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Agrícola

Tecnologias em plantio de cana mecanizado: o que evoluiu até o momento?

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Novas tecnologias embarcadas, como automatização e sensoriamento remoto, tem contribuído para melhoria do plantio mecanizado, reduzindo o gasto de mudas e as falhas, considerados gargalos da operação

Natália Cherubin

O plantio mecanizado de cana-de-açúcar continua a ocorrer ainda na maior parte das usinas brasileiras, mesmo com o crescimento da meiosi ao longo dos últimos anos. Hoje, de acordo com os mais recentes levantamentos disponíveis com uma amostragem de usinas realizadas pelo IAC e pelo Pecege para a região Centro-Sul, entre 54 a 57% do plantio de cana-de-açúcar é realizado de forma mecanizada, modalidade que tem crescido em algumas regiões, como Minas Gerais, muito devido a falta de mão de obra disponível para a operação manual.

Mas a grande questão é: as tecnologias de plantio de cana evoluíram ao longo dos últimos anos a ponto de eliminar ou mesmo reduzir o gasto de mudas e o índice de falhas, apontados como os principais gargalos da operação mecanizada?

Para Sérgio Gustavo Quassi de Castro, engenheiro agrônomo e pesquisador da Agroquatro-S, as plantadoras evoluíram bastante nos últimos dez anos. “É praticamente uma nova máquina. As tecnologias hoje ofertadas pelo mercado mantém a estrutura, a capacidade de muda, o formato do sulcador, o espaço físico dos itens, mas em termos de tecnologia e desempenho, é uma nova máquina”, disse à RPAnews.

Para ele, as principais evoluções estão no quesito da automatização, da inserção de novos sensores para redução de falhas e controle da distribuição de toletes, ajustes na canaleta foram feitos para que os toletes fluam, evitando danos na entrada do implemento após a haste do sulcador, removendo torrões, deixando o solo mais preparado e sem bolsões de ar para disposição dos toletes. A inserção de diferentes caixas, seja para aplicar óxido de cálcio, magnésio, seja para aplicar produtos organominerais também foram novidades que surgiram nos novos modelos de plantadoras de cana.

“Hoje temos caixas extras que permitem fazer aplicação de outros produtos. Por exemplo, tem plantadora que tem tanque para aplicação de calda química, um tanque só para aplicação de fungicida e outras plantadoras que tem tanques exclusivos para aplicação de biológicos como microrganismos solubilizadores de fósforo. Com isso, temos vários produtos com micro-organismos vivos que passam a ter um desempenho melhor ao serem aplicados durante a operação de plantio. Vejo isso como uma evolução”, destaca Quassi.

Além disso, outro grande destaque é a automatização das máquinas que, além de permitir rodar três turnos reduzindo custos de operação e mão de obra,  trouxe maior eficiência de plantio, com redução de falhas e melhor manutenção na taxa de distribuição dos toletes, embora Quassi acredite que este último item continua sendo o principal ponto de melhoria.

“Eu acredito que o sistema de distribuição dos toletes usado ainda não seja o mais adequado, pois vimos em pesquisa do CTBE outros sistemas que trabalhavam com um sistema mais ordenado. No entanto, infelizmente o laboratório fechou as portas e não deu para seguir o projeto. Hoje, o ‘calcanhar de Aquiles’ segue sendo a forma como são distribuídos os toletes. Os sistemas atuais, de quaisquer máquinas do mercado, ainda são semelhantes. Não acho que esse é o melhor modelo. Daria para fazer alguns ajustes para termos uma maior economia de mudas”, opina Quassi.

Luiz Carlos Dalben, que atuou como produtor de cana até o final de 2022, revela que desde quando começou a trabalhar com a plantadora de cana, há 10 anos, muita coisa mudou. “Era outra plantadora, totalmente diferente. Conseguimos fazer regulagens e melhorar a questão do volume de mudas. A própria fabricante, não só a da nossa máquina, a DMB, mas outras, melhoraram muito as tecnologias. Chegamos a um número de volume de mudas compatível com o manual. Sempre cai um pouco mais de cana que o manual, mas, mesmo assim, melhorou muito ao longo dos últimos anos”, disse à RPAnews.

