Gente do ceu…. o mercado anda ouriçado com a notícia de que a Petrobras avalia entrar na Raízen, gigante do etanol e dos postos Shell. A conversa oficial é sobre transição energética, etanol de segunda geração e metas de descarbonização. Tudo certo. Mas mineiro desconfiado olha o tabuleiro inteiro: pode ser que o doce verdadeiro esteja no varejo de combustíveis.
A Petrobras vendeu a BR Distribuidora em 2019, sob a lógica de focar na produção e sair do varejo. Mas o mundo gira, a política muda e os discursos também. Hoje, em várias ocasiões, o governo já reclamou: “A Petrobras segura o preço do diesel e da gasolina, mas o consumidor não vê isso no posto.”
Ora, se o preço não chega na bomba, a saída natural é voltar a ter o controle da bomba.
E qual seria o atalho? A Raízen.
• Uma operação integrada de logística e marketing de rede.
• E um sócio pressionado financeiramente, de olho em um reforço de caixa.
Para a Petrobras, seria um retorno elegante ao varejo de combustíveis ( pois no GLP já confirmou o retorno ),sem precisar criar uma nova rede do zero. E ainda com a narrativa oficial de que tudo se justifica pela energia limpa e pelo etanol. Como se diz no interior: “o boi entra pelo pasto, mas a boiada vai é pelo atalho.”
Claro, há riscos. A cláusula de não competição com a Vibra segue até 2029. Um movimento desses pode esquentar a briga jurídica. Além disso margens apertadas, concorrência feroz e consumidor de lupa na mão. Não foi à toa que a estatal saiu desse negócio no passado.
Mas, no jogo político, a jogada tem lógica:
• O governo mostra que controla do poço à bomba.e de quebra via concorrência com demais distribuidoras pode forçar preços menores no mercado.
• A Petrobras diversifica e ganha protagonismo em biocombustíveis.
• A Raízen respira com um sócio de bolso fundo.
No fim das contas, o etanol pode ser a desculpa bonita, mas o desejo mesmo é aquele que todo motorista conhece: voltar a ter o preço na bomba como cartão de visita.
*Wladimir Eustáquio Costa é CEO da Suporte Postos, especialista em mercados internacionais de combustíveis, conselheiro e interventor nomeado pelo CADE, com foco em governança e estratégia no setor downstream.