Edição 184
As últimas novidades do plantio mecanizado
Evoluções tecnológicas e automatização das plantadoras são algumas das soluções encontradas para os principais gargalos da atividade
Natália Cherubin
Em uma de suas últimas edições, a RPAnews abriu espaço para especialistas, produtores e fabricantes de plantadoras discutirem qual, afinal, seria o futuro do plantio de cana. Alguns apontam a MPB (Muda Pré-Brotada) ou a cana semente como as tecnologias que deverão dominar o futuro da atividade, outros, vislumbram o plantio mecanizado tal qual o que temos hoje, mas com algumas evoluções, como o principal método para o plantio da cana. Enquanto não há viabilidade econômica para o plantio comercial de MPB, assim como também não há, em curto prazo, previsão para o uso da cana semente em escala comercial, fabricantes e novas empresas têm evoluído significativamente as soluções existentes e trazido novos conceitos para a mesma operação, resolvendo os principais gargalos da operação: o gasto excessivo de mudas por hectare e as falhas, responsáveis pelo aumento dos custos da operação.
Cientes das reclamações dos produtores com relação as falhas e uso exagerado de mudas, que subiu de 12 t/ha (no plantio manual) para 18 ou até 20 t/ha, a DMB apostou na automação da sua máquina, tirando a responsabilidade das mãos do operador. De acordo com Auro Pardinho, gerente de Marketing da DMB, que lançou o modelo automatizado da PCP 6000 em 2014, a aposta na automação total da plantadora foi por acreditar que era preciso ter a menor interferência possível do homem na operação de plantio promovendo, com isto, uma melhor distribuição dos rebolos nos sulcos de plantio com as mesmas orientações técnicas de cada usina e gastando, em média, de 20% a 40% a menos de mudas.
“Acreditamos que tirar os comandos das cabines das plantadoras e passar para os tratores é apenas um paliativo para a redução de custos com mão de obra na operação, porque, em muitos casos, isto acaba até aumentando o gasto de mudas por conta de todas as operações estarem concentradas na mão de uma só pessoa”, afirma.
Para isso, ele explica que, além de adicionar um sistema eletrônico, que permite que todas as operações da plantadora sejam programadas para o trabalho de plantio, a máquina passou por evoluções em sua esteira dosadora de toletes, que vem com ângulo invertido e devolve para a caçamba o excesso de mudas, e os sensores, que mantém o fluxo de toletes no ponto exato da esteira dosadora, o que evita a ocorrência de falhas.
Até o ano passado, apesar das boas vendas da máquina e dos resultados de testes em campo, ainda não se tinha respostas concretas sobre a melhora na questão do gasto de mudas e na redução das falhas, mas após dois anos, a plantadora, que está sendo utilizada por usinas como Pedra Agroindustrial, Usina Ipiranga, Usina Rio Vermelho e Usina Guaíra, já acumula resultados muito interessantes de gastos de mudas de até 9 t/ha e uma média de 11 t/ha em algumas unidades com mais de 8 mil ha de plantio.
“Entre usinas e fornecedores, atualmente são cerca de 45 clientes que já adquiriram a plantadora automatizada. É importante salientar que é preciso seguir as recomendações técnicas de cada unidade para posteriormente poder ajustar a máquina e conseguir maiores economias. Temos hoje unidades e produtores independentes (fornecedores) trabalhando com nossa plantadora automatizada em seis estados brasileiros com total sucesso e reduções de custos totais do plantio de 10% a 15% e ganhos futuros com maiores produções de cana devido ao menor gasto de mudas”, revela Pardinho.
Ainda de acordo com ele, se considerarmos apenas o valor da tonelada de cana para muda e a venda de açúcar e etanol produzidos pela cana que ficou no campo ao invés de ser plantada (em excesso), há um valor altamente significativo que paga facilmente o custo do investimento na nova plantadora.
“Gostaria de ressaltar que o mercado muitas vezes confunde plantadora automatizada com plantadora sem cabine. Esta máquina é uma plantadora totalmente automatizada onde o tratorista apenas liga e desliga o sistema, através de um IHM com touch screen, e verifica o trabalho realizado por um monitor HD que recebe imagens de cinco câmeras, não tendo nenhuma outra ação sobre o funcionamento da máquina. Outras plantadoras (sem cabine) ainda possuem controles, cujas operações são executadas pelo tratorista”, destaca.
