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[Opinião] Balanço global de açúcar e fluxo comercial de exportações
Atualmente, os fluxos comerciais indicam um superávit de açúcar para o ano civil de 2024, enquanto a perspectiva para 2025 depende muito das condições climáticas. Assumindo padrões típicos, 2025 também pode apresentar excesso de oferta, especialmente quando o Brasil introduzir sua produção de 2025/26 no mercado.
Considerando o recente enfraquecimento do La Niña e a correlação limitada do Centro Sul com os padrões de precipitação desse evento climático, não há evidências suficientes que sugiram uma redução significativa no volume de cana da região para 2025/26.
O mercado pode testemunhar uma recuperação de preços durante o período de entressafra 2024/25 do Brasil, mas as usinas podem gerenciar os estoques e equilibrar os fluxos comerciais para mitigar qualquer déficit potencial. Portanto, embora haja espaço para suporte de preço, especialmente para atrair o açúcar indiano, o movimento pode não ser tão forte quanto alguns traders altistas preveem.
Em relação à paridade de preços da Índia, as estimativas atuais a colocam em torno de 21,5 centavos de dólar por libra-peso, considerando os valores domésticos. No entanto, esse nível pode se ajustar quando a moagem e o reabastecimento começarem, o que indica que os preços talvez não precisem ser tão altos para incentivar a exportação das usinas indianas – mas, lembre-se, o governo precisa aprovar.
No entanto, se os preços internos se mantiverem firmes, isso poderá proporcionar um aumento nos preços de acordo com o necessário para as exportações indianas, indicando um efeito altista moderado em vez de uma forte tendência de alta.
Já se as condições climáticas forem piores do que o esperado para o desenvolvimento da safra 2024/25 do Hemisfério Norte e para a temporada 2025/26 do Brasil, a dinâmica do mercado poderá mudar drasticamente. Mas esse continua sendo um grande “se”, assim como alguns podem argumentar que presumir condições climáticas médias também é uma forte hipótese.
Portanto, é provável que os preços permaneçam na faixa de 17,5 a 19,5 centavos de dólar por libra-peso por algum tempo, com potencial de alta técnica, enquanto os traders aguardam confirmações climáticas.
Uma tendência de alta com base nos fundamentos poderia chegar a 21 centavos de dólar por libra-peso até o final de 2024 se as previsões sugerirem restrições de disponibilidade, especialmente no Brasil.
Safra do Centro-Sul
A safra 2024/25 no Centro Sul do Brasil começou de forma robusta, com mais de 140 milhões de toneladas de cana moídas entre abril e maio. Esse volume é 11,2% maior que o da temporada anterior e apenas 3,2% menor que o de 2020/21. Apesar da produção significativa de açúcar de mais de 7,8 milhões de toneladas, o mix açúcar foi surpreendentemente baixo em comparação com as expectativas.
A União da Indústria de Açúcar e Bioenergia (Unica) atribui esse fato a muitas usinas que processam cana bisada ou pouco desenvolvida, provavelmente devido ao clima mais seco do que a média desde o início de 2024. A baixa qualidade da cana é a principal razão para o mix açúcar abaixo do esperado.
Além disso, alguns especulam que os investimentos em cristalização recém-instalados talvez ainda não estejam totalmente operacionais nesta temporada. No entanto, o Brasil está no caminho certo para obter o segundo melhor resultado da história recente. Mesmo com uma queda de quase 10% no rendimento dos canaviais, espera-se que a expansão da área de plantio garanta pelo menos 613 milhões de toneladas de cana.
Assumindo um teor de açúcar total recuperável (ATR) semelhante ao da temporada 2023/24 e um mix de açúcar reduzido de 51,2%, o Centro-Sul do Brasil ainda poderia produzir 41,5 milhões de toneladas de açúcar e contribuir com, aproximadamente, 33 milhões de toneladas para o mercado internacional, especialmente durante o pico da safra, no terceiro trimestre.
O gerenciamento eficaz do estoque poderia evitar o déficit previsto para o quarto trimestre de 2024/25 e o primeiro trimestre de 2025/26.
Ao olhar para a temporada 2025/26, há certo otimismo com relação ao volume de cana. Muitas discussões têm se concentrado nos padrões climáticos e no impacto potencial do La Niña. O mais recente relatório da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA) indica uma alta probabilidade de La Niña durante o verão brasileiro, o que poderia afetar o desenvolvimento da cana.
