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Edição 184

Entrevista – Disciplina operacional e financeira

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Natália Cherubin

Atuando como CEO do segundo maior grupo sucroenergético do País – a Biosev – há três anos, Rui Chamas, que antes nunca havia atuado diretamente dentro deste segmento, vem mostrando que a resiliência e a descentralização da gestão podem ser as chaves para o sucesso. O que o motiva? O mesmo que move os colaboradores da companhia: um espírito de conquista, excelência e trabalho em equipe. Espírito que rendeu bons resultados para a Biosev, que na safra 2015/16, alcançou aumento de produtividade e eficiência com base em disciplina financeira e operacional. Confira a entrevista exclusiva com o executivo!

RPAnews – Mesmo em período de dificuldades para o setor sucroenergético no Brasil, a Biosev teve, por dois trimestres, lucro líquido positivo após período de prejuízos. A que você atribui estes resultados positivos para a companhia?

 Rui Chamas – Além da otimização de processos internos, nós atuamos com força na criação de um modelo de gestão mais descentralizado. Com autonomia e responsabilidade, os líderes agroindustriais em cada um de nossos polos e usinas podem tomar decisões rápidas e adaptadas a cada região. Essa atuação é possível graças à expertise da nossa equipe corporativa e sua proximidade com as operações. Os diretores de operações Agrícola, Originação e Competividade, e as suas equipes corporativas, por exemplo, estão instalados em Sertãozinho, SP, ponto mais próximo das operações que a capital paulista. Além da questão da estrutura, dois outros pontos importantes foram foco: maior integração com nossos fornecedores de cana e parceiros, além do desenvolvimento de nossas equipes por meio de um Programa de Gestão de Pessoas e Competências que chamamos de Entrenós.

Como tem sido o desafio de liderar uma companhia tão grande e importante para o setor no Brasil diante de tantas turbulências?

Apesar das turbulências no ambiente macroeconômico e político no Brasil, observamos uma melhora para o setor sucroalcooleiro. Os preços do açúcar tiveram recuperação como reflexo da redução de estoques globais, prevendo-se impacto positivo nas próximas safras. Houve ainda aumento da ordem de 14% na demanda de etanol, combinado a melhores preços, mesmo com a elevação gradual da paridade em relação aos preços da gasolina. O que me motiva é o mesmo que move nossos colaboradores, um espírito de conquista, excelência e trabalho em equipe. O espírito Biosev traduz os resultados: na safra 2015/16, alcançamos aumento da produtividade e da eficiência com base em disciplina financeira e operacional, garantida por pessoas comprometidas em fazer sempre melhor. Não adianta investimento em tecnologia se não valorizamos as pessoas, e na Biosev temos trabalhado fortemente com nosso programa Prisma (de Saúde e Segurança) e o programa Entrenós, dando protagonismo ao colaborador nos processos de evolução de carreira e no crescimento da empresa.

Como você avalia a passagem da Biosev pela crise que mais abalou o setor sucroenergético nos últimos anos?

Nossos resultados mostram que tivemos avanços significativos com uma estratégia baseada na disciplina operacional e financeira. Nosso volume de moagem, por exemplo, totalizou 31 milhões de t na safra 2015/16, um aumento de 9,3% ante o período anterior. Já o nosso ATR (Açúcar Total Recuperado) chegou a 3,95 milhões de t. Aumentamos para 85% a utilização de capacidade instalada na safra 2015/16, sete pontos percentuais a mais que a taxa apresentada no ano anterior. É a primeira vez que essa marca é alcançada na história da Biosev, resultado das iniciativas para otimização dos ativos e máxima eficiência em suas operações.

Fechamos o quarto trimestre da safra 2015/16 com lucro líquido de R$ 50 milhões, contra um prejuízo de R$ 222 milhões em igual período da safra anterior. O resultado marca o segundo trimestre consecutivo de lucro líquido, após ganho de R$ 163 milhões nos três meses até dezembro. Além destes importantes indicadores trabalhamos para melhorar os processos internos da companhia de modo a trazer maior eficácia e produtividade em nossas operações.

Além da reestruturação da governança corporativa, quais foram as inovações que a Biosev implementou, tanto na indústria quanto no campo, a fim de reduzir custos e aumentar a eficiência? 