Gustavo Villa Gomes, diretor agrícola da Usina Guaíra, afirma que com o uso de plantadoras mecanizadas e distribuidoras de toletes conseguia chegar a um gasto mínimo de mudas de 16 t/ha, o que o fez procurar trocar uma de suas frentes de plantio. “Fizemos testes com algumas plantadoras automatizadas e verificamos que é possível reduzir um pouco mais este número. No entanto, sabemos que o sucesso do plantio ainda dependerá das variedades de cana e da condição da muda.”
Cassio Manin Paggiaro, diretor agrícola do Grupo Clealco, de Clementina, SP, conta que a usina faz o seu plantio com 12 plantadoras convencionais e com uma média de gasto de mudas de 18 t/ha, às vezes com números um pouco abaixo disso.
“Os equipamentos para plantio mecanizado de cana ainda são muito imprecisos em suas regulagens, principalmente quanto ao volume de mudas, sua colocação no solo e cobertura, ocasionando falhas. É possível trabalhar um pouco abaixo das 18 t/ha, porém, com risco de falhas de distribuição, não corremos o risco. Ainda não investimos em plantadoras automatizadas, embora acredite poderem agregar resultados positivos à operação, principalmente na redução do consumo de mudas e na diminuição de custo por utilizar menor número de pessoas na operação das mesmas”, diz Paggiano, que adiciona que aperformance e a qualidade do plantio mecanizado também estão diretamente relacionadas à qualidade do preparo do solo e da sistematização do terreno e não somente as tecnologias.
Na Pedra Agroindustrial são utilizadas 24 plantadoras para a realização de todo o plantio da unidade. Deste total, 20 máquinas já são automatizadas. Segundo Hebert Trawitzki, gerente Agrícola da Usina da Pedra, as plantadoras automatizadas realmente permitiram a redução do gasto de mudas por hectare, o que trouxe como consequência um menor número de abastecimentos com a muda, melhorando o rendimento de plantio.
“É importante destacar a melhora também na distribuição dos toletes, porque fazer um plantio sem falhas é praticamente impossível, até mesmo no plantio manual. Com o plantio mecanizado a porcentagem de falhas aumenta em função da maior mecanização tanto na colheita da muda como no plantio propriamente dito. Na Pedra Agroindustrial trabalhamos para que esta porcentagem de falhas seja a menor possível, tolerando até 10% (metodologia Stolf, acima de 0,5 m é considerado uma falha). É importante lembrar que falhas no plantio dependem de vários fatores além do equipamento utilizado, tais como variedades, idade, porte da muda e da terra sobre a muda após o plantio.”
Trawitzki adiciona que a plantadora automatizada permite uma distribuição mais homogênea da muda dentro do sulco, pois como o próprio nome já diz, ela dosa a muda automaticamente e não de forma manual, excluindo desta forma um possível erro humano. “Em função disto, temos como resultado um plantio com menor porcentagem de falhas e, consequentemente, redução na quantidade de muda empregada, que no nosso caso foi de 12,5%, ou seja, saímos de uma média de 16 t/ha para 14 t/ha após a utilização das plantadoras automatizadas. É importante destacar que esta porcentagem pode ser maior ou menor, dependendo do grau de desenvolvimento que cada empresa está no processo do plantio mecanizado.”
APOSTANDO NA AUTOMAÇÃO
A Sollus, empresa fabricante de implementos agrícolas desde 2006, oferece o modelo Plant Flex 8080 há 9 anos. Ao longo destes anos, segundo Rodrigo Veloso, gerente de vendas da Sollus, a empresa modificou itens como o peso e o comprimento da máquina, que ficaram menores para agilizar/diminuir o tempo de manobras na operação, e foram criadas as opções de trabalhar sem cabine, transferindo os controles do operador da plantadora para dentro da cabine do trator ou ainda a opção de trabalhar sem cabine, mas com a automação completa das operações, ou seja, tirando o controle das mãos do operador.