No entanto, a probabilidade diminuiu um pouco e a intensidade esperada do evento foi rebaixada. Portanto, ainda é muito cedo para prever reduções significativas no volume de cana.
Mercado de etanol
A demanda por combustível começou forte em abril, mas o que é realmente impressionante é que o etanol hidratado manteve sua participação no consumo em 38% (considerando o volume total e não o Ciclo Otto). Isso se deve ao aumento de sua competitividade na bomba.
As vendas domésticas atingiram seu maior nível desde 2019/20, totalizando 3,7 B litros até o final de maio. Isso poderia ter sustentado os preços se não fossem os altos níveis de estoque de fim de safra observados em 2023/24.
A partir de agosto, poderemos ver algumas reações de preço dos biocombustíveis, dependendo de o mix de açúcar atingir valores mais altos no pico da safra. Com o mix de açúcar estimado em 51,2% para a safra, os estoques de hidratado podem diminuir durante o pico de 2024/25, mas não prevemos grandes problemas de disponibilidade, portanto, é improvável um forte aumento de preço a longo prazo.
Isso deixa espaço para o mix de açúcar crescer, sendo que o principal obstáculo é a qualidade da cana.
Se o mix açúcar aumentar, o etanol ainda enfrentará o teto de preço da gasolina. A política de importação da Petrobras, que mantém alguma diferença em relação ao mercado internacional, pode impedir uma grande recuperação dos preços, já que a demanda continua sendo o elo mais fraco.
Safra do Norte-Nordeste
Espera-se que o clima no Norte e Nordeste beneficie o desenvolvimento da cana. Agências especializadas preveem que os próximos meses serão mais chuvosos e mais quentes do que o normal.
Portanto, o inverno brasileiro poderá ajudar no crescimento da cana do final de safra, mas poderá atrapalhar a moagem em junho e julho.
Apesar disso, há espaço para otimismo com relação à disponibilidade de cana. Mantemos nossos números: 63 milhões de toneladas a serem moídos, 127 kg de ATR por tonelada (potencialmente mais baixos se o tempo úmido persistir) e um mix de açúcar de 49%, levando a mais de 3,7 milhões de toneladas de açúcar sendo produzidos na região.
Índia
Com 31,67 milhões de toneladas de açúcar produzidas até 31 de maio e apenas três usinas ainda em operação, a temporada 2023/24 da Índia está próxima do fim.
De acordo com a National Federation of Cooperative Sugar Factories Limited (NFCSF), a disponibilidade total deve chegar a 32,1 milhões de toneladas, apenas 3,8% abaixo da temporada 2022/23. Esse volume é significativamente maior do que as estimativas iniciais de muitas agências, que estavam abaixo de 29 milhões de toneladas.
Mantivemos nossos números em 31,8 milhões de toneladas por um longo tempo, mas agora nos sentimos compelidos a revisá-los e atualizá-los para 32 milhões de toneladas.
Considerando que o açúcar continua sendo a cultura mais lucrativa para o agricultor médio, uma queda acentuada na área parece improvável. Portanto, continuamos céticos e temos uma expectativa de produção bruta maior.
Com uma queda marginal de 2% na área, mas uma recuperação no rendimento da cana devido ao clima favorável, esperamos que a produção total chegue a 37,2 milhões de toneladas. Com 5,5 milhões de toneladas sendo desviados para o programa de etanol, que deve ser a prioridade do governo, a produção de açúcar pode chegar a 31,7 milhões de toneladas, um resultado robusto.
Com essa disponibilidade, a Índia pode repor os estoques para o nível de consumo de três meses e ainda permitir 1,5 milhões de toneladas de exportações. No entanto, esse último depende da dinâmica dos preços e da liberação de cotas pelo governo.
Em termos de preços, pode-se esperar que a atual paridade de exportação, estimada em 21,5 centavos de dólar por libra-peso, considerando os preços domésticos, seja corrigida, pelo menos marginalmente, quando o país começar a moer e reabastecer, o que significa que os preços não precisariam ser tão altos para atrair as usinas indianas.
Entretanto, se os preços no mercado interno continuarem resistentes, esse nível pode ser percebido como suporte necessário para as exportações indianas. Atualmente, nosso superávit de 2025 é responsável por 1,5 milhões de toneladas de açúcar da Índia e, portanto, por um certo upside durante a entressafra brasileira.
