Um projeto que une experimentação científica e sustentabilidade vai representar Goiás em uma feira de bioinovação que acontece em novembro, na Bahia. A iniciativa foi desenvolvida pela professora de Biologia Gabrielle Rosa Silva, de 29 anos, e pelo estudante Thiago Alves dos Santos, do terceiro ano do ensino médio no Centro de Ensino em Período Integral (Cepi) Osvaldo da Costa Meireles, em Luziânia.
Em reportagem ao G1, Gabrielle contou que a proposta surgiu durante pesquisas na escola sobre reaproveitamento de materiais descartados. O interesse do aluno em testar novos usos para resíduos foi o ponto de partida. “Eu falei assim: ‘Será? Vamos tentar. Mas vamos ver qual é o material que a gente mais descarta de forma comum e que tem maior quantidade de celulose’. Aí, eu falei: ‘vamos tentar o bagaço da cana-de-açúcar’. Porque a gente vai à feirinha e vê as pessoas consumindo, mas o bagaço sendo descartado”, disse a professora.
Como funciona a produção
O processo de produção do tecido exige várias etapas. Após a higienização, a biomassa passa pela extração da celulose, que dura cerca de três horas. Segundo Gabrielle explicou ao G1, são utilizados água e soda cáustica sob temperatura constante de 80ºC para quebrar os compostos orgânicos e liberar a celulose. Em seguida, o material é clarificado com água oxigenada.
O passo seguinte é chamado de “formação”, quando o bagaço perde o aspecto rígido e se torna viscoso, parecido com algodão. A partir daí, é feito o processo de fiação e, depois, os ajustes finais. Todo o ciclo leva em torno de dez dias. “Fica como se fosse um mini algodão. Então, a gente faz o processo de fiação, que é a formação de um fio. Depois, a gente faz os ajustes finais”, detalhou a professora em reportagem ao G1.
De acordo com a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), o Centro-Sul processou cerca de 679,7 milhões de toneladas de cana na safra 2024/25. Cada tonelada moída gera, em média, 250 quilos de bagaço, o que representa aproximadamente 170 milhões de toneladas por safra.
Grande parte desse volume é aproveitado pelas próprias usinas para cogeração de energia elétrica e térmica, enquanto outra fração menor é destinada a usos como ração animal. Mesmo assim, a entidade avaliou como positivas iniciativas como a da professora e do estudante, destacando ao G1 que projetos assim “ampliam o uso sustentável dos resíduos da cana, por estarem alinhados aos princípios de circularidade e bioinovação que o setor vem promovendo”.
Resultados e próximos passos
Segundo Gabrielle, o rendimento ainda é limitado: cerca de um quilo de bagaço gera tecido equivalente ao tamanho de uma mão. “O rendimento é muito baixo, então a gente precisa fazer esse processo várias vezes”, explicou.
Apesar da escala reduzida, a educadora acredita que a ideia pode ganhar mercado com maior divulgação e investimentos. “A gente precisa, de fato, divulgar, mostrar para as empresas que a gente é capaz de desenvolver, nem que seja, por exemplo, a parte inicial. Mas a gente precisa mostrar que a gente consegue fazer algo para que eles também consigam produzir em sala industrial”, afirmou em entrevista ao G1.
Gabrielle e Thiago vão apresentar o trabalho na II Feira de BioInovação Territórios do Brasil (FBioT Brasil), que será realizada entre os dias 27 e 30 de novembro, no Instituto Federal Baiano, em Uruçuca, na Bahia.
