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Edição 186

MPB + meiosi ou cantosi

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Muito além de garantir a sanidade das mudas e a alta taxa de multiplicação de variedades, a associação de MPB aos sistemas meiosi e cantosi tem trazido redução de custos de plantio e de mudas por hectare

Natália Cherubin

A necessidade em se fazer uma rápida expansão no plantio de cana e depois a crise econômica, levou muitas usinas e fornecedores a expandirem suas áreas de plantio sem os cuidados básicos, e também a reduzirem investimentos em seus canaviais. As áreas de plantio não cresceram ancorados nos cuidados básicos de fundação de canaviais e o cuidado de fazer os viveiros de mudas e a preocupação com a sanidade destas plantas também foram abandonados por grande parte das unidades e produtores de cana. A consequência disso foi o aumento da incidência de pragas e doenças que foram levadas através de mudas não sadias aos canaviais.

O impacto surtiu efeito e levou o setor a criar novos mecanismos para corrigir a questão do viveiro de mudas com uma nova ferramenta: a muda pré-brotada (MPB), tecnologia que permite a produção de mudas (planta com aproximadamente 60 dias após sua germinação) no conceito de seleção de material. Além de selecionar as variedades mais adequadas à multiplicação, este sistema permite um pré-tratamento da planta, visando à eliminação de agentes patógenos e à eliminação de pragas, fazendo com que as mudas que irão para o campo tenham a garantia de que serão isentas de pragas, doenças e até mesmo ervas daninhas, tanto na forma de sementes como de algum material vegetativo.

Os benefícios trazidos pelo sistema MPB têm permitido que os produtores também o associem a métodos para formação de áreas de viveiros e áreas comerciais, como é o caso dos sistemas de meiosi (Método Inter-rotacional Ocorrendo Simultaneamente) e cantosi, que têm trazido benefícios como redução de custos no plantio, maior receita e maior vigor às plantas.

A meiosi é uma técnica que consiste em plantar um percentual da área de forma que a sua própria produção seja utilizada como muda para o restante da área, aproveitando aquela que fica livre para realizar a produção de soja e amendoim, trazendo grandes benefícios em vários aspectos, ou ainda utilizando essa área para a semeadura de leguminosas que serão utilizadas para adubação verde.

“Esse método é bastante interessante pois é um facilitador da operação de plantio. O sistema meiosi tem sido associado ao MPB, ou seja, as linhas que constituem a meiosi agora são plantadas na forma de MPB. Isso tem possibilitado taxas de 1:12 a 1:14, o que é importante para a rápida atualização do plantel varietal de cana-de-açúcar”, afirma Mauro Alexandre Xavier, pesquisador da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, vinculado ao IAC.

A associação dos métodos pode ser aplicada em áreas de multiplicação e também em áreas de reforma e instalação de novos canaviais. É uma estratégia que tem sido bastante utilizada para as áreas de reforma, contribuindo para um plantio de maior qualidade. O grande benefício, segundo Xavier, é a alta taxa de multiplicação, podendo ter efeito em aumento de produtividade.

Segundo Cristiano Peraceli, gerente de Marketing para Cultura de Cana da Basf, a empresa tem incentivado o uso da tecnologia AgMusa em conjunto com o sistema meiosi, pois sabe que essa técnica promove a sustentabilidade natural da rotação de cultura, quebrando o ciclo de pragas, aliando a sanidade e a alta produtividade de suas linhas de cana e com benefícios financeiros advindos da cultura intermediária.

A utilização do plantio meiosi + MPB AgMusa pode ser realizado em ambas situações, tanto para a formação de viveiros quanto para plantios comerciais. O posicionamento da Basf é a utilização da meiosi para o plantio comercial, sendo que o que pode diferenciar uma modalidade da outra é o tamanho da área a ser plantada e o objetivo do produtor na implementação do sistema de meiosi na sua área, ou seja, viveiro numa área geralmente menor em relação ao plantio comercial para cana moagem, que acaba ocupando uma área maior.

“MPB em meiosi aumenta a longevidade e a produtividade dos canaviais. O sistema também tem o objetivo de reduzir a complexidade das operações no campo, com relação à implementação de um viveiro de mudas comum. Em produtividade prospectamos ganhos de até 5 t/ha em relação ao plantio convencional no ciclo de cinco cortes e redução de custos, com ganhos previstos em torno de 15% a 20% em relação ao convencional”, salienta Peraceli.