“O sistema de automação da máquina permite controlar a taxa de toletes (mudas) e também a quantidade de adubo. Oferecendo a redução dos custos de aplicação destes insumos e garantindo a uniformidade nas taxas aplicadas e menor gasto de mudas. Com a automação é possível depositar uma quantidade de cana no sulco entre 12 t/ha a 18 t/ha. O sistema de automação da Sollus faz a compensação nas taxas aplicadas independentemente da variação de velocidade de trabalho”, destaca Veloso.
Além disso, foram alteradas as esteiras plantadoras, o posicionamento das bicas condutoras e do sistema de cobrição para melhorar a distribuição e cobrição correta dos toletes de cana no sulco.
“Nós temos uma parceria direta com nossos clientes. Essa proximidade nos permite desenvolver melhorias nos produtos visando sempre atender as necessidades apresentadas. Acho que o plantio mecanizado de cana-de-açúcar tem muito a evoluir. O custo atual da operação ainda é muito alto e está aquém da rentabilidade e qualidade que tinha no plantio manual. Mas acredito que o que pode contribuir para a redução destes custos é exatamente o controle da dosagem de toletes (mudas) por hectare de forma automatizada, garantindo um plantio eficaz com menores índices de falhas.”
REDUZINDO OS DANOS NAS GEMAS
A TMA, uma das primeiras empresas a desenvolver soluções para plantio de cana, teve como grande desafio, segundo Márcio Souza Leão, gerente Comercial Corporativo da TMA, quebrar paradigmas sobre o plantio mecanizado. “Trabalhamos em parceria com institutos de pesquisa e usinas para provar a viabilidade do processo. As evoluções aconteceram a partir disto, e provamos que o plantio mecanizado é possível de ser feito em grande escala e com qualidade. Buscamos então a preservação da qualidade das mudas, o menor uso toletes por hectare e todas as tecnologias que pudessem diferenciar nossas plantadoras”, explica Leão.
Usadas em usinas da Raizen, SJC Cargill, Grupo São Martinho, Cofco, Cerradinho, Odebrecht Agricultura, entre outras, a máquina foi projetada e pensada para resolver um dos itens mais importantes que é danificar menos a gema. Segundo Leão, o sistema da fabricante é exclusivo no mercado e trabalha com um ângulo de inclinação que, combinado com seu fundo móvel, promove o abastecimento da esteira de distribuição sem qualquer agressão ao tolete, ou seja, não existe corrente ou qualquer outro elemento que possa danificar as gemas.
“Além disso, conseguimos comprovar que elas proporcionam um menor consumo de mudas por hectare plantado, ao redor de 10 a 12 t/ha em vários ambientes de plantio. A evolução da automatização da plantadora incorporou, além dos mecanismos atuais de agricultura de precisão, rastreamento por câmeras e monitores, e a automação através de células de controles individuais de taxa variável, que controla a vazão dos produtos automaticamente, tanto os toletes quanto os fertilizantes e defensivos. A automação ainda compensa as variações de velocidade de deslocamento da máquina, mantendo constante a taxa de aplicação dos produtos”, detalha Leão.
DIRETO DA ARGENTINA
Se no campo de futebol a disputa é grande, fora deles, mas também no campo, a relação é um pouco mais amistosa e de cooperação. Há mais de 36 anos no mercado, uma empresa argentina de implementos agrícolas chamada Doble TT, investe, desde 2015, em sua nova unidade no Brasil, sediada em Lençóis Paulista, SP, e na fabricação de um novo conceito de plantadora de cana, a NeoZaf 8022, uma evolução do primeiro projeto NeoZaf 6000, lançada em 2013.
Apesar da empresa ser argentina, as tecnologias embarcadas na plantadora NeoZaf 8022 foram todas desenvolvidas por engenharia brasileira para atender as necessidades dos plantios locais. De acordo com Leonardo Barbieri, engenheiro agrônomo e responsável pela área Comercial da Doble TT no Brasil, um dos destaques da máquina é que ela já foi desenvolvida pensando em altas declividades, situação que ocorre em canaviais argentinos. “Ela vem com um sistema exclusivo para auto nivelamento da caçamba, que permite com que a máquina trabalhe em declividades mais acentuadas.”
No entanto, o foco do projeto, segundo Barbieri, é obter a precisão do manual com a eficiência do mecanizado. Para isso a máquina traz características importantes como baixo consumo de mudas, mais simplicidade na operação, leveza e velocidade na operação.
