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Edição 184

Pintura industrial

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Um bom revestimento garante uma maior durabilidade do equipamento ou área, menor interferência no processo produtivo para reparos inesperados ou substituição de equipamentos danificados e, em muitas situações, aumenta o desempenho de processos

Natália Cherubin

Quando olhamos um prédio, uma casa ou qualquer outro local passando por um processo de pintura, sempre imaginamos que o objetivo principal é embelezar aquele ambiente. Mas é muito mais do que isso. É uma forma de proteger as estruturas internas e externas contra ações que podem desgastá-las ou até mesmo comprometer uma estrutura.

As usinas sucroenergéticas necessitam fazer pinturas de proteção em diversas áreas e equipamentos, que vão desde a colheita até a armazenagem do produto final

Assim como em qualquer outro ambiente, dentro de uma indústria, seja ela de alimentos ou bens de capital, a tinta atua como um revestimento de superfícies e tem a mesma finalidade do produto usado em paredes, com uma leve diferença: a pintura industrial tem por objetivo manter as qualidades intrínsecas dos objetos e de seus materiais primários por diferentes técnicas, casos do jateamento abrasivo, da pintura de equipamentos e de pisos.

Uma das maneiras mais importantes de realizar a manutenção de certos equipamentos industriais é através pintura. Afinal, o jateamento de um material não adequado sobre um equipamento com superfície de metal ou similar pode causar corrosão e consequente desgaste ou destruição da peça. Em alguns casos, isso pode ser questão de vida ou morte para algum item.

As usinas sucroenergéticas possuem necessidades de pintura de proteção em diversas áreas e equipamentos, que vão desde a área de colheita até a armazenagem do produto final. Sendo assim, toda a usina pode receber pintura, desde as estruturas de concreto como pisos e vigas, até máquinas e equipamentos de ferro, aço, alumínio etc. De acordo com Sandro de Oliveira, chefe de marketing da WEG Tintas, dornas, cubas, tanques, cristalizadores, caldeiras, tubulações e outros equipamentos da indústria, precisam ainda de proteção química e anticorrosiva ao intemperismo e até mesmo a altas temperaturas. “Áreas de movimentação de pedestres e/ou de máquinas também podem receber proteção contra a abrasividade assim como sinalização, aumentando a segurança e a visibilidade.”

Jonas Guimarães, gerente Comercial da Quimatic Tapmatic, explica que dentro da indústria sucroenergética, em praticamente todas as fases da produção, algum equipamento estará sujeito a condições degradantes. Por exemplo, nos elementos de primeiro contato com a principal matéria-prima, a cana-de-açúcar, o fluxo se torna agressivo por abrasão e impacto. Em seguida, vem o transporte durante o processo produtivo, como bombeamento, onde o caldo da cana extraído ainda contém alto teor de particulados (sólidos) que, numa mistura de temperatura alta com considerável velocidade de fluxo, torna-se muito abrasivo e desgasta de forma rápida as superfícies por onde passa.

“O sistema de armazenamento, como os tanques, também requer certo cuidado, uma vez que, tanto os subprodutos armazenados temporariamente entre etapas, quanto os produtos acabados estocados, dependem da boa condição desses recipientes para terem suas propriedades preservadas. Existem ainda outros agentes, como vapores e gases, que tanto podem ser gerados durante os processos produtivos ou mesmo empregados neles. Neste caso, qualquer estrutura que seja alcançada por estes estará sujeita aos efeitos da corrosão”, detalha.

Celso Gnecco, gerente de Treinamento Técnico da Tintas Sherwin-Williams e Antonio Freitas, gerente Comercial da Tintas Sherwin-Williams dividem as áreas que merecem manutenção de pintura dentro de uma usina:

Contato com produto: no caso do açúcar, como a maioria dos equipamentos é em aço carbono, a corrosão pode trazer um fator de desvalorização do produto, que são os pontos pretos e as partículas de corrosão, que contaminam o açúcar. As pinturas modernas permitem que o aço carbono seja usado, protegendo as estruturas e tubulações contra a corrosão. No caso de etanol, o produto ataca as pinturas e as superfícies metálicas produzindo corrosão, e esta ação deletéria pode destruir partes de equipamentos e causar acidentes e paralizações na produção. Com pintura adequada, a durabilidade das estruturas e equipamentos são prolongadas e o patrimônio da empresa é preservado;

Áreas internasa pintura de estruturas e equipamentos na parte interna da indústria é necessária porque as cores, além da proteção contra a corrosão, trazem como consequência, organização, segurança e bem estar para as pessoas que trabalham nestes ambientes. Além disso, é marketing, pois se um cliente visita o fornecedor para conhecer ou para fechar negócios, fica bem impressionado com a qualidade da empresa;

Áreas externas: a pintura de estruturas, equipamentos e tanques serve para proteger contra a corrosão e para sinalizar. As cores utilizadas servem para indicar o conteúdo de tanques e tubulações, por motivo de segurança, e para diminuir as perdas por evaporação no caso de tanques de etanol (que devem ser pintados de branco);

Aplicação de revestimento (Plasteel Flex 80) em correia transportadora

TECNOLOGIAS PARA A INDÚSTRIA

A escolha do tipo de revestimento se dá em função das condições às quais será submetido o equipamento ou área em questão. A partir daí, adota-se o revestimento que suporte altas temperaturas, agentes corrosivos ou abrasivos. Guimarães afirma que geralmente são utilizados materiais como, revestimentos com carga cerâmica, metálica, compostos poliméricos, como os epóxis e até mesmo combinações diversas que conferem maior durabilidade ao revestimento.