O produtor e engenheiro agrônomo, Ismael Perina, conseguiu alcançar uma taxa de multiplicação de 1:20 no plantio manual com o sistema meiosi mais MPB, que vem sendo realizado na propriedade há quatro anos. A lavoura de cana que ocupa 550 ha e 100% da reforma dos canaviais já é feita neste molde, atingindo produtividades acima de 100 t/ha. De acordo Perina, com o uso do sistema é possível ter uma redução de 30% no custo da operação de plantio. A economia fica em torno R$ 2 mil por ha se comparado aos sistemas de plantios atuais mecânicos.

Já a cantosi, é um sistema que consiste em plantar as mudas em torno de 20% da área a ser renovada e utilizar as outras 80% em plantio de grãos ou leguminosas. Isto permite produzir mudas de cana-colmo de qualidade no mesmo local a ser renovado.

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Rodrigues não dá valores de quanto gasta por muda, mas diz que consegue produzir as mudas em
um valor muito menor do que as fornecidas por algumas empresas

MPB EM MEIOSI E CANTOSI

Tadeu Cury, engenheiro agrônomo da Fazenda Estiva, localizada em Ituverava, SP, faz o plantio de MPB em meiosi e cantosi, dependendo do tempo para planejamento e disponibilidade da empresa fornecedora de mudas. Em meiosi o plantio é realizado em época seca, onde é necessário fazer a irrigação de pegamento, algo em torno de duas a três lâminas concentradas somente na linha das plantas de MPB. Já em cantosi, o plantio é feito em época úmida (dezembro), sem a necessidade de irrigação das mudas.

Os ganhos têm sido muitos. De acordo com Cury, há diminuição do consumo de mudas por hectare, diminuição do custo de plantio, por não utilizar caminhões e guinchos, e aumento da produtividade devido à sanidade. “Temos ganhos também não mensuráveis como prevenção de entrada de sphenophorus na área, possibilidade de venda de mudas a terceiros, cultura de planejamento e maior zelo pelos viveiros.”

Para fazer a meiosi com MPB, Cury leva em consideração quanto tempo as MPBs ficarão no campo. “Consideramos o rendimento de muda de 1 hectare para cada um mês de plantio, somando-se mais dois meses, que é a idade que a muda de MPB já tem de brotada. Exemplificando, para conseguir um rendimento de mudas de 1 hectare para plantar 7 hectares (rendimento 1:7), as mudas de MPB deverão ser plantadas cinco meses antes da data da desdobra, pois o período de cinco meses dará o rendimento de 1 para 5 e soma-se dois meses que a planta já está brotada, resultando no rendimento 1:7”, detalha.

Sabendo-se o rendimento desejado é então definida a data de plantio para conseguir tal rendimento. Assim, se faz o preparo de solo, que consiste nas seguintes operações: eliminador de soqueira passando-se duas vezes encavalado na linha de meiosi para haver o completo arranquio das plantas do canavial antigo e também para não haver rebrota nas linhas de meiosi, na sequência é feita uma gradagem pesada na linha de meiosi, subsolagem, sulcação, tampação, plantio manual das mudas com matracas e, por fim, aplicação de herbicida seletivo.

“Durante o desenvolvimento dos MPBs são feitas duas adubações, operação de quebra lombo e mais uma aplicação de herbicida nas linhas de meiosi. Sempre priorizamos deixar preparadas as linhas de meiosi e depois focamos o preparo de solo nos vãos que serão plantados os grãos. Em torno de 20% a 25% da área de reforma é feita dessa maneira, onde plantamos diretamente o MPB em meiosi. Normalmente são áreas que temos uma necessidade maior de inserir plantios comerciais mais sadios. No restante percentual da área de reforma fazemos meiosi com toletes vindos de MPB”, adiciona Cury.

Os principais ganhos observados no canavial da Fazenda Estiva com o sistema de meiosi mais MPB foram:

– Ganho de receita, porque as mudas de viveiros que seriam enterradas são vendidas para usina processar;

– Menor custo: porque no momento do plantio não se utiliza caminhões e guinchos;

– Antecipação;

– Maior vigor: porque as mudas mais novas tem uma brotação melhor;

– E maior sanidade.

 “Fazemos a meiosi + MPB em plantio comercial, onde os viveiros de mudas são as próprias linhas de meiosi. Dessa forma, conseguimos enviar mais cana-de-açúcar para moer na usina, aumentando a receita com a venda do que iria ser enterrado como muda”, adiciona Cury.