Tailândia
Embora a precipitação nas áreas de cana durante maio tenha sido confirmada como abaixo da média, esse período não é crucial para o desenvolvimento da cana. O Departamento de Meteorologia da Tailândia prevê uma boa quantidade de chuvas em junho e julho, que é uma janela de desenvolvimento muito mais importante e reforça a recuperação esperada na temporada 2024/25.
Considerando essas condições climáticas favoráveis, juntamente com os resultados da temporada 2023/24 e os preços competitivos da cana, revisamos para cima nossa estimativa de sua disponibilidade de 98 milhões de toneladas para 100 milhões de toneladas para a temporada 2024/25.
Esse ajuste resulta em uma produção estimada de açúcar de 10,70 milhões de toneladas, um aumento de 200 mil toneladas em relação ao nosso número anterior. É importante observar que essa projeção permanece abaixo dos 11 milhões de toneladas alcançados na temporada 2022/23, apesar da capacidade de 14 milhões de toneladas.
Além disso, essa estimativa ainda depende da evolução do clima durante o principal período de desenvolvimento, de junho a setembro.
Com maior produção, também podemos esperar maior participação nos fluxos comerciais. Para a temporada 2023/24, mantivemos nossos números inalterados em 5,5 milhões de toneladas. No entanto, para a próxima safra, o país pode chegar a 7,5 milhões de toneladas. A curva invertida para H25 pode resultar em padrões de sazonalidade muito semelhantes aos da temporada 2022/23.
União Europeia e Reino Unido
Com relação à União Europeia e ao Reino Unido, pouca coisa mudou em seus fundamentos, mas nossos números foram ajustados devido à forma como estávamos contabilizando o Reino Unido.
O relatório da MARS divulgado em maio trouxe algumas atualizações interessantes. Em primeiro lugar, não foram relatados danos significativos às culturas devido à onda de frio em abril na França e na Alemanha.
Em segundo lugar, apesar das condições climáticas muito úmidas que duraram até meados de abril nas principais regiões do oeste e do norte da Europa central, o plantio tardio da beterraba está quase concluído. Espera-se que esses atrasos afetem negativamente sua produtividade.
Para completar, a condição das plantas já emergidas varia em toda a Europa. Em regiões muito úmidas como a França, os países do Benelux e a Alemanha, as plantações são afetadas por lesmas e pulgões, que podem transmitir o vírus amarelo para a beterraba. Apesar dessas preocupações, a agência mantém uma estimativa de recuperação para a produtividade, que deve ser cerca de 3% maior do que a média de cinco anos.
Na França, o ITB relata que o crescimento da beterraba melhorou em junho, com os plantios de março alcançando o fechamento das fileiras e não sendo ameaçados por pulgões. No entanto, a beterraba plantada em abril ainda precisa ser monitorada.
No Reino Unido, o clima frio e úmido no final de maio manteve o número de pulgões baixo, permitindo que a beterraba se desenvolvesse bem. Um padrão semelhante foi observado na Alemanha e na Bélgica.
México
As estimativas de safra para a temporada 2023/24 permanecem inalteradas, indicando um declínio acentuado previsto devido às condições climáticas adversas que afetam o desenvolvimento da cana. Com apenas 4,7 milhões de toneladas de açúcar, a disponibilidade de exportação também diminuiu.
O país moeu 45,8 milhões de toneladas de cana, ficando aquém da estimativa do Conadesuca e gerando uma produção menor de açúcar – 4,68 milhões de toneladas em comparação com os 4,75 milhões de toneladas esperados e 5,2 milhões de toneladas no ano anterior.
Com apenas três usinas ainda em operação, existe a possibilidade de atingir a expectativa de 4,75 milhões de toneladas. No entanto, reduzimos ligeiramente nossa estimativa de exportação para 1 milhões de toneladas, pois os resultados ruins em abril e maio sugeriram que nossos números anteriores eram otimistas.
Para a temporada 2024/25, a Conagua espera um clima mais úmido do que a média, o que poderia beneficiar o desenvolvimento da cana, especialmente em junho e julho.
Embora o excesso de chuva possa causar alguns danos, o aumento da precipitação é bem-vindo após um período extremamente seco. Portanto, podemos esperar que o volume de cana e a produção de açúcar se recuperem em 2024/25, levando a uma maior disponibilidade de açúcar e à diversificação dos fornecedores no mercado internacional.