 

Evoluções tecnológicas das principais fabricantes do mercado

O plantio mecanizado é mais antigo do que muitos pensam. Apesar do boom da adoção da tecnologia ser mais recente, em 1999 a DMB, hoje um dos principais players do mercado em tecnologias de plantio, lançava a sua primeira plantadora de cana.

Esse mercado evoluiu bem devagar uma vez que ainda havia muita colheita manual de cana queimada e muita mão de obra disponível. Auro Pardinho, diretor de Marketing da DMB, lembra que, muitas vezes, as usinas mantinham o colaboradores da colheita manual na entressafra fazendo o plantio manual.

A plantadora automatizada da DMB foi passando por melhorias com a implementação do sulcador com dispositivo destorroador, das caixas para aplicação de óxidos de cálcio e magnésio e dos controladores de distribuição de toletes e insumos até chegar aos detectores de falhas e o uso da telemetria para controle do plantio em tempo real. (Foto/Divulgação)

 

“Durante a safra 2004/2005 começou haver um crescimento da cultura da cana-de-açúcar. Com o crescimento da colheita mecanizada começou faltar mão de obra e a procura por plantadoras de cana voltou. Foi quando, em 2006, a DMB lançou uma nova plantadora de cana com maior capacidade de carga e cabine para o operador”, relembra Pardinho.

A máquina foi passando por melhorias até que em 2014 a companhia lançou a plantadora automatizada, que dispensava a necessidade do operador para fazer o plantio. “Desde essa época, a PCP 6000 Automatizada foi passando por melhorias com a implementação do sulcador com dispositivo destorroador, que faz o preparo de solo ideal no sulco de plantio, das caixas para aplicação de óxidos de cálcio e magnésio, dos controladores de distribuição de toletes e insumos até chegar aos detectores de falhas e o uso da telemetria para controle do plantio em tempo real”, destaca Pardinho.

Uma das melhorias mais esperadas e que, na visão dele, foi alcançada, é a redução significativa do consumo de mudas. Hoje o consumo de mudas no plantio mecanizado com a PCP 6000 Automatizada é similar ao plantio convencional, chega a gastar entre 10 a 11 toneladas de muda por ha, podendo diminuir ainda mais, de acordo com Pardinho.

“Com ela também conseguimos a redução no índice de falhas no canavial. Com o sensoriamento com detecção de falhas é possível calibrar a PCP 6000 Automatizada para parar o plantio, ou seja, travar a máquina, caso ocorram falhas superiores a um metro”, explica.

Além disso, com o uso da telemetria é possível acompanhar o desempenho da PCP 6000 Automatizada em tempo real desde que tenha cobertura 4G na área de plantio ou cobertura satelital. “Essas tecnologias além de melhorarem muito a qualidade do plantio mecanizado, facilitam muito a gestão do sistema possibilitando que o planejamento seja realizado totalmente dentro dos parâmetros adequados e ideais”, adiciona Pardinho.

De olho no mercado, a TMA, que nasceu como fabricante de implementos agrícolas, lançou seu primeiro protótipo de plantadora de cana-de-açúcar em 2004. A companhia iniciou com uma plantadora de transmissão mecânica e cabine lateral (veja foto abaixo).

Foto 1: A TMA, fabricante de implementos agrícolas, lançou seu primeiro protótipo de plantadora de cana-de-açúcar em 2004. A companhia iniciou com uma plantadora de transmissão mecânica e cabine lateral. (Foto: Divulgação)

Em 2007, a máquina passa por uma evolução, com adoção da transmissão hidráulica e cabine central (Veja abaixo). Entre 2006 e 2007, a plantadora passou com ajustes de campo, com apoio da equipe de plantio da Usina São Martinho, e as evoluções principais foram o reposicionamento da cabine, o assoalho (fundo) móvel, melhorias no sulcador, engate pantográfico e instalação de motores hidráulicos para movimentar as esteiras, já que a primeira versão do projeto era por correntes.

Em 2007, a máquina passa por uma evolução, com adoção da transmissão hidráulica e cabine central. (Foto/Divulgação)

No final de 2008, de acordo com os especialistas do Departamento Tecnologia da TMA, a companhia lançou a primeira plantadora semiautomática com a retirada da cabine, adição do sistema de vídeo monitoramento e com sistemas hidráulicos controlados remotamente.