Ricardo Bellodi Bueno, produtor de cana da região de Jaboticabal, SP, em parceria com a Coplana, a Socicana e IAC, começou a produzir suas próprias mudas de MPB e está em seu primeiro ano de meiosi. “Fiz a cantosi, mas resolvi, em 2016, implementar a meiosi porque vi que é uma forma de economizar em mudas. Só de maquinário utilizado para o plantio de cana no modo manual, que era de 10 a 11, caiu para 4,5 máquinas. Só o custo disso é muito grande. Na mão de obra também foi possível obter uma boa redução. Se antes contratava 30 pessoas para fazer o plantio, agora contrato 15, porque a muda está dentro da área. Outra coisa é que aquela muda em excesso que era jogada no sulco, agora é levada à usina para moer, gerando maior receita no ano próximo ano.”

Outro benefício é a rápida multiplicação de novos materiais. Com as 17 variedades que foram plantadas em 1 hectare, o produtor de Jaboticabal conseguiu produzir 100 mil mudas de cana. “Para se ter uma ideia, plantei de cada variedade 100 mudas de MPB. Cada muda dá de 10 a 12 perfilhos. Então se multiplicarmos por 10, de cada muda tiramos 120. Sem contar com a produtividade, que chegou a mais de 100 t/ha. Das últimas quatro safras, três eu consegui chegar a um TCH maior do que 100!”

Paulo de Araújo Rodrigues, produtor e diretor do Condomínio Santa Izabel, conta que fez meiosi durante 20 anos em que realizou o plantio manual, abandonando o sistema após a implementação do plantio mecanizado. No entanto, há cerca de cinco anos, após a iniciar o sistema MPB, o produtor sentiu a necessidade de voltar, só que desta vez decidiu fazer a cantosi.

“Hoje fazemos 100% do nosso plantio com cantosi, isso porque eu não tenho mão de obra e a estrutura de plantio é mecanizada. No restante da área eu planto soja. É uma opção que fazemos por conta da nossa logística. Existem produtores que preferem fazer MPB em meiosi porque para logística deles funciona bem desta forma. Os dois sistemas são muito bons. Na verdade, em um primeiro momento nossa ideia não era fazer nem cantosi, nem meiose, e sim o plantio comercial e plantio direto com MPB. Inclusive, a gente vem testando e observamos que funciona. Estamos fazendo assim há quatro anos. É experimental, mas em área comercial”, revela Rodrigues.

Cury conta que faz o plantio de MPB em cantosi desde dezembro de 2015, voltando a fazê-lo novamente no final de 2016. “Para conseguir realizar este tipo de manejo com o MPB é necessário realizar o planejamento das áreas de reforma dois anos antes. Como funciona? Dentro da fazenda que foi reformada em dezembro plantamos 1 hectare de cantosi com MPB. Como é uma época bem úmida não há necessidade de irrigação. Passados 10 meses, em outubro, colhemos essa cantosi e plantamos meiosi de tolete e, em março, desdobramos as meiosis de tolete”, explica o produtor.

O principal ganho de MPB mais cantosi é a diminuição dos custos com compra de MPB, tornando possível ter mudas sadias com menores custos de implantação e com todo o benefício de mudas sadias e diminuição dos custos através das meiosis. Dessa forma, segundo Cury, une-se o útil ao agradável (útil = viveiro dentro da fazenda e mudas sadias; agradável = diminuição de custos).

“Para ter um bom rendimento de meiosi com MPB é necessário um plantio sem falhas, não ter plantas daninhas nas linhas de meiosi, fazer um bom controle de pragas (broca, sphenophorus e cigarrinha) e fazer de duas a três adubações de cobertura. Desta forma, consegue-se aumentar a taxa de multiplicação das meiosis”, detalha Cury.

CUSTOS

A meiosi pode diminuir o custo das mudas, o que muitos produtores ainda enxergavam como um dos gargalos do sistema MPB. Para comprovar, Cury faz uma comparação de custos entre os sistemas de plantio:

PLANTIO MECANIZADO

– Consumo de mudas: 15 t por ha

– Preço da tonelada da cana para muda: R$ 90 por t

– Custo por hectare de mudas: R$ 1.350,00 por ha

PLANTIO DE MEIOSI + MPB

– Custo do hectare de MPB: R$ 13.333,00 por ha

(11.111 mudas por ha x R$ 1,20 por muda)

– Taxa de multiplicação do MPB: 1 ha planta 9 ha (soma = 10 ha)

– Custo por hectare de mudas: 13.333/10 = R$1.333 por ha

– Obs.1: existem produtores que estão conseguindo uma taxa de multiplicação em torno de 1 ha planta 14 ha (soma = 15 ha), onde o custo por hectare de mudas cai para R$ 890 por ha.

