Nos últimos 30 pregões, a Raízen ficou abaixo de R$ 1 na B3 — um sinal técnico que exige plano de reenquadramento. Para muitos, isso soa como naufrágio. Para quem vive o setor, é apenas uma fase de mercado que precisa ser explicada com calma.
O que significa isso na prática? A B3 determina que empresas abaixo de R$ 1 por 30 sessões sejam notificadas para apresentar um plano. As medidas possíveis são conhecidas:
• Grupamento de ações (inplit) — reorganização matemática, não mudança de valor.
• Ajustes de governança e comunicação.
• Possível saída temporária de alguns índices.
Nada disso é punição ou sinal de quebra. É procedimento técnico para evitar distorções de preço.
A Raízen está em crise? Calma, uai.
A cotação mostra percepção, não essência. O mercado reage a:
• Endividamento maior;
• Margens pressionadas;
• Juros altos;
• Ceticismo com setores intensivos em ativos.
Mas quem conhece o setor vê o outro lado:
• A maior plataforma integrada de bioenergia do mundo;
• E2G em escala inédita;
• Distribuição ágil e competitiva;
• Operação agrícola e logística que entrega do canavial ao posto.
O mercado olha o curto prazo. O campo olha décadas.
Isso muda o dia a dia da Raízen? Não. Produção, vendas, logística, contratos, usinas — tudo segue normal.
A notificação da B3 é administrativa, com impacto reputacional, não operacional. Ou, como diria um mineiro:
“Não muda o serviço. Só muda o cartório.”
O que acontece agora?
A empresa deve comunicar um plano, eventualmente fazer grupamento e reforçar governança. Todos caminhos conhecidos e sem efeito na operação. É ajuste de vitrine, não de cozinha.
O que o mercado esquece — e o setor lembra
Raízen é filha de Shell + Cosan.
Seus ativos levaram décadas para nascer e não são copiáveis.
E, no mundo real — o do posto, do caminhão, da lavoura — ela segue entregando:
• Crescimento em biocombustíveis;
• Eficiência agrícola forte;
• Aceleração no E2G;
• Presença robusta no B2B e varejo;
• Logística integrada admirada globalmente.
Quem entende o setor sabe: preço de tela não conta história de gigante.
O olhar do sábio mineiro
Bolsa é igual rio de cheia: num dia sobe, noutro derrama. Quem vive de cotação vive de susto. Quem vive de operação vive de resultado. A Raízen tem desafios? Tem. Mas tem também o mais raro: gente boa, ativos sólidos e uma estratégia olhando 2035, não sexta-feira.
A cotação se ajusta com tempo, técnica e comunicação. A operação — energia, logística, inovação — segue firme como chão de terra batida no sol de janeiro.
*Wladimir Eustáquio Costa é CEO da Suporte Postos, especialista em mercados internacionais de combustíveis, conselheiro e interventor nomeado pelo CADE, com foco em governança e estratégia no setor downstream.

