Natália Cherubin
![]() Entrevista exclusiva com João Henrique de Lima Rissi, analista da FG/A sobre a situação das usinas brasileiras e as perspectivas para 2019 |
RPAnews – Como a FG/A enxerga a atual situação das usinas brasileiras? Qual é o atual nível de endividamento das unidades? Como o setor deverá fechar 2018?
João Henrique de Lima Rissi – O setor de açúcar e etanol brasileiro é bastante heterogêneo, assim como algumas empresas apresentam excelência operacional e administrativa, gerando bons resultados mesmo com preços ruins, existem outros grupos passam por sérias dificuldades e encontram-se em situação financeira crítica. Com base em nossa amostra, que conta 57 grupos do Centro-Sul, estimamos que o setor possuía dívida líquida média de R$ 124/t no Março/18, uma redução de 9% em relação ao máximo verificado em nosso histórico (Março/16). A redução de dívida foi mais expressiva nos grupos que já estavam menos alavancados (abaixo de R$ 80/t). Como comparativo, em alguns menos endividados (abaixo de R$ 80/t), a redução de dívida nesse mesmo período chegou a 60%.
A distribuição do indicador dívida líquida/toneladas para a amostra da FG/A mostra que existem grupos com dívida líquida negativa enquanto outros grupos possuem dívida líquida três vezes acima da média. O valor mínimo da amostra é de – 33,6 t/ha e o máximo é de 369,4 t/ha. Para a safra 2018/19, mesmo com a significativa retração de preços do açúcar, alguns grupos conciliarão: (i) despesas financeiras baixas (dívida e juros baixos); (ii) Liquidez e capacidade de armazenagem para comercialização na entressafra; (iii) Mudança significativa do mix para etanol; (iv) Parte da produção de açúcar com preços previamente fixados; (v) Pouca capacidade ociosa, com isso devem apresentar novamente uma redução de dívida ou aumento de investimentos de expansão. Contudo, a maior parte do setor reúne apenas alguns desses fatores e assim deverão apresentar um pequeno aumento da alavancagem. Alguns grupos não usufruem de nenhum desses fatores atenuantes citados, dessa forma há a possibilidade de mais empresas entrarem em default.
Quais deverão ser os impactos do encolhimento da safra/moagem 2018/19? Por conta disso poderemos ter preços melhores em 2019?
Mesmo com a redução de 8 milhões de t de açúcar no Brasil, os preços não devem reagir de maneira relevante devido a alta produção de outros players mundiais, resultando em mais de um ano de superávit no balanço mundial de açúcar. Além disso, os altos estoques, reflexo de superávits em anos anteriores, inibem uma recuperação mais rápida dos preços. O etanol, por sua vez, com a paridade da gasolina nacional com o mercado internacional, estabelecida após nova política da Petrobras, vem atingindo preços remuneradores. Contudo, entendemos que o mercado ainda não precificou uma retração maior ainda na produção de açúcar esperada na safra 2019/20 brasileira e também em países que expandiram produção quando açúcar alcançou 24 cts/lp.
As empresas têm conseguido refinanciar suas dívidas?
Levando em conta a diversidade do setor, boa parte dos grupos conseguem refinanciar as suas dívidas, sendo que para um grupo seleto de empresas há crédito farto com baixo custo e linhas de financiamento de longo prazo. Por outro lado, há um nicho de empresas que dado seu elevado endividamento, baixas perspectivas de desalavancagem e baixa disponibilidade de garantias estão passando por sérias dificuldades para refinanciamento de suas dívidas. Nesses casos, alternativas como liquidação de ativos existentes ou diminuição dos investimentos necessários para manutenção operacional serão consideradas.
Deveremos ter fusões ou aquisições a partir do ano que vem?
As fusões e aquisições ocorridas no setor nos últimos três anos foram basicamente de ativos que encontravam-se estressados (default/recuperação judicial) ou em casos de aquisição de matéria-prima (canavial), como no caso da Usina Furlan com Raízen e São Martinho, que a FG/A assessorou. A medida que políticas como a manutenção de preços da gasolina equiparadas com a internacional e o RenovaBio são mantidas e melhoradas, pode acontecer nova atração de capital para o setor. Contudo, nesse momento ela ainda é muito pequena.
Quais alternativas as usinas têm buscado para melhorar sua rentabilidade? Aumentar o mix de produção para etanol tem sido uma boa alternativa?
Além do aumento em mix para etanol, os grupos buscam alternativas para melhorar rentabilidade do seu negócio como: Eficiência Energética (Cogeração), trazendo um produto adicional que geralmente é transacionado em contratos de longo prazo, reduzindo a volatilidade do fluxo de caixa das usinas; Investimentos em canavial visando maior produtividade e longevidade (consequente redução de custos), além de ocupação da capacidade ociosa da indústria, diluindo custos fixos; Tancagem, possibilitando que as usinas realizem o carrego do etanol para venda no período de entressafra. Os preços médios das companhias com capacidade de estocagem podem chegar superar à média da Esalq em 10% nessa safra; Investimentos em tecnologia de gestão, tais como monitoramento de frota, utilização de drones para mapeamento de falhas de soqueiras pontuais e tantas outras alternativas vem propiciando maior eficiência e redução de custos para as empresas do setor.