ainda vá pesar um cenário de preços mais instáveis”, conclui Torres. (Por Natália Cherubin)

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