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Brasil formaliza tratativas para acordo de livre-comércio

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Brasil e Estados Unidos oficializaram ontem as tratativas para um acordo de livre-comércio. “O que era só um pensamento agora é o seguinte: já estamos oficialmente começando as negociações com os Estados Unidos”, afirmou o ministro da Economia, Paulo Guedes, após reunir-se com o secretário de Comércio americano, Wilbur Ross.

Antes, Ross havia estado com o presidente Jair Bolsonaro. “Foi excelente o encontro com ele. Falou do interesse dos EUA, está seguindo a linha que já conversei com [Donald] Trump lá atrás”, disse o brasileiro. “Acho que nosso comércio, dois países que tem juntos mais de 500 milhões de habitantes, é muito fraco.”

Bolsonaro disse estar “cada vez mais apaixonado” por Trump, ao comentar os elogios do americano à indicação de seu filho Eduardo como embaixador nos EUA.

Disse ainda que Ross o alertou para “armadilhas” no acordo Mercosul-União Europeia que possam inviabilizar o entendimento com os EUA. O brasileiro disse que deve haver preocupação. “A gente parte do princípio de que não há [armadilhas].”

O que é visto nos bastidores como “dor de cotovelo” dos americanos em relação aos europeus foi amenizado por Guedes. Ele afirmou que, após décadas fora dos grandes acordos comerciais, o Brasil voltou a campo. “Negociamos com a União Europeia e agora os americanos querem uma conversa.”

“Combinamos de nos engajar em ambas possibilidades: um acordo com tarifas, envolvendo o Mercosul, e um bilateral, sem envolver tarifas”, disse o secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais, Marcos Troyjo.

O secretário informou que, na condição de presidente temporário do Mercosul, o Brasil vai procurar os demais sócios (Argentina, Paraguai e Uruguai) para estabelecer um cronograma de diálogo com os EUA. “Mas não vamos deixar de negociar individualmente.” Troyjo ressaltou que a intenção é trabalhar pelo objetivo mais ambicioso.

Momento é favorável

O momento é favorável, explicou. Há um alinhamento entre Bolsonaro, Trump, e o presidente da Argentina, Mauricio Macri, a favor de um acordo. Além disso, a Casa Branca detém uma autorização do Congresso para negociar tarifas de comércio com blocos de países, chamado Trade Promotion Authority (TPA). Esse aval expira em junho de 2021.

O Valor apurou que a cautela quanto ao alcance do acordo se deve a incertezas no campo político. Há eleições neste ano no país vizinho e em 2020 nos EUA.

Guedes admitiu que há alguns “quiproquós” na relação entre Brasil e Estados Unidos. Por exemplo, o etanol. As usinas brasileiras, observou o ministro, podem produzir açúcar ou álcool. “A gente pode abrir para eles entrarem com o etanol, mas aí precisaremos colocar nosso açúcar lá”, afirmou. “Está se falando em cota de açúcar e tudo isso.”

Hoje, o Brasil importa 600 mil toneladas anuais de etanol com tarifa zero. A cota expira em setembro. Ainda não está definido se ela será prorrogada ou substituída.

Outro ponto de tensão é o trigo. Em março passado, ficou acertada a abertura de uma cota de 750 mil toneladas por ano. A medida ainda não está implementada.

O ministro destacou que essas questões são menores, diante dos ganhos de um acordo abrangente. A relação com os EUA pode adquirir a dimensão de uma aliança estratégica.

Para além do comércio, o presidente americano fala em uma Organização do Tratado do Atlântico, em vez de Organização do Tratado do Atlântico Norte. Ross, por sua vez, destacou na conversa com Guedes outro exemplo de integração: a fusão de Boeing e Embraer.

Pelo lado brasileiro, a principal reivindicação era o apoio dos EUA à entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Também na visita em março, o apoio foi prometido.

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