Entre as iniciativas que adotamos estão a uso de georreferenciamento do canavial, o que favorece e otimiza a automatização do plantio e da colheita, e a utilização de veículos aéreos não tripulados (VANTs) para fins de identificação de falhas no canavial. Na última safra, concluímos o projeto piloto de irrigação por gotejamento no Polo NE, na unidade de Estivas, e com essa tecnologia foi possível aumentar a produtividade e a longevidade do canavial, reduzir os custos de produção por tonelada de cana, e elevar a eficiência no aproveitamento da água e insumos.

Além dessas tecnologias, que já são uma realidade nas nossas atividades, estamos desenvolvendo um projeto piloto de Agricultura de Precisão, cujo objetivo é adequar seus processos às ferramentas de análise, recomendação e aplicação de insumos. As informações georreferenciadas possibilitam a elaboração de mapas para aplicação otimizada em taxa variável, permitindo melhor distribuição e maior controle, além da maior eficiência nos processos agrícolas. Os primeiros testes estão sendo realizados na unidade Santa Elisa para aplicação de corretivos de solo, e na unidade Vale do Rosário para os insumos de plantio através de controladores de vazão nas plantadoras, garantindo assim uniformidade da distribuição.

Outro desenvolvimento tecnológico em andamento é a utilização de mudas pré-brotadas (MPB). A adoção dessa tecnologia garante uma taxa de multiplicação maior quando comparada com o sistema de plantio tradicional devido ao alto vigor dos materiais. Na safra 2015/16, foram plantadas mais de 3 milhões de mudas.

A Biosev tem planejamento de investimentos em canaviais ou indústrias ainda este ano?  

Investimos de forma contínua em linha com nosso Plano de Negócios em todas as áreas e unidades da companhia com muita disciplina e visão de longo prazo.

Como vocês pretendem chegar a cana de 3 dígitos ou pelo menos a ter uma retomada na produtividade dos canaviais?

A otimização e a melhora do resultado de nossos ativos e eficiência das operações já têm refletido em nossos resultados. A produtividade de 3 dígitos não é um objetivo em si. O nosso propósito – que buscamos de forma obstinada – está em capturar o máximo de produtividade em cada ambiente que trabalhamos, a partir da otimização do investimento para alcançar a maior longevidade possível.

Além de açúcar, etanol e energia, a Biosev também atua no mercado de nutrição animal. Como está este mercado para a Companhia?

 É um segmento importante para nós, sendo que somos referência na integração cana e pecuária. Apenas para ilustrar, em 2015 produzimos ração para alimentar 40 mil cabeças de bovinos de parceiros e fornecedores do Estado de São Paulo e Minas Gerais. A produção de ração de bagaço de cana traz inúmeras vantagens.  Diversificamos a propriedade rural e fortalecemos nossa parceria com produtores de cana que também tenham gado.

A ração, que é produzida a partir de subprodutos do processo de extração de açúcar e etanol da cana-de-açúcar – principalmente bagaço de cana, melaço e levedura – possui eficiência equivalente ou até melhor que a das tradicionais. Além disso, comprando o alimento que fabricamos a preço competitivo, os produtores não precisam produzir internamente a forragem para seus animais. Isso elimina os gastos com instalação e manutenção de silos e com a mão de obra necessária para operar esses equipamentos. Outro diferencial é que na busca por fornecedores de cana, a possibilidade de oferecer a ração agrega na negociação e fidelização com os produtores que integram o programa “Mais Cana Biosev”, que visa a aproximação da companhia com seus parceiros de cana-de-açúcar e oferece, além da integração cana e pecuária, uma estrutura de atividades como transferência de tecnologia, fornecimento de crédito, acesso a insumos a preços competitivos, entre outros.

Mediante o que a empresa prospecta para a próxima safra e para os próximos anos, o cenário que você enxerga é positivo?

Quando analisamos o mercado estamos positivos com a recuperação do ciclo do açúcar, que já é uma realidade, e satisfeitos em ver o consumidor brasileiro dar preferência ao etanol como combustível. Ao mesmo tempo continuamos acreditando que se faz necessária uma política de longo prazo que deixe claro o papel que se espera do etanol – combustível sustentável – na nossa matriz energética. Quanto à Biosev, estamos confiantes nos resultados a serem alcançados nessa safra e permanecemos concentrados em executar o nosso Plano de Negócios de forma disciplinada.

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