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Usina desenvolve novas variedades de cana adaptadas ao solo do nordeste

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Apesar das dificuldades de chuva e solo, o Sertão nordestino não desiste da cana-de-açúcar. A cultura, que já reinou na região até o fim do século XIX – antes do Sudeste passar a apostar no cultivo – e projetou o Brasil com a maior produção de açúcar do mundo, vem recebendo atenção da iniciativa privada. Em parceria com a Ridesa (Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético), a Usina Biosev, braço da multinacional Louis Dreyfus, está apostando no desenvolvimento de novas variedades adaptadas às terras secas e ácidas do Nordeste, onde a empresa possui duas unidades de processamento e mais de 40.000 hectares próprios de cultivo.

Numa área de 2 hectares próxima a Natal (RN), a Biosev plantou 25 mil mudas de cana. Cada planta foi originada de dois genitores diferentes – um pode ter resistência a doenças e outro alto índice de produtividade, por exemplo. Cada cruzamento rende 12 indivíduos irmãos e geneticamente distintos. A localização de cada muda nos mais de 20 blocos de cultivo plantados está catalogada e o desenvolvimento da plantação é acompanhado diariamente. O plantio do canavial foi mecanizado, simulando exatamente o método de trabalho da multinacional em suas áreas comerciais.

O experimento é o primeiro passo de um plano que tem o objetivo de gerar variedades tipicamente nordestinas dentro de até dez anos. "Temos de fazer hoje pensando no futuro. O nordeste do Brasil planta basicamente duas variedades, que são as mesmas cultivadas na maior parte do país", diz Rui Chammas, presidente da Biosev.

Isso representa um risco à atividade. "Se um problema sério (de praga ou doença) atingir um canavial, toda a área com aquela variedade estará ameaçada", afirma Chammas. Confiante no trabalho que vem sendo conduzido pelos pesquisadores da Ridesa, o executivo espera que o tempo para se ter uma nova cana nordestina possa ser inferior a uma década. "Se alguém tivesse feito no passado o que estamos fazendo hoje, talvez não teríamos o quadro atual, com número tão limitado de variedades cultivadas", diz.

A colheita da área experimental, também mecanizada, está programada para o primeiro trimestre de 2017, quando os técnicos passarão uma nova "peneira" no lote, selecionando o que deu certo e analisando as mudas menos interessantes.

"A partir da rebrota é que avaliamos a qualidade do material. O melhorista entra para ver as variedades que sofreram ataque de pragas e outros tipos de problemas", explica Ricardo Lopes, diretor agrícola da Biosev. A estimativa dos técnicos é de que sejam feitas ao menos quatro seleções de materiais até se chegar à escolha de uma variedade que, em seguida, será multiplicada e plantada comercialmente na região.

A maior dificuldade da pesquisa no desenvolvimento de uma nova planta de cana está relacionada às condições climáticas do nordeste brasileiro, diz Djalma Eusébio Simões Neto, coordenador do programa de melhoramento de cana da Ridesa na Universidade Rural de Pernambuco. "O desafio é desenvolver variedades com solos muito ácidos, extremamente arenosos e com distribuição irregular de chuvas. Aqui elas se concentram em quatro ou cinco meses por ano. Ou seja, ficamos com um déficit hídrico muito grande, e às vezes em diferentes épocas, durante boa parte do ano", afirma.

926 mil hectares é o tamanho do cultivo de cana no nordeste do Brasil, enquanto no centro-sul a área da lavoura é de 7,9 milhões de hectares

A instituição coordenada por Djalma é responsável pelos trabalhos de pesquisa em seis Estados do Nordeste e já lançou mais de 90 variedades em 25 anos.

Mesmo com rendimentos muito abaixo do potencial e inferiores às médias do Sudeste, o coordenador da Ridesa comemora os ganhos de produtividade na região desde a criação da rede.

"Em condições normais, a gente tinha aqui em torno de 40 toneladas por hectare e 90 quilos de ATR (quantidade de açúcar disponível por hectare). Hoje, esses índices estão em 70 toneladas por hectare e 135 quilos, em média, respectivamente", conta.

Irrigação em alta

Em paralelo ao desenvolvimento de novas variedades, cresce o número de canaviais irrigados no nordeste do Brasil. A estratégia, apesar de exigir altos investimentos, tem rendido bons frutos à região, que na última safra aumentou o espaço dedicado à cultura, conforme dados oficiais. A estimativa da Ridesa de Pernambuco é que ao menos 33% dos canaviais localizados nos chamados Tabuleiros Costeiros, região que abrange a costa do litoral nordestino até o Sudeste, contam com algum tipo de irrigação. Um dos métodos mais recentes e que tem ganhado espaço no campo é a irrigação por gotejamento.

A Biosev investiu R$ 6,8 milhões para viabilizar o sistema em 400 hectares (R$ 17 mil por hectare). Com água e adubo na dose certa, a empresa ampliou o leque de variedades, plantando sete materiais diferentes numa área com o sistema, que deve render perto de 110 toneladas por hectare – mais que o dobro da média nacional, apontada pela Conab.

A Netafim, empresa israelense líder mundial na tecnologia, implanta a cada ano 7.000 hectares de gotejamento no nordeste do Brasil – 21% são para a cana.

 

Fonte: Revista Globo Rural

 

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