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Mudas Pré-Brotadas: Como fazer um bom planejamento de plantio?
Agosto chegou e com ele chega também a hora das usinas, que vão renovar seus canaviais adotando o sistema de Plantio de Meiosi (Método Inter-rotacional Ocorrendo Simultaneamente) com o uso MPB (Mudas Pré-brotadas), se prepararem para as operações que ocorrem entre julho e novembro.
Embora bastante recomendado pelos ganhos como menor custo operacional, aceleração da introdução de novas variedades, maior sanidade e volume de mudas, operá-lo não é tão simples quanto parece. Isto porque, muito além de definir quais serão as áreas e as variedades que serão alocadas, o plantio de MPB exige estrutura – mão de obra, maquinário, adubação e irrigação – e muito, muito planejamento.
O plantio de MPB é relativamente recente. Teve maior expansão no setor a partir de 2015. E mesmo com grupos sucroenergéticos mais evoluídos na produção de mudas, com grandes biofábricas próprias, ainda falta para grande parte destas companhias, expertise na operação.
De acordo com Efraim Albrecht, responsável pela área operacional da Agricef, empresa fabricante das transplantadoras de mudas Absoluta e Compacta (clique e confira mais detalhes da máquina) e prestadora de serviços especializada em plantio de MPB, por ser uma operação relativamente nova, não há ainda uma experiência tão grande por parte de usinas e produtores.
“É uma operação diferente das que o setor está acostumado. Muitas usinas estão fazendo seus próprios viveiros e aprendendo a cada ano. No entanto, como é algo recente, muitas unidades ainda não tem uma equipe capacitada para a operação e não conseguem, muitas vezes, fazer um planejamento assertivo, garantindo a qualidade da operação”, adiciona Albrecht.
Durante os seus oito anos de experiência com plantio de MPB, Henrique Pigatto Rodrigues, gerente de Operações de Campo da Agricef, afirma que os 5 erros mais comuns cometidos pelas unidades são:
1) Atraso na escolha da área em que será realizado o plantio de MPB
2) Preparo inadequado da área, pois o plantio mecanizado de MPB exige que a área seja bem preparada, livre de palha e torrão
3) Não respeitar o período de carência de herbicida ou seleção de molécula errada
“As mudas pré-brotadas são mais sensíveis a algumas moléculas de herbicidas quando comparadas ao plantio convencional. Sendo assim, a utilização de uma molécula de herbicida inadequada pode causar fitotoxidade na muda ocasionando o ‘travamento’. Isto é, a interrupção do crescimento adequado ou até mesmo morte de mudas”, explica o gerente de Operações de Campo da Agricef.
4) Mau dimensionamento da estrutura de irrigação
Segundo Rodrigues, a muda de cana pré-brotada exige uma irrigação de 8 a 10 litros de água por metro linear logo após o plantio, sendo que em períodos sem chuva esse mesmo volume de água deve ser aplicado em intervalos de 3 a 5 dias até o crescimento de raiz e pegamento das mudas que ocorre, em média, de 20 a 30 dias após plantio. Ou seja, em períodos sem chuva pode ser necessário a aplicação de 3 a 6 lâminas de irrigação em uma área plantada com MPB.
5) Fazer o plantio de mudas com substrato seco
“É muito comum observarmos mudas sendo transplantadas da bandeja no campo com substrato seco. Uma vez que esse erro é cometido, é preciso aplicar um volume de água no solo bem maior do que o normal para o substrato seco poder absorver água do solo”, acrescenta Rodrigues.
Planejamento em detalhes
Para não cometer nenhum dos erros listados, de acordo com o responsável pela área operacional da Agricef, é preciso saber fazer um bom planejamento. E um bom planejamento exige maior detalhamento das informações.
“Como diz a expressão de Júlio Cesar é ‘dividir para conquistar’. Ou seja, se olharmos o plantio de MPB, uma grande operação composta por várias etapas, como uma coisa só, não vamos conseguir fazer um bom planejamento. Além de estratificar as etapas, deve-se ter uma definição clara da meta”, explica Albrecht.
