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Edição 206

Executivo – Pé no campo, pé na estrada

Publicado

em

Francisco Antônio de Laurentiis Filho

Naturalidade – Guarulhos, SP

Idade – 61 anos

Estado civil – Casado com Marlise e paide dois filhos

Formação – Engenheiro Civil

pela Escola de Engenharia de São Carlos – USP

Hobby

Viajar de carro

Alisson Henrique

Não há estradas que eu não queira percorrer. Nem madrugadas que eu não possa atravessar”. Esse trecho da música de Sá e Garabyra descreve um pouco a personalidade do executivo deste mês: Francisco Antônio de Laurentiis Filho, o Fito, um produtor de cana apaixonado por viagens e, principalmente, pela estrada.

Fito: “Minha paixão é a estrada. Nos últimos 20 anos, reservei o mês de dezembro para conhecer, sempre por via rodoviária, nosso país e os vizinhos da América do Sul. Nos 12 primeiros anos, eu contava com a participação da minha esposa e os dois filhos, mas depois os meninos não puderam mais acompanhar os 30 dias que os percursos exigiam.”

A cana-de-açúcar entrou na vida de Fito por conta dos pais que, apesar de nascerem na capital, São Paulo, foram criados no interior do Estado. Ela, mãe, filha de médico, da cidade de Jaú e ele, pai, filho de imigrante italiano, de Guariba, SP. “Meu pai era engenheiro civil e trabalhava com infraestrutura e construção na Capital e no Vale do Paraíba. Ele sempre optou por direcionar os seus ganhos para a atividade agropecuária e assim começou o contato da família com o setor”, conta.

Foi durante a graduação em Engenharia Civil na USP de São Carlos, em 1980, que Fito começou a criar maiores vínculos com a vida do interior. Assim que se formou, teve uma experiência na área da engenharia e, a partir de ١٩٨٨, passou a montar uma estrutura para fornecimento de cana-de-açúcar. “Desde o começo da atividade fui montando uma estrutura para fornecer cana queimada na esteira da usina. A partir de ٢٠٠٧ essa estrutura passou gradativamente para o formato atual de colheita mecanizada de cana crua, em um trabalho que contou com a ajuda do meu irmão Antônio, mais conhecido como Dido, que é engenheiro agrônomo.”

Atualmente, sua produção fica entre os municípios de Guariba, Motuca e Rincão, todas no interior de São Paulo. A princípio, a cana era direcionada para a Usina Santa Luiza, de Motuca. No entanto, com a incorporação dessa usina pelos grupos São Martinho, Cosan e Santa Cruz, a matéria-prima foi dividida e hoje segue para as unidades industriais pertencentes a essas empresas.

CANA TERÁ DESAFIOS EM 2019

Mesmo com uma média de produtividade que gira em torno das 83 t/ha, Fito afirma que vem adotando novas tecnologias para tentar alcançar melhores resultados em TCH. No entanto, ele destaca que as previsões de produtividade são baixas para a safra 2019/20 devido a fatores climáticos e as dificuldades para investimento na cultura nos últimos anos. Durante a entressafra a propriedade produz soja em rotação com a cana e, além da cultura, o produtor também pratica pecuária no Mato Grosso do Sul. “A pecuária é um negócio à parte, e o interesse por essa atividade no Estado do MS se iniciou no final da década de 80”, explica.

É consenso entre os produtores de cana que o maior desafio tem sido sobreviver e ser remunerado pela atividade. Apesar das dificuldades, na opinião de Fito, deve haver uma melhora na remuneração a partir de 2019. “Este é o principal desafio para os produtores. Tantos anos sem remuneração leva embora a confiança e desestimula a cadeia de negócio. Muitos produtores estão deixando ou pensando em deixar a atividade, enquanto que não há praticamente ninguém interessado em entrar neste ramo. Caso essa situação demore a se reverter, o setor corre o risco da ruptura, perdendo muitos anos de experiência acumulada através das gerações”, alerta.