A plantadora é articulada, sendo que a unidade de plantio é acoplada no terceiro ponto do trator, o que garante que os sulcos serão feitos na mesma linha de deslocamento do trator, sempre no local correto, inclusive em curvas de nível mais pronunciadas. Além disso, a máquina conta com computador de bordo de fácil manuseio e interpretação; automação de dosagem de mudas e adubo; compartimento de armazenagem de cana com exclusivo sistema auto nivelante; sistema Split Flow de dosagem uniforme entre os sulcos, isso devido ao exclusivo sistema de dosador de mudas para dois sulcos; sulcador de disco, que reduz ainda mais a necessidade de potência do trator; e menor peso estrutural, possível graças aos pneus Super Flotation (22% menos peso estrutural e 18% maior apoio no solo), que garantem menor compactação do solo.
“Com capacidade para 6 a 8 t de mudas, temos clientes trabalhando com velocidades de 8 a 12 km/h. O consumo de mudas também está superando as expectativas. Até o momento a máquina, no plantio de espaçamento de 1,5m, conseguiu trabalhar com um gasto de mudas de 8 a 16 t/ha, podendo atender outras demandas se necessário. Tem se mostrado muito eficiente, rápida inclusive nas manobras”, destaca Barbieri.
Alguns produtores de Lençóis Paulista já estão fazendo o uso da máquina, caso de Hamilton Rossetto, engenheiro agrônomo e sócio proprietário da PHD-Cana, que iniciou os testes com a máquina em maio de 2015. Segundo Rossetto, a máquina já plantou aproximadamente 1.000 ha com uma estrutura composta por uma colhedora, cinco caminhões transbordos, duas plantadoras NeoZaf 8022 T acopladas em dois tratores de 205 cv, mais o apoio.
“Ao comparamos com as plantadoras que já utilizávamos, esta máquina apresenta um rendimento maior, pois trabalha com uma velocidade maior e é mais rápida em manobras por ser articulada. Quanto ao gasto de mudas, já percebemos uma redução. Hoje estamos gastando, em média, 14,5 t/ha, variando de 12 a 16,5 t/ha dependendo da muda. Também não estamos percebendo problemas com brotação. Mas o que realmente chama atenção é o maior rendimento, que reduz o custo operacional”, revela o produtor, que diz que apesar de ainda estar avaliando diversos aspectos, está muito satisfeito com o que está vendo.
MUITO ALÉM DA TECNOLOGIA
Para o diretor agrícola da Pedra Agroindustrial, que considera o plantio mecanizado muito mais técnico do que o manual, a preocupação com a qualidade em todas as etapas envolvidas neste processo também é fundamental. “Desde a formação dos viveiros, onde a idade da muda é um quesito fundamental, passando pelo preparo de solo, que deve garantir boas condições para o trabalho das plantadoras, até o plantio propriamente dito, onde o cuidado com a terra sobre a muda é um ponto chave, são fatores de sucesso para um plantio de qualidade. Portanto, investir em treinamento de todos os envolvidos neste processo é fundamental, de forma que cada um tenha consciência da importância de seu trabalho. Ninguém se compromete com aquilo que não conhece”, enfatiza Trawitzki.
Além da tecnologia da plantadora automatizada, a Pedra Agroindustrial também investiu na utilização do piloto automático nos reboques de plantadora para que fosse possível efetuar os projetos de sulcação em 100% das áreas de reforma. “Com relação a tecnologia das máquinas empregadas, ainda tem muito a se fazer. Apesar das melhorias na distribuição da muda, ainda estamos longe do ideal, que pode ser facilmente comprovado, avaliando a deposição dos toletes no sulco de plantio. Também existe limitação de plantio em locais com declividade um pouco mais acentuada, onde a máquina tem dificuldade para se manter na linha correta de plantio, escorregando no terreno”, observa.
“As mudanças e evoluções ocorridas no plantio mecanizado não devem se restringir somente aos fabricantes de equipamentos, mas também na gestão do sistema como um todo, começando no planejamento e sistematização da área, preparo de solo, escolha da variedade, escolha do viveiro de mudas, colheita com qualidade e transporte das mudas, terminando na adoção de uma plantadora mais eficiente para a operação”, conclui Pardinho.