Muitas vezes, ao olhar o plantio de MPB, muitas usinas ou produtores não sabem por onde começar. É aí que muitas vezes se deixa de planejar ou faz-se um planejamento macro. “A operação começa sem se considerar, por exemplo, ter as mudas com substratos bem encharcados. Ou mesmo sem considerar a logística de insumos e, quando chega naquela etapa que não foi considerada no planejamento, há uma limitação do processo.”
Qualidade da operação, redução de custos, segurança e eficiência são as premissas que devem ser consideradas no planejamento de plantio das mudas pré-brotadas. “O segredo é dividir esse processo para identificar os problemas menores. Muitas vezes estes não são identificados. Tratando os problemas menores e específicos, é mais fácil entregar o que foi planejado”, diz.
Passo a passo: do plantio ao pegamento da MPB
Como o plantio de MPB evolve diversas etapas, desde a recepção da muda até o seu efetivo plantio, irrigação e pegamento. O primeiro passo é definir as metas da unidade, ou seja, quantos hectares serão plantados com MPB e em qual período a operação será realizada.
“Quando falamos em Meiosi, os plantios de MPB se concentram a partir de julho até novembro. No entanto, a maior parte se dá no mês de setembro. Isso porque em setembro é um período de melhor condição para a multiplicação da cana, rendendo em maior número de gemas para a desdobra”, explica Albrecht.
O segundo passo é estratificar as metas das três etapas: preparo de solo (realizada pela própria usina na maioria das vezes), plantio e irrigação, definindo como as operações irão ocorrer ao longo dos meses, semanas e dias (Imagem 1).
Isso pronto, o terceiro passo é definir qual será a estrutura necessária para a operação que envolve o plantio da muda e a irrigação. No caso da Agricef, que opera projetos de plantio de MPB para usinas sucroenergéticas e produtores, é nesta etapa que a empresa faz a definição sobre a seleção e contratação de equipamentos, da mão de obra que será necessária incorporar ao que a unidade já dispõe, além de outros detalhes.
“A Agricef dispõe de uma equipe capacitada para realizar a operação completa de plantio, mas faz toda a operação integrada e de acordo com a estrutura de cada unidade. Levamos toda a estrutura de plantio, desde a mão de obra, que operará nossas transplantadoras de muda, tratores e equipamentos, que deverão atender as normas de segurança da usina cliente, até a estrutura de irrigação. Também dispomos de peças de máquinas para realizar quaisquer manutenções que sejam necessárias durante o processo”, explica responsável pela área operacional da companhia.
É neste momento também que se definem quais serão configurações das transplantadoras que irão realizar o serviço de plantio de MPB. “Com a nossa máquina conseguimos atender plantios de duas linhas de 0,90 cm, duas linhas de 1,5 m ou apenas uma linha central”, adiciona Albrecht.
A primeira etapa diz respeito a recepção e armazenamento das mudas, quando é definida onde será feita esta recepção e como será realizado o controle de recebimento das MPBs. Em casos onde as mudas não estão na área de plantio (fazenda/talhão), é definido quem fica responsável pela manutenção das mudas antes do plantio (irrigação e poda) e quem fará a logística dessas mudas do local de recebimento (viveiro principal) até a área de plantio.
Vídeo: soluções AGRICEF para o plantio de MPB
Na etapa dois se faz a checagem das mudas e seus substratos. É preciso que o substrato esteja bem encharcado antes de levar as mudas para o plantio. A etapa três é a logística das MPBs para o abastecimento da transplantadora.
“No nosso caso, como prestamos serviço, nas próximas etapas 4 e 5, que correspondem ao transporte e abastecimento dos insumos como adubos e defensivos, fica definido quem serão os responsáveis pelo fornecimento e logística dos insumos da usina até o campo. Definimos também com a usina quem fará o abastecimento dos insumos no implemento dentro do talhão”, explica o responsável pela área operacional da Agricef.
As etapas seguintes, 6, 7 e 8 referem-se ao plantio, irrigação e replantio, respectivamente. O plantio é realizado pela Agricef com uma máquina desenvolvida pela própria companhia, que tem um rendimento operacional de cerca de 3 hectares por turno, com um espaçamento entre mudas de 50 a 70 cm. Além disso, o equipamento tem como diferencial realizar o plantio profundo das mudas, deixando uma camada de solo de 5 a 10 cm de cobertura do substrato das plantas.
