Estamos perdendo muita coisa ao nosso redor e ainda não estamos, pessoas e empresas, colocando nossa força para reverter isso. Estamos gastando-a de forma e com padrões equivocados
*Beatriz Resende
Uma pergunta a todos: as pessoas estão entregando, na sua plenitude, o que elas desenvolveram ao longo da sua vida profissional e o investimento feito nelas pelas empresas? De outro lado: as empresas estão realizando todos os objetivos pelo qual investiram capital, inovação, ferramentas de gestão e a remuneração competitiva para profissionais destacados como a sua maior força na busca dos seus resultados corporativos?
A minha resposta é não. E torço para que a de vocês também. Não quero desconstruir nada e nem andar na contramão da visão de evolução que eu mesma, muitas vezes, evidenciei aqui. Não estou trocando o discurso, apenas trazendo um ponto que a cada vez mais nos assusta, pelo menos a quem está atento a ele e trabalha para sua melhoria nas organizações.
O que temos visto? Vou falar o que não vejo. Não vejo boa vontade, esforço, inteireza, apropriação dos nossos papéis, responsabilidades e contribuições como adultos, profissionais preparados e pessoas interessadas em estabelecer relações maduras e contributivas. As organizações, e sinto muito dizer isso, estão desprovidas de pessoas que estejam exercendo a sua melhor performance, aquela fruto do seu auto-investimento, e/ou patrocinada, muitas vezes, de forma bem intencionada pelas empresas por onde passam.
Peço licença para continuar alertando sobre isso. Vejo meus artigos e fico pensando se as pessoas acham que não saio do mesmo assunto. É inevitável, pois na verdade é o que está acontecendo de pior no núcleo das nossas empresas. É com o que nos deparamos diariamente. O foco dos problemas está sempre em posicionamentos e direcionamentos frágeis ou pouco sustentáveis; imaturidade nas relações; falta de tato nos diálogos e feedbacks; máscaras e artifícios utilizados para sustentar status, poder e falsas moralidades; desencontro de propósitos; falta de companheirismo e colaboração interna; descompromisso com o coletivo e o resultado que precisa de sinergia; torcidas contra; rejeição ou nulidade do empoderamento que lutamos tanto para trazer ao colaborador; descredibilidade com tudo; letargia; posição de expectador e não de integrante da peça; muita falta de ética; muita covardia. O cenário não é bom. Preciso dizer isso. E isso, repito mais uma vez, não está calcado somente no cenário da crise formal que temos vivido. Claro que a escassez, a dúvida, a insegurança, o medo, a inconstância e a impotência nos remetem ao pior de nós mesmos, e quem não tem procurado se calçar de fortalecimento mental, emocional e espiritual necessários, sofre mais e acaba por cometer deslizes graves e que estão ficando muito evidentes nas organizações.
A crise da qual eu falo aqui, e que vem se agravando nos últimos anos, diz respeito à distorção de valores, imaturidade pessoal, volatilidade emocional, falta de exemplos de berço e ao longo da vida, escolhas ruins, visões impingidas por padrões mal formulados e disseminados por personas que, a meu ver, não têm estrutura, bagagem e vivência suficientes para, da noite para o dia, virarem referências nacionais, adoradas por públicos carentes e despersonalizados. Estamos numa era de equívocos, de conteúdos enlatados, de comportamentos infantilizados, de promessas e heróis efêmeros, de modelos sem nenhum modelo passível de admiração, de atitudes estereotipadas. Estamos perdidos em nossos próprios castelos.
As relações profissionais estão doentes. Os personagens principais estão adoecidos. Os coadjuvantes estão tentando sobreviver: aqueles que querem mudar algo, de fato, mas estão sofrendo com apoios quase que nulos. E os sintomas são claros:
Das pessoas:

conselheira de Carreiras da Dra. Empresa Consultoria Empresarial.
- Somatizações em diversos graus;
- Frustração e desencanto;
- Falta de comprometimento;
- Alto desengajamento;
- Tristeza;
- Falta de vontade de trabalhar;
- Sabotagens invisíveis;
- Torcida contrária;
- Baixa autoestima;
- Inseguranças e medos;
- Descrédito e desesperança;
- Falta de admiração pelo líder;
Dos resultados:
- Baixa qualidade;
- Resultados ruins (não atingimento das metas);
- Retrabalhos;
- Perdas;
- Reclamações;
- Clima ruim;
- Conflitos entre pessoas e áreas;
- Queixas de profissionais no RH;
- Relações de trabalho pouco profissionais;
- Relações desrespeitosas;
- Insatisfação em todos os níveis;
- Intolerância em diversos níveis;
- Turnover alto;
- Número alto de faltas, atestados e afastamentos;
- Aumento de acidentes do trabalho;
- Sabotagens visíveis;
- Resultado ruim nas pesquisas de clima;
- Aumento das ações trabalhistas;
- Aumento de reclamações na ouvidoria;
- Greves;
- Boatos;
- Imagem interna e externa prejudicada;
- Inserções negativas nas redes sociais;
Precisamos atuar nessas doenças. Precisamos melhorar nossos cenários. Aplaudimos, por muito tempo, a chamada evolução provocada pela entrada no mercado, há anos, da tal geração que veio para mudar tudo. Como será que essa geração está agora? Continua estimulada no que tem de melhor em seu perfil? Estamos preparados para receber a próxima, que vem muito mais consciente, mais exigente, mais preparada em alguns aspectos, e mais crítica?
Vamos cuidar desse nosso patrimônio com mais carinho? As pessoas não devem se enganar mais e serem enganadas. A era da ilusão precisa passar. Temos que exercer vários papéis e um deles é ajudar as pessoas que vêm de forma não construída, em alguns aspectos, a não se perderem mais. Muito pelo contrário: podemos e temos a missão de ajudá-las a encontrar seus caminhos, o melhor deles, para que não precisem ficar se valendo e repetindo máximas de gurus de prateleira que trabalham para manter a superficialidade do que já temos de montão. O mundo precisa de referências e modelos que ajudem as pessoas a sair dos seus caos particulares, olhando de forma mais desimpregnada para si, para o outro, à frente, para cima e para o melhor.