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Edição 191

Opinião – Um atentado contra o Planeta

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Segundo o autor, considerando que os Estados Unidos é o segundo maior emissor de poluentes, atrás apenas da China, a dura decisão de Trump será péssima para o Planeta

*João Guilherme Sabino Ometto
O anúncio do presidente Donald Trump de retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris, confirmando as ameaças que fez desde sua campanha à Casa Branca, resultará em grande retrocesso na luta da humanidade para conter as mudanças climáticas. Também poderá resultar em prejuízos financeiros e atrasos na substituição da economia de carbono pela das energias renováveis e sustentáveis.

O chefe de Estado norte-americano já havia prejudicado o acordo no início do ano, quando assinou decreto restabelecendo a possibilidade de reconstrução acentuada de usinas de carvão no seu país. Vale lembrar que essa medida anulou moratória que havia sido estabelecida por seu antecessor, Barack Obama. O documento também determinou a todas as agências governamentais que identifiquem regulações, regras e políticas que sejam obstáculos à indústria de energia.

Agora, Trump dá o golpe de misericórdia, jogando na lata do lixo todos os estudos, demoradas e complexas negociações diplomáticas e o esforço de numerosos cientistas de todo o mundo, inclusive dos Estados Unidos. O decreto relativo às usinas de carvão, conforme alertei em artigo publicado sobre o tema, além de um flagrante recuo no processo de conversão da obsoleta economia do carbono para a das energias limpas e renováveis, inviabilizou na prática o cumprimento, por parte dos norte-americanos, do Acordo de Paris.

Considerando que os Estados Unidos é o segundo maior emissor mundial, atrás apenas da China, é lógico que a dura decisão de Trump será péssima para o Planeta. Para o Brasil, o Acordo de Paris, o mais avançado tratado sobre o tema até hoje firmado, é muito relevante. Segundo nossos compromissos, as fontes renováveis, além da geração hidráulica, deverão aumentar de 28% para 45% até 2030, exigindo que a pauta seja incrementada pelos biocombustíveis e pela energia gerada a partir da biomassa (bagaço e palha de cana, eucalipto e outras fontes), biodiesel, bioquerosene, solar e eólica, reduzindo a demanda por térmicas a diesel e carvão.

Essa fase de transição requererá transferência tecnológica, um dos alicerces do acordo, bem como linhas de financiamento, para que a indústria de transformação seja cada vez menos intensiva em carbono e mais competitiva. Como impulso, o aporte de recursos financeiros internacionais do Fundo Verde (Green Climate Fund), do qual os Estados Unidos são contribuidores, e de outras fontes, internas e externas, é avaliado como essencial pelos setores produtivos. Além disso, sob a chancela de um tratado internacional, nosso país precisa reduzir muito o desmatamento ilegal, priorizar o uso sustentável da agricultura e da pecuária, restaurar 12 milhões de hectares de florestas e fomentar a implementação do Código Florestal, com foco na erradicação da fome. Esses são compromissos oficiais que assumimos.

Como ficará tudo isso sem o aporte de recursos dos norte-americanos que têm imensa responsabilidade nas mudanças climáticas dada a sua vultosa emissão de carbono?  A saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris é um verdadeiro atentado contra o meio ambiente, a Terra e a sustentabilidade da economia global.

* João Guilherme Sabino Ometto é engenheiro formado pela EESC/USP (Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo), é vice-presidente do Conselho de Administração do Grupo São Martinho, vice-presidente da Fiesp e membro da Academia Nacional de Agricultura (ANA).

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