Em 2014, a TMA iniciou o protótipo, lançando em 2015, da primeira plantadora 100% automatizada, com controle de vazão e taxa fixa ou variável dos insumos, além dos acionamentos automáticos dos cilindros hidráulicos por meio de sensores.

“Hoje, grandes players do setor como Raízen, São Martinho e Cofco, reconhecem e usam a tecnologia de automação de nossos produtos, que acoplam muito bem com os tratores agrícolas. Usamos tecnologia de ponta nos sistemas hidráulicos para automação com comandos variáveis PVG para não aquecer o óleo hidráulico do trator”, adicionam os especialistas do Departamento de Tecnologia da TMA.

“Sempre fomos inovadores e persistentes na busca por novas tecnologias, nos tornando pioneiros em vários aspectos. Com a implantação de sensores de nível e desenvolvimento de lógica de controle eficiente retirando o controle manual do operador, garantimos precisão e qualidade. A automatização trouxe maior precisão, eficiência, redução do consumo de combustível e maior disponibilidade do equipamento. O implemento tem atendido as expectativas dos clientes no quesito redução de mudas por hectare plantado, redução na manutenção, acesso do cliente em tempo real e envio para os centros de operações dos registros da produtividade”, salientam os especialistas do Departamento de Tecnologia da TMA.

A equipe ainda revela que TMA estuda outros avanços tecnológicos a fim de garantir ainda mais performance ao plantio mecanizado. “Queremos oferecer máquinas com mais tecnologia embarcada para controle total dos toletes, sem desperdícios e com garantia de continuidade da distribuição desejada sem falhas”, adicionaram.

Pardinho afirma que, apesar de outros métodos de plantio surgirem, ele acredita que o sistema atual de plantio mecanizado ainda terá um bom tempo de utilização e espaço para melhorias e crescimento.

“Na DMB pensamos cana-de-açúcar 24 horas por dia, portanto, sempre estaremos estudando onde poderemos melhorar ainda mais a performance de nossa plantadora assim como dos outros produtos que possam colaborar com melhores produtividades. Por mais que as tecnologias tragam melhorias para o bom desenvolvimento da cultura da cana, não podemos nos esquecer que, quem fará tudo isso acontecer serão as pessoas envolvidas no sistema. Sendo assim, temos que estar sempre atentos ao desenvolvimento e bem estar dessas pessoas para que todos possamos colher os melhores resultados do que foi planejado”, destaca Pardinho.

Adesão a tecnologia e experiência rende bons números

A Ipiranga, grupo sucroenergético com quatro unidades produtivas nos estados de São Paulo e Minas Gerais, faz 60% do plantio de forma mecanizada. Segundo Bernardo Titoto, diretor Agrícola da Ipiranga, para melhorar os seus resultados a companhia iniciou o monitoramento de falhas com o uso de Vants, que tem ajudado a identificar os problemas no plantio e agir na causa raiz.

“Ainda somos muito adeptos ao plantio mecanizado. Porém, aprendemos que em áreas declivosas a qualidade do plantio mecanizado cai muito. Assim, planejamos o plantio de meiosi nessas áreas declivosas para deixar o plantio mecânico somente nas áreas melhores. Em áreas boas, o plantio mecânico tem a mesma qualidade e mesmo custo de um plantio manual. Uma das maiores vantagens é que utiliza bem menos mão de obra, que está cada vez mais escassa. Todas as nossas plantadoras são automatizadas e acredito que isso também contribuiu muito para redução de muda e qualidade do plantio”, afirma Titoto.

Hoje a companhia gasta 13 toneladas de muda por hectare no plantio mecanizado com um índice de falhas de 4,3%. “Na nossa opinião, a maior parte do estrago vem da colheita de muda. Hoje nossas colhedoras tem kit de mudas e também computador de bordo para melhor monitoramento da velocidade”, disse.

Para Titoto, a tecnologia das plantadoras vem evoluindo muito. As plantadoras novas, segundo ele, possuem muito mais tecnologia que as antigas e as automatizações e câmeras estão contribuindo muito para melhorar a qualidade e reduzir os custos da operação.

