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2019: número de usinas com pedido de RJ foi recorde
Muito além de ter batido seu recorde na produção e consumo de etanol, o ano de 2019 foi marcado por outro recorde no setor sucroenergético. Este um pouco mais negativo. Foi o ano em que houve o maior número de usinas entrando em recuperação judicial. Até o momento, 25 unidades protocolaram a RJ.
Os pedidos mais recentes foram das usinas Bioenergia do Brasil, localizada em Lucélia, SP, e da Usina Santa Rosa, de Boituva, SP. O recorde anterior era de 13 usinas, que requereram em 2015, ou seja, em 2019, até agora, teve 85% a mais de usinas requerendo RJ do que no recorde anterior.
No entanto, vale destacar que esse número não se refere a grupos econômicos. “Obviamente temos dois grupos grandes que requereram RJ esse ano e que impactam na quantidade de usinas. Um é a Atvos e o outro é a Santa Terezinha. Mesmo assim, o número de usinas é recorde desde que a recuperação judicial foi regulamentada e entrou em operação em usinas canavieiras”, diz Ricardo Pinto, sócio-diretor da RPA Consultoria.
Das 25 usinas que protocolaram a RJ em 2019, 10 estão no Paraná, sete estão em São Paulo, três em Goiás, três em Mato Grosso do Sul, uma no Mato Grosso e uma em Minas Gerais.
Não é o pior ano da crise
A interpretação de qualquer um é que se 2019 foi recorde em número de unidades com pedidos de RJ, então vivemos o pior ano da crise que atinge o setor desde 2008. Mas isso não é verdade.
“O crescimento do endividamento em 2008 e os preços reprimidos de açúcar e etanol a partir de 2011 foram uma combinação perversa, lastreada pelo etanol, e, posteriormente, pelo açúcar também entrando em uma faixa de preços próximos ou abaixo do custo de produção do Brasil. Essa crise se acelerou a partir de 2014 e o que estamos vendo é o final de anos sucessivos de preços baixos, alto endividamento e custos altos. O que vemos é o auge desta crise acumulada de alguns anos se mostrando no número de RJs”, afirma o sócio-diretor da RPA Consultoria.
Mesmo assim, ele projeta que o setor deva ter mais três ou quatro unidades entrando com pedindo RJ até o final do ano safra.
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Desafios: redução dos custos
O setor chegou ao fundo do poço sob o ponto de vista de preços ruins. A safra 2020/21 já aponta um cenário de produção mundial menor do que o consumo. Mesmo ainda tendo estoques significativos de açúcar, já existe uma pressão para que o preço se recomponha. De acordo com Ricardo Pinto, é possível esperar o açúcar atingindo os US$ 14 cents. “Esse é um sinalizador de que o fundo do poço de preços de açúcar atingimos.”
Com relação ao etanol, o consultor afirma que a demanda crescente no mercado doméstico e a paridade que a Petrobras vem mantendo nos preços internacionais está dando uma segurança maior de que o etanol daqui para a frente continuará sendo remunerador, diferente de um passado recente. “O fundo do poço de preços acho que está resolvido. O Renovabio é uma importante cereja no bolo, do ponto de vista de preços de etanol. Nosso bolo estava sem cobertura, sem cereja e agora vai ter.”
Mesmo assim, de acordo com Ricardo Pinto, depois de anos de crise, não serão os preços que irão salvar o setor. Na visão dele, muitas usinas vão precisar se reestruturar e até mesmo “trocar de mãos”.
“Essas usinas vão ter que ser reorganizadas, via de regra, buscando maior competitividade de custo de produção. Esse é o grande lema. O grande tópico desse setor no Brasil em relação ao resto do mundo, nosso baixo custo de produção. Então a lição de casa das usinas de trabalhar nisso continua muito forte. Uma outra fronteira importante a ser vencida é a da produtividade agrícola, a cana hoje em muitas usinas representa 80% de todo o custo de produção e isso é muito alto. Grande parte disso está em função da produtividade agrícola, que está estagnado nos últimos anos”, afirma.
O grande desafio não é crescer um pouquinho e voltar para 80 t/ha, mas pensar maior e buscar canaviais de 150 a 180 t/ha, uma realidade que, segundo o consultor, tem que acontecer cada vez mais para que a gente tenha custos atrativos para uma nova fase de expansão e crescimento do setor. “Precisamos crescer nas crises para crescer mais ainda quando tivermos fora dela”, finaliza.
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