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Ester Agroindustrial aponta clima, política, alta de insumos e taxas de juros como causas para o pedido de RJ
Em pedido de Recuperação Judicial, companhia explica que o excesso de endividamento, a perda de competitividade do etanol, o aumento nos custos operacionais e baixa lucratividade comprometeram a capacidade da companhia honrar seus compromissos financeiros
Seca extrema, política de preços de combustíveis, pandemia, alta dos preços dos insumos e aumento nas taxas de juros de investimentos feitos pela companhia, foram apontados como os principais motivos para ao pedido de Recuperação Judicial da Ester Agroindustrial, produtora de etanol, açúcar e bioenergia na região de Cosmópolis, SP, divulgado ontem, 11.
“A medida se faz necessária para a reorganização financeira da companhia, que teve suas condições de liquidez de curto prazo afetadas por dois fatores: a seca recente, que provocou perda relevante de produção em toda a região, e a acentuada elevação dos juros no país, que encareceu o custo de financiamento às empresas”, informou a companhia em nota.
No documento do Pedido de Recuperação Judicial protocolado, ao qual a RPAnews teve acesso, a companhia destacou que o setor vem passando por crises sucessivas ao longo dos últimos 15 anos, motivadas por fatores climáticos, econômicos e políticos. A partir do ano de 2010, com as safras foram prejudicadas por graves secas na região, a companhia afirma que houve maior demanda por investimentos para a manutenção da produtividade do canavial, gerando, por consequência, o crescente endividamento.
“Com o avanço da inflação, o Governo Federal adotou diversas medidas de contenção dos preços de distribuição da gasolina praticados pela Petrobrás, mantendo-o em patamar extremamente baixo se comparado aos preços internacionais. Isso teve um único significado: a conta, por muito tempo, não fechou – o que, infelizmente, não foi exceção para as Requerentes. O preço final de venda não está relacionado aos custos do produto, mas sim ao preço da gasolina que foi controlado politicamente pelo governo. Assim, apenas sobrevivem aquelas empresas que estão mais capitalizadas para suportar os períodos de preço baixo”, disse a companhia em pedido de RJ.
Em 2018, a Ester Agroindustrial, em conjunto com seus maiores credores, negociou a reestruturação de seu endividamento bancário por meio de expressivo alongamento dos prazos de pagamento. Naquela ocasião, com o seu passivo financeiro devidamente readequado e alongado, a companhia acreditava ter alcançado a condição financeira que permitiria honrar com os compromissos assumidos com as instituições financeiras e manter-se sustentável do ponto de vista operacional e econômico.
O que se notou nos anos subsequentes, no entanto, foi uma sequência de novas crises que não permitiram que a Usina Ester executasse o plano de negócios desenhado em 2018. Dentre os fatores, a companhia destacou a pandemia da Covid-19, que desencadeou uma onda de desvalorização da moeda nacional em relação ao dólar – aumentando ainda mais o endividamento da companhia. Mais recentemente, a guerra entre a Ucrânia e a Rússia, também é apontada pela companhia como um fator que afetou fortemente, pois impactou os preços dos insumos agrícolas. A vigência temporária de medida provisória que desonerou os impostos federais que incidem sobre os combustíveis e a ocorrência de forte geada que comprometeu, drasticamente, a safra 2021/2022, também justificam a situação da Usina Ester.
“Nesse cenário, lamentavelmente, a fragilidade financeira se tornou ainda mais evidente diante do aumento do custo de suas lavouras, em razão da necessidade de investimento para aumentar a produtividade do canavial, abalada por condições climáticas severas”, disse a companhia em documento.
A situação, somada à necessidade de grandes investimentos indispensáveis ao cultivo e manutenção do canavial, fez com que a Ester se sujeitasse à necessidade de se alavancar cada vez mais, em um mercado de altas taxas de juros e sujeito a variações cambiais que desequilibraram os seus resultados.
“A esta altura, a taxa Selic, que estava em 6,50% ao ano em 2018, quando as Requerentes haviam repactuado os seus passivos financeiros, havia alcançado o atual patamar de 13,75% ao ano, resultando em custos financeiros insustentáveis e superiores à sua capacidade de geração de caixa”, afirmou a companhia.
A escassez de chuvas durante o período de desenvolvimento da cultura da cana-de-açúcar e a geada, que sob o ponto de vista agronômico é um fenômeno que provoca a morte de plantas, por meio do congelamento dos tecidos vegetais, acarretou a perda considerável da produtividade da usina, em razão da diminuição exponencial do ATR (Açúcar Total Recuperável).
“O excesso de endividamento, a perda de competitividade do etanol, o aumento nos custos operacionais e baixa lucratividade comprometeram a capacidade da companhia honrar seus compromissos financeiros conforme pactuados. Para agravar ainda mais a situação, nos últimos meses as Requerentes passaram a sofrer diversas ameaças por parte de seus principais credores –cuja maioria é composta por grandes instituições financeiras –, que, no anseio de lhes
compelir a aderir à uma negociação excessivamente onerosa e desequilibrada, ameaçam dar início a execuções e medidas constritivas milionárias contra o seu patrimônio”, afirmou a Ester.
Com o pedido de RJ, a companhia espera agora estabelecer um ambiente de negociação equilibrado com a sua coletividade de credores, para garantir a continuidade de sua atividade empresarial e, por conseguinte, manter os postos de trabalho. Hoje, a Ester Agroindustrial emprega cerca de mil pessoas.
“Tão rápida quanto o processo jurídico permitir. É nosso compromisso retomar o caminho que temos trilhado em 125 anos de história: a geração de empregos, de oportunidades para fornecedores e parceiros e a criação de riqueza para a toda a região”, afirmou a companhia em nota divulgada ontem, 11.
Em entrevista à RPAnews, o CEO da Ester Agroindustrial, Thiago Sousa Barros dos Santos, afirmou que a companhia não está com um plano de recuperação definitivo, mas que deve vender ativos com o objetivo de reduzir o endividamento. Ele ainda disse que a expectativa para a moagem da safra 2023/24 é de 1,9 milhões de toneladas, quase 200 mil toneladas a mais do que a safra anterior, quando a usina moeu 1,7 milhões de toneladas.
“Nas últimas safras a Ester moeu 1,7 milhões de t e nossa capacidade é próxima de 2 milhões de t. Neste período as chuvas foram 30% abaixo e ocorreram três fortes geadas”, disse à RPAnews.
Historia da Usina
A Usina Açucareira Ester foi fundada em 2 de março de 1898, por Arthur Nogueira, Paulo de Almeida Nogueira, José Paulino Nogueira, Sidrack Nogueira e Antonio Carlos Silva Telle e é uma das mais antigas e respeitadas usinas de açúcar do Estado de São Paulo em atividade.
Ao longo de sua trajetória de mais de 125 a Usina Ester se tornou notável no cenário agroindustrial pela excelência na
produção de etanol neutro hidratado, atendendo empresas dos ramos farmacêutico, de bebidas, de perfumaria e cosmética e de medicamentos; etanol industrial hidratado, atendendo às empresas químicas; etanol combustível; destilado alcoólico simples, destinado à produção de bebidas; açúcar VHP, e açúcar cristal branco, utilizado para consumo direto por seus consumidores.
Natália Cherubin para RPAnews