Estados Unidos
Segundo o relatório de junho do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), as previsões de produção de açúcar dos EUA para as safras 2023/24 e 2024/25 foram ligeiramente reduzidas em comparação com o mês anterior. Esse ajuste reflete a diminuição da produção de açúcar de beterraba e de cana da Flórida.
Juntamente com essas revisões marginais, a agência continuou sua tendência de reduzir as importações do México e aumentar a categoria “tarifa de alto nível/outros” para a safra 2023/24.
Entretanto, com a recuperação esperada do México, poderíamos antecipar uma tendência diferente em 2024/25. No entanto, o USDA também diminuiu o volume previsto de importações do México para a próxima temporada e aumentou a cota tarifária (TRQ).
Guatemala
A Guatemala concluiu sua temporada de moagem com um crescimento de 4,5% em comparação com 2022/23, quando condições climáticas adversas afetaram a produção.
Essa recuperação alimenta o otimismo com relação ao papel do país no comércio internacional. Espera-se que pelo menos 1,5 milhões de toneladas sejam exportadas durante a atual temporada, 2023/24.
Em relação à temporada 2024/25, as previsões climáticas atuais indicam que a Guatemala manterá um nível de produção semelhante, mas o aumento dos estoques sugere um maior potencial de exportação.
El Salvador
Entre Nicarágua, Guatemala e El Salvador, este último registrou o pior resultado em relação ao ano anterior. Produzindo apenas 754 mil toneladas, o país enfrentou uma queda de 4% em relação a 2022/23.
Para a temporada 2024/25, as previsões climáticas atuais sugerem uma recuperação. O país pode voltar ao nível de 780 mil toneladas no próximo ano, mantendo as exportações estáveis. No entanto, isso permanece aproximadamente 50 mil toneladas abaixo de sua capacidade alcançada em 2019/20.
Rússia
O aumento da área semeada da Rússia ajudou a manter os preços domésticos estáveis, apesar da potencial volatilidade causada por notícias sobre geadas e ressemeadura. O monitoramento da evolução do clima continua sendo crucial, pois este ainda representa uma ameaça ao desenvolvimento da beterraba, principalmente nas regiões do sul, que registram temperaturas mais altas e chuvas insuficientes.
No geral, o Ministério da Agricultura prevê uma colheita robusta com aproximadamente 45,5 milhões de toneladas de beterraba a serem processadas, resultando em pelo menos 5,5 milhões de toneladas de produção de açúcar de beterraba que, juntamente com 200 mil toneladas de produção de xarope, totalizam 5,7 milhões de toneladas durante a temporada 2024/25.
No entanto, a sugar.ru segue mais otimista devido às previsões climáticas atuais que mostram melhorias, com uma expectativa de produção de 6,3 milhões de toneladas (incluindo xarope).
Portanto, embora nossas estimativas permaneçam inalteradas, é importante reconhecer o clima como um fator de risco.
China
De acordo com a Associação de Açúcar da China, a safra de açúcar chinesa de 2023/24 atingiu 9,96 milhões de toneladas, registrando um aumento de 11,03% em relação ao ano anterior. Isso inclui 8,8 milhões de toneladas de açúcar de cana e 1,1 milhões de toneladas de açúcar de beterraba.
Apesar de serem mais baixos do que o inicialmente estimado, esses resultados demonstram uma maior resiliência da safra que enfrentou um ano desafiador marcado por clima instável, custos de produção mais altos e um mercado internacional difícil, segundo a agência.
A maior disponibilidade doméstica de açúcar, juntamente com as perspectivas positivas para a temporada 2024/25, pode explicar por que as importações permaneceram no limite inferior dos valores históricos desde março de 2024.
A China já importou mais de 3 milhões de toneladas e espera-se que chegue a 4 milhões de toneladas sem considerar o xarope e o contrabando (quase 6 milhões de toneladas quando se leva em conta o xarope e o contr
Olhando para o futuro, a China Sugar Association estima que pelo menos 11 milhões de toneladas de açúcar serão produzidos na safra de 2024/25. Enquanto isso, a província de Guangxi registrou fortes chuvas na primeira metade de junho, com precipitação total variando de 100 a 250 mm. No entanto, apesar das condições úmidas, espera-se que o clima melhore durante o desenvolvimento da cana, levando a um aumento previsto na disponibilidade de açúcar.
Com níveis de produção mais altos, é provável que a China reduza suas importações de açúcar do mercado internacional. Apesar das recentes importações em meio a estreitos diferenciais de preço, o aumento dos níveis de estoque pode representar desafios para as importações futuras.