“Temos que ter um manejo integrado de plantio, porque todos têm as suas vantagens. Um plantio mecânico bem feito, muitas vezes é melhor que um manual. Mantem muito mais a umidade no sulco nas épocas em que é realizado mais cedo e utiliza menos mão de obra. Além disso, otimiza o uso dos equipamentos de safra na entressafra. Porém, tem que ser em áreas de baixa declividade. Já a meiosi, tem como grande vantagem o menor consumo de muda e, consequentemente, menor custo, porém, utiliza mais mão de obra. Desta forma, estamos fazendo nosso planejamento deixando as áreas declivosas para meiosi e as áreas melhores para o plantio mecanizado”, revelou.

A Cerradinho Bio, localizada em Chapadão do Céu, Goiás, faz 100% do seu plantio de forma mecanizada. Ao longo dos últimos anos, conseguiu reduzir o gasto das mudas de 20 t/ha para 14 t/ha. O índice de falhas tem reduzido substancialmente também, da média de 5,56% de três safras atrás para 2,92% e 2,98% nas duas últimas safras, respectivamente.

“Nossa experiência é muito positiva com a mecanização, nascemos como uma usina de plantio mecanizado e apostamos que as dificuldades que aparecem precisam ser trabalhadas para evolução do sistema de plantio. Portanto, não retrocedemos em nenhum momento. Compensamos o uso de muda maior no sistema mecanizado comparado a sistemas manuais justamente com a necessidade do menor custo de mão de obra envolvido no processo”, explica Luiz Fernando de Almeida, gerente de Desenvolvimento Agrícola da Cerradinho Bio.

A operação da CerradinhoBio é enxuta de máquinas e equipamentos e, de acordo com Almeida, para funcionar bem e entregar o resultado esperado, a companhia trabalha para garantir que a operação ocorra dentro do padrão de qualidade estabelecido, indo desde o preparo de solo, tratos culturais, passando pela colheita de muda e plantio propriamente dito.

“Todas as operações precisam respeitar as janelas adequadas, os momentos certos de operação, com muda de qualidade, respeitando qualidade do solo e velocidades operacionais”, adiciona.

A companhia é usuária das mais modernas tecnologias disponíveis para plantio mecanizado. Além disso, procura ter contato com o que está em desenvolvimento para amadurecer a tecnologia juntamente com os fabricantes.

“A CerradinhoBio nasceu com a proposta de trabalhar exclusivamente de forma mecanizada, acreditamos na evolução desse sistema, buscando sempre evoluir nessa linha, sem retroceder para operações manuais. Mesmo adotando a mecanização em 100% das operações de plantio e colheita, ainda encontramos alguns gargalos, como a fragilidade de alguns equipamentos utilizados para o processo de plantio de cana-de-açúcar. Equipamentos e sistemas mais robustos certamente irão reduzir as paradas frequentes para manutenção”, destacou.

A BP Bunge, com 11 unidades, tem 80% do seu plantio sendo feito de forma mecanizada. Para Mário Dias Filho, gerente Corporativo de Desenvolvimento Agronômico da BP Bunge Bioenergia, a companhia tem conseguido realizar um plantio mecanizado de alta qualidade.

“Fizemos grandes investimentos com foco em melhoria das tecnologias nas plantadoras, onde todas são automatizadas e possuem alertas de falhas operacionais, que permite que seja identificado e corrigida a tempo. Em relação à meiosi que, como dito anteriormente utilizamos em 20% das nossas áreas, temos uma estratégia de redução de custos para toda aquela área que não é possível plantar com a estrutura própria. Tanto no plantio mecanizado como na meiosi conseguimos ficar abaixo de 4 % de falhas”, disse Dias Filho à RPAnews.

A BP Bunge, com 11 unidades, tem 80% do seu plantio sendo feito de forma mecanizada, gastando 12 toneladas de mudas por hectare. (Foto/BP Bunge)

Além do uso de kit emborrachados, a companhia faz um rigoroso protocolo de qualidade de muda e de manutenção de peças de desgastes, além de um monitoramento da qualidade operacional. Isso permite trabalhar com uma densidade de 12 toneladas de muda por hectare, o que a companhia um bom número para o plantio mecanizado.

“Dentro das tecnologias disponíveis atualmente em plantio mecanizado, utilizamos todas e fazemos as atualizações conforme são lançadas e validadas com o nosso corpo técnico. O setor precisa continuar investindo em novas tecnologias pensando em melhorias operacional e redução de custos”, disse. 

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