– Obs.2: vale ressaltar que a utilização de meiosi gera uma economia de R$ 1.500 a R$ 2.000 por ha em relação do plantio mecanizado.

PLANTIO DE CANTOSI + MPB + MEIOSI DE TOLETE:

– Custo do hectare de MPB: R$ 13.333,00 por ha

(11.111 mudas por ha x R$ 1,20 por muda)

– Taxa de multiplicação do MPB: 1 ha planta 30 ha (soma = 31 ha)

– Custo por hectare de mudas: 13.333/31 = R$ 430 por ha

– Obs.: vale ressaltar que a utilização de meiosi gera uma economia de R$ 1.500 a R$ 2.000 por ha em relação do plantio mecanizado.

“No nosso caso, continuamos comprando mudas exclusivamente da Syngenta. Optamos pela empresa por ver no campo a importância das mudas serem bem rustificadas e com um substrato maior, o que confere às mudas um melhor pegamento no campo. Vale ressaltar também que a equipe técnica deles é muita atenciosa”, destaca o produtor.

Rodrigues produz 200 mil mudas em um viveiro que ele diz ser quase artesanal. A ideia é fazer um viveiro maior para as cantosis do próximo ano, ou seja, a partir de fevereiro de 2017 o produtor começaria a produzir mudas para o plantio de maio, junho e julho, o que seria a cantosi. “Estamos neste momento discutindo como é que deve ser este viveiro até mesmo para que possamos reduzir o custo da muda em pelo menos a metade. Meu viveiro ainda é artesanal. Na hora que eu colocar em maior escala, em processo mais comercial, aí de fato teremos uma muda muito mais barata. Hoje o nosso viveiro já é mais barato do que comprar de empresas, mas a escala ainda é pequena”, afirmou o produtor sem detalhar quanto custa o sistema de MPB em cantosi realizado no Condomínio Santa Izabel.

Bueno produz mudas a um custo que varia entre R$ 0,80 e R$ 0,85. Mesmo com uma mão de obra um pouco mais cara, a produção in loco fica muito mais barata. “No entanto, acho que o fator principal não é só o custo e sim a qualidade da muda que aprendemos a fazer. Em 2017 espero encontrar bons resultados dos sistemas em produtividade”, conclui.

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Sistema de meiosi + MPB e cantosi + MPB realizado pelo engenheiro agrônomo, Tadeu Cury, da Fazenda Estiva

IRRIGAÇÃO DE MUDAS

Os plantios de MPB em cantosi ou meiosi realizados entre julho e setembro necessitam de irrigação, hoje feita pela maioria dos produtores via canhões de vinhaça ou “carretanques”, que molham somente as ruas com MPB. Rodrigues acredita que estes métodos estão longe de ser os melhores, mas diz que ainda estuda a melhor forma de irrigar suas mudas. “Estudei o gotejo e uma série de alternativas, mas a grande dificuldade é que este viveiro vai ser sempre itinerante, ou seja, nunca vai estar no mesmo lugar e por isso precisamos encontrar alternativas.”

Percebendo a necessidade de se fazer um bom manejo da água na produção de MPB, a Naandanjain propõe soluções desde a produção em viveiros até a irrigação das mudas no campo. De acordo com Leandro Lance, gerente de Desenvolvimento de Mercado da Naandanjain, as irrigações podem ser feitas por aspersão ou gotejamento de acordo com as condições de cada projeto.

Tanto para irrigação por aspersão como por gotejamento, a empresa oferece kits que a própria usina pode operar de forma simples e garantindo uniformidade, eficiência na aplicação e não causando danos as mudas.

De 0 a 10 dias, no período de brotação, o sistema mais indicado, segundo Lance, é a nebulização. De 10 a 30 dias é o período de rustificação 1, na qual o sistema mais utilizado é a microaspersão invertida. Já entre 30 e 60 dias (quando as mudas vão ao campo), período de rustificação 2 e que já ocorre fora de estufas, deve feita a irrigação por aspersão, geralmente em espaçamentos de 12 x 12 metros.

“No campo temos duas fases. A primeira é a brotação, que ocorre até os 15 primeiros dias e tem a função de garantir o pegamento das mudas. Nesta fase, a muda pode ser irrigada por aspersores quando realizamos cantosi, com as adutoras para conduzir a água até o local do plantio, ou por gotejamento quando a irrigação é por meiosi ou não temos adutoras para levar a água até o local do plantio. A segunda fase busca aumentar a produtividade através da redução do déficit hídrico e da fertirrigação. Com o aumento da produtividade podemos reduzir o período entre plantio e replicagem ou aumentar a proporção viveiro e área plantada”, salienta Lance.

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