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Clima e instabilidade da moeda impactam o endividamento

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A safra 2015/2016 não atingiu as expectativas. Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indicam uma colheita de 178,5 milhões de toneladas, menor que os 200 milhões de toneladas previstas. "Isso explica a dificuldade do fluxo de caixa dos produtores", avalia Álvaro Tosetto, gerente executivo da diretoria de agronegócios do Banco do Brasil. Ele comenta que a última safra se deparou com problemas climáticos que afetaram as regiões do país de forma diferente. No Sul, houve incidência de chuvas. No Nordeste e nos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo, seca.

O endividamento foi um fator preocupante nessa safra, na opinião de Nery Gueler, secretário de política agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). "Foi um ano de crise, em que o crédito estava bastante escasso, mas não houve bolha de endividamento".

Dados do Banco Central indicam que, ao final de setembro, o volume de empréstimos concedidos pelo sistema financeiro aos produtores rurais somava R$ 77 bilhões. Desse total, apenas 0,7% apresentavam atrasos superiores a 90 dias, número que tem se mantido estável nos últimos meses. "A inadimplência está em níveis controláveis", avalia André Mesquita, vicepresidente do Banco Indusval e Partners (BI&P). Os mais afetados, diz, foram os que sofreram com a seca, como os produtores do Sul da Bahia, e os que possuem dívida atrelada ao dólar, como os produtores do Mato Grosso. Ele comenta que produtores de café e do complexo de cana vão muito bem.

Antônio Buainain, professor do Instituto de Economia da Unicamp, não associa o endividamento do setor à atual crise econômica, mas ao período de euforia que o setor viveu em passado recente. "Houve uma combinação de perspectivas muito positivas para muitos segmentos do setor e crédito fácil, o que levou ao endividamento". Assim, conclui que "o que a crise está colocando é um problema de sustentabilidade desse endividamento".

Cita como exemplo os frigoríficos, que após um forte período de investimentos e euforia com exportações, passam por dificuldades. Ele comenta que a produção de gado no Nordeste, no pólo de Juazeiro/Petrolina, apresenta níveis de endividamento elevados e preocupantes. "Tiveram elevação de custos em função do aumento da energia elétrica e da escassez de água". Destaca, ainda, a queda de preço de commodities no mercado internacional, expostas à flutuação do dólar.

Na avaliação de Antonio Ortiz, diretor de produtos rurais do Itaú BBA, o endividamento do setor, atualmente, é polarizado. O ciclo das commodities, observado em passado recente, incentivou que produtores apostassem na expansão de seus negócios, por meio da compra de terras ou propriedades, por exemplo. "Cerca de 25% dos empresários de médio e grande porte do setor sofreram deterioração importante nos últimos anos por excesso de alavancagem", comenta. "Fizeram uma expansão fortíssima sem reserva de capital". No outro extremo, estão os que aproveitaram os altos preços das commodities para se capitalizar. (Valor Econômico)

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