Ainda de acordo com ele, muitos só continuam no negócio por conta da inércia e que, diferente de anos atrás, hoje é raro encontrar pessoas que desejam colocar seus herdeiros nos negócios. “É difícil encontrar alguém que deseje introduzir seus sucessores em uma atividade com tantos riscos e pouca recompensa. O modelo Consecana surgiu como resposta ao vácuo criado a partir do final da intervenção nos preços pelo Governo Federal, e isso ocorreu há mais de 20 anos. Para se ter uma ideia do tempo, nessa época a França foi campeã da Copa pela primeira vez, nosso treinador era o Zagallo, e o Aldair fez dupla de zaga com o Júnior Baiano na seleção. Digo isso para deixar evidente que é impossível que este instrumento, que foi tão importante quando foi implantado, não precise ser repensado e atualizado.”

Fito confessa que tem sido complicado fazer investimentos e que este fato já vem se arrastando há alguns anos por conta da falta de recursos, confiança e perspectiva

Fito confessa que tem sido complicado fazer investimentos, e que este fato já vem se arrastando há alguns anos por conta da falta de recursos, confiança e perspectiva. “Mesmo com tantas coisas jogando contra o Brasil, insistimos em ser altamente competitivos na produção de cana-de-açúcar. Todavia, a atual tendência dos preços do petróleo e os subsídios na produção de açúcar de alguns importantes países produtores jogam água fria num possível otimismo em relação a 2019.”

Além de agricultor, ele também participa de associações e cooperativas desde que começou a atuar mais forte no setor. “Considero-as essenciais para a permanência na atividade. Nessa trajetória, participo dos conselhos da Socicana, Coopecredi, ABAG-RP e Coplana. Na Coplana fui presidente por dois mandatos e tenho a satisfação de ter feito parte do grupo que introduziu os conceitos de governança corporativa que tornaram essa cooperativa destacada e reconhecida”, afirma.

PÉ NA ESTRADA

Casado com Marlise e pai de dois filhos, o mais velho, jornalista, e o caçula, publicitário e cozinheiro, Fito conta que divide o tempo e a rotina entre a gerência da sua atividade e a demanda das entidades em que participa como conselheiro. Ele conta que a impressão é que sempre falta tempo para as suas atividades, mas procura sempre dar a melhor contribuição que pode.

Agora, quando o assunto é prazeres da vida, quem conhece o Fito sabe. O negócio dele é a estrada. “Posso dizer, sem medo de errar, que minha paixão é a estrada. Nos últimos 20 anos, reservei o mês de dezembro para conhecer, sempre por via rodoviária, nosso país e os vizinhos da América do Sul. Nos 12 primeiros anos, eu contava com a participação da minha esposa e dos dois filhos, mas depois os meninos não puderam mais acompanhar os 30 dias que os percursos exigiam”, explica.

Hoje, ele e Marlise se aventuram pelas estradas do país a fora. O roteiro sempre é resolvido de última hora. Certa vez, passando por Mato Grosso, depois de uma conversa com um casal que encontrou por lá, Fito conta que ele e sua mulher alteraram completamente sua rota. “Viagens são sempre surpreendentes. Em Nobres, no MS, eu e minha mulher trocamos uma repetida viagem ao Peru via Acre pelo desafio de chegar ao litoral da Venezuela por Roraima. Essas viagens, que a gente abre mão da programação, fazem parte e valem muito a pena.”

Faz parte ficar mais alguns dias em locais que surpreenderam ou ainda gastar dias com algum contratempo. “No último roteiro ficamos no Brasil para conhecer a Transamazônica de Santarém até Marabá e voltamos com a sensação que, nos mapas do Brasil e da América do Sul, não temos mais muita coisa para desbravar. Talvez esteja chegando a hora de planejar o sonho de chegar ao Alasca em uma viagem de um ano”, revela o aventureiro.

Fito leva a vida como diz um trecho do livro “Mar sem Fim”, do navegador e escritor brasileiro Amyr Klink que diz que um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar a arrogância que o faz ver o mundo como ele imagina, e não simplesmente como é ou pode ser. 

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