“Por ter uma maior abrangência e versatilidade, o revestimento mais usado nas usinas é o Plasteel Cerâmico Azul, que além de proteção anticorrosiva, resiste à abrasão até certo grau. Também há muita demanda para o Plasteel Cerâmico Espatulável, Plasteel Diamantado e Plasteel Diamantada Espatulável, todos utilizados na recuperação de equipamentos desgastados para seu redimensionamento. Estes produtos têm ótima adesão sobre todos os tipos de metais, inclusive o aço inox, preenchendo trincas, furos, recuperando os formatos originais e formando uma barreira de alta resistência, impermeabilidade e impenetrabilidade sobre os equipamentos, protegendo-os contra corrosão, desgaste, cavitação e abrasão por fluxo de caldo de cana, água salina e água contaminada com areia, pedra ou cinza. A camada protetora garante aumento da vida útil dos equipamentos por até duas safras sem parada para manutenção”, afirma.

Espalhador revestido e desgastado após safra

Outro destaque do portfólio da Quimatic é a solda a frio Plasteel Rapid 1:1, empregado como solução imediata para reparos emergenciais em tubulações de vários tipos. O produto permite realizar manutenção em cinco minutos, já que possui aço em sua composição e cura bastante rápida. “Trata-se de uma solução ideal para reparos emergenciais em tubulações com vazamentos e para a recuperação dimensional de peças metálicas com desgaste, trinca ou porosidade”, adiciona Guimarães.

No Brasil, segundo o Pierre Thurler Amorim, engenheiro químico e coordenador de assistência técnica da Renner Coatings, ainda se faz o uso de tintas alquídicas – também conhecidas como esmaltes sintéticos – na pintura de proteção anticorrosiva, produtos efetivamente muito fáceis de aplicar, monocomponentes, porém com grande limitação técnica protetiva, espessuras secas não superiores a 35 micrometros por demão. Ou seja, com expectativa de durabilidade baixa de, no máximo, uma safra.

“A geração de tintas epóxi veio suprir esta lacuna, porém ainda com algumas limitações de resistência química, térmica e de camada por demão. As novas tecnologias contemplam o uso de geração de resinas da família epóxi novolac, que promove um altíssimo cross link (reticulação) do polímero formado, conferindo sua principal propriedade de resistência química. Além disso, pigmentos especiais como o Glass Flake (flocos de vidro) elevam sua resistência térmica e à abrasão – agentes de stress corrosivo de ação contundente nos substratos metálicos”, explica Amorim, que complementa que a nova geração de produtos permite aplicações em camadas elevadas – podendo atingir 1000 micrometros em uma única demão – o que traz um grande diferencial de otimização do processo de pintura, tornando-o mais rápido e permitindo conciliar com cronogramas de manutenção, geralmente apertados.

Para usinas de açúcar e etanol, a Renner Coatings oferece quatro produtos. O Revchem DHR 870, sistema epóxi fenólico novolac de alta resistência química para pintura interna de equipamentos que operam em imersão com temperaturas acima de 60°C; o Revchem NVC DHR 870 GF e Revchem CNT 870, ambos revestimentos da linha 100% epóxi novolac, especialmente projetados para áreas internas de tanques de produtos químicos agressivos e abrasivos e que possuem pigmentação especial com Glass Flake; e por último o Revran TF PNA WT 870, revestimento epóxi curado com poliamina, indicado principalmente para pintura interna de tanques de água potável e que tem como principal vantagem a possibilidade de aplicação em demão única de 400 micrometros (produtos convencionais utilizam três demãos para atingir a mesma camada).

Para Gnecco e Freitas, da Tintas Sherwin-Williams, as tintas à base de resinas epóxi e novolac oferecem altíssima resistência a produtos químicos que são usados na produção do açúcar e do etanol em tanques, caixas e canaletas, além de resolverem um problema até pouco tempo insolúvel na indústria sucroalcooleira, como a pintura de desaeradores e de lavadores de gases.