“Durante a operação de plantio precisamos garantir que essa muda vai ser plantada da maneira que está sendo especificado, ou seja, no espaçamento, na profundidade e na compactação correta do solo. Por último, temos que garantir que a irrigação seja feita no momento certo. Esse é um dos maiores desafios”, destaca Albrecht.
O diferencial em se terceirizar esse plantio, de acordo com ele, é ter uma operação realizada com equipe capacitada que terá 100% da atenção focada em cada detalhe da atividade.
“Sempre buscamos redução de custos e economia de processos. Nem sempre a usina tem uma equipe de pessoas e maquinário disponível para realizar esta operação. Com a nossa experiência, conseguimos analisar todo o processo e realizar um bom planejamento. O maior ganho que se tem com um planejamento e execução bem feitos, é conseguir fazer uma entrega segundo o prazo e o custo definido.
A Usina Atena fez uso de MPB para o plantio na safra 2019/20 em cerca de 250 ha, entre rua mãe de Meiosi e plantio “fechado”. Todas as mudas utilizadas na unidade hoje são compradas de terceiros e a operação é realizada com a transplantadora de mudas Absoluta.
Segundo Cassio Paggiaro, diretor superintendente da Atena, a intenção inicial era utilizar toda a MPB para plantio das ruas mães de meiosi, que hoje corresponde por 60% do plantio total. No entanto, hoje a unidade também planta as ruas mães de meiosi usando toletes advindos do plantio de viveiros no ano anterior por meio de MPB.
“Desta forma aliviamos a necessidade de molhamento dos plantios e continuamos a utilizar mudas sadias. Nosso plantio de MPB é feito 100% como nossa equipe interna com equipamento de plantio mecanizado”, afirma.
Além da tecnologia para o plantio das mudas de MPB, Paggiaro conta que contou com um trabalho promissor em parceria com a Agricef na desdobra manual das ruas mães de Meiosi.
“Trabalhamos o planejamento e o ganho de rendimento no plantio manual da desdobra da meiosi, com a finalidade de plantar mais hectares com mesmo pessoal, por meio de metodologia própria. Esta interação é muito bem vinda e importante para pularmos etapas de aprendizado, utilizando manejo consagrado”, acrescenta.
A Usina Ester, que fez na safra 2019/20 cerca de 20% do seu plantio em sistema meiosi, além de comprar 100% das mudas, também terceiriza todo o serviço de plantio de MPB.
De acordo com Cristiano Ortigosa Peraceli, gerente Agrícola da Ester Agroindustrial, a vantagem da contratação é ter o melhor custo, qualidade na operação e garantia de pegamento.
“A negociação na compra das mudas, a expertise de quem planta e a garantia de incremento de TCH são as vantagens. Assim tenho meu ‘peace of mind’ e não corro riscos com pegamento. O rendimento do nosso plantio, feito mecanicamente, depende do número de plantadoras e turnos trabalhados, mas gira em torno de 10 ha de linha mãe/dia com dois turnos.”
A Usina Alta Mogiana, desde o início do uso de MPB, também optou por comprar as mudas de produtores especializados ao invés de produzi-las. Hoje, a usina realiza plantio de meiosi para desdobra em 40% de sua área.
A diferença é que a companhia faz todo o seu plantio de forma semi-mecanizada, com equipe própria, utilizando a transplantadora de duas linhas, a Compacta, fabricada pela Agricef.
“A vantagem de se ter uma equipe especializada realizando essa operação é justamente obter-se o rendimento e a qualidade de plantio muito superior ao de uma equipe comum. Quando somamos isso à uma irrigação de qualidade, temos como resultado uma taxa de pegamento das mudas muito elevada. Além disso, como trata-se de uma atividade sazonal, a equipe pode desenvolver outras atividades no restante do ano”, afirma Matheus Palazzo Barbosa, supervisor de Produção da Alta Mogiana
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