Os impactos no setor sucroenergético do NE (Nordeste) diante da paralisação socioeconômica face à pandemia do coronavírus e a queda mundial e acentuada do preço do petróleo já são sentidos no setor. Quem afirma é Alexandre Lima, presidente da Feplana (Federação Dos Plantadores de Cana do Brasil) e da AFCP (Associação dos Fornecedores de Cana de Pernambuco).
De acordo com ele, uma das autoridades mais importantes do setor sucroenergético nordestino, as consequências dos fatos citados já podem ser classificadas como a maior da história do setor. Além disso, Lima revela que no Nordeste, onde atua como presidente da AFCP, não será preciso nem esperar a próxima safra para sentir os pesados danos.
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“Algumas usinas nordestinas, mesmo em entressafra, penam com bastante etanol ainda estocado em seus tanques. Este não foi comercializado por conta da queda acentuada do interesse do consumidor final, dada a radical quarentena social aplicada contra o covid-19. Esta tem sido a realidade já há quatro semanas, ou seja, um mês”, afirma.

Próxima safra
Com relação à próxima safra no NE, Lima afirma que tudo ainda é uma grande incógnita quando o assunto é o pode acontecer. “Mas o fato é que estamos atrelados aos preços baixíssimos do petróleo e a paralisação vertiginosa do consumo de etanol”, relata.
O presidente da Feplana ainda lembra que no Centro-Sul, diante deste cenário pandêmico e seus impactos no baixo consumo de etanol e a queda do preço do petróleo, a situação das usinas estará bem pior.
“Por lá a safra 2020/2021 já está começando. Agora, aqui no Nordeste, ela só começará em meados de agosto ou setembro desde ano” detalha.
Ajuda do governo é fundamental
De todo modo, Lima conta que se o governo federal não atuar de forma urgente e precisa, através, por exemplo, de medidas de crédito para estocagem do etanol das usinas, muitas unidades terão de paralisar a sua moagem porque não terão mais como armazenar em seus estoques o etanol a ser produzido nesta nova safra.
“Isso ocorrerá porque grande parte do combustível fabricado não será comercializado, pois dependerá de se (e quando) a vida e o consumo voltarem ao normal. É preocupante. É uma situação de calamidade”, acrescenta.
Segundo ele, assim como as pessoas em estado grave por conta do coronavírus, o setor sucroenergético também está precisando de algum respirador externo (de medidas governamentais) para sobreviver.
Açúcar volta a ser figura principal no mix
Para Lima, dado os efeitos da queda dos preços do petróleo, o mix das usinas do NE e também do Centro-Oeste, será menos alcooleiro que da última safra. “O açúcar deve ser priorizado na maioria delas. Embora que o mix açucareiro, diante da prioridade a ser dada pelas unidades, não ficará tão interessante assim” acrescenta.
De acordo com ele, é um cenário terrível para onde se olha. Desse modo, o governo federal precisa agir. “É necessário tomar alguma atitude urgente. Se isso não acontecer, temo que um milhão de postos de trabalho do setor poderão ser cortados e muitas usinas começarão a fechar”, alerta.
Mudança brusca na pespectiva
Essa previsão, construída diante da perigosa “tempestade perfeita”, como disse a ministra a Agricultura em relação ao que a sucroenergia brasileira enfrenta atualmente, é bem diferente do que previam especialistas há poucas semanas, antes do coronavírus e