Bomba de lavagem de cana de inox

“Antes as tintas convencionais só resistiam até 40°C em imersão em água e hoje temos produtos que suportam até 120°C imersos em água e vapor de água. Outra solução que a tecnologia trouxe foi a de tintas que podem ser aplicadas em superfícies aquecidas até 260°C. Com esta inovação, não há necessidade de desligar o equipamento para a pintura, pois basta baixar a temperatura para a aplicação e depois voltar para a temperatura de operação. Há uma economia de tempo e de energia muito grande, permitindo que a produção volte ao normal antes do prazo previsto”, afirmam.

Entre os produtos do portfólio WEG Tintas, Oliveira destaca o Wegpoxi Block N 2912 tipo III, uma tinta epóxi de altos sólidos, recomendada para a pintura interna de lavadores de gases e caldeira; a Weg Fenoxi, uma tinta epóxi fenólica, certificada para o contato com alimentos e recomendada para pintura interna de tanques, dornas, cubas, entre outros; a Wegthane Antifungo 508, desenvolvida especialmente para a pintura de tanques de petróleo e etanol, diminuindo a evaporação e perda do combustível, inibindo a proliferação de fungos, melhorando a aparência e aumentando a vida útil e o intervalo de manutenção; e a Wegpoxi HBA 301, tinta epóxi de alta espessura recomendada para a pintura de pisos de alto tráfego, diminuindo a abrasão e protegendo a superfície de concreto.”

MANUNTEÇÃO DOS REVESTIMENTOS

Gnecco: “hoje, com as novas tecnologias de tintas, o espaçamento entre as manutenções pode ser estendido”

Nos primeiros meses do ano, as usinas sucroenergéticas aproveitam a entressafra para avaliar as condições do maquinário e preparar a estrutura para o próximo período de trabalho. Dados divulgados pela Quimatic Tapmatic apontam que, neste momento, é possível conquistar uma economia de até 80% ao substituir a compra de equipamentos novos pela manutenção, seja ela preventiva ou corretiva.

Um bom revestimento executado dentro dos padrões recomendados, garante uma maior durabilidade do equipamento, menos interferência no processo produtivo para reparos inesperados ou até mesmo substituição dos equipamentos danificados, e em muitas situações, aumenta o desempenho desse equipamento, ajudando na anti-aderência de particulados no substrato, o que causa entupimentos e desbalanceamentos, por exemplo.

Guimarães explica que, em sua maioria, a manutenção é feita durante a entressafra, pois é nesse período que a maioria da planta produtiva está desmontada para se verificar as condições de cada equipamento e se tomar as medidas cabíveis em cada situação, tanto corretivas, quanto preventivas. Contudo, muitos setores precisam de pequenas paradas para ajustes mesmo fora da entressafra. “Neste momento, o uso de produtos de fácil aplicação ajuda muito, pois a aplicação pode ser feita no local e requer cuidados básicos, como limpeza da superfície e curto tempo de cura. Já a frequência e o tipo de reparo para cada máquina ou equipamento, vai depender muito de seu uso e das condições em que trabalha.”

Gnecco e Freitas, da Tintas Sherwin-Williams, afirmam que a frequência da manutenção depende do tipo de equipamento (condições de trabalho), do tipo de tinta e da sua qualidade, dos cuidados durante a aplicação, como uniformidade da camada, técnicas de aplicação (por exemplo um tanque pintado a rolo apresenta chance de defeitos como poros, muito maior do que se a tinta fosse aplicada com pistolas) e cuidados durante a operação, como evitar pancadas e danos por manuseio incorreto de ferramentas.

“Antigamente, a manutenção era realizada a cada entressafra com a parada dos equipamentos. Hoje, com as novas tecnologias de tintas, o espaçamento entre as manutenções pode ser estendido, evitando manutenções a cada uma safra. A boa manutenção não se resume apenas ao tempo entre os eventos, mas também ao procedimento de inspecionar os equipamentos periodicamente, pois qualquer defeito ou ocorrência de danos pode ser corrigida simplesmente com uma intervenção de retoques ou reparos de pequena monta. Se não houver esta disposição de retocar, o defeito ou dano pode se avolumar, se alastrar e, em alguns casos, há necessidade de troca de peças ou da ocorrência de acidentes, o que torna os investimentos em manutenção muito mais onerosos”, salientam.

Já o especialista da Renner Coatings, recomenda que, mesmo com tecnologias mais modernas, seja feita uma manutenção regular durante entressafras, para poder realizar não só o monitoramento da corrosão e a partir daí definir necessidades e programar a próxima safra, mas também para reduzir áreas degradadas, gerando menor repintura.

“Os cronogramas de trabalho geralmente são curtos para a pintura. Isto advém de uma miopia clássica de que a pintura, sendo o final de um trabalho de manutenção mecânico ou estrutural, carrega estigma do visual, aparência, ficando em segundo plano. A pintura de proteção anticorrosiva significa tecnicamente: proteção de ativos, aumento da vida útil de equipamentos, segurança industrial e ambiental, e redução de custos de manutenções corretivas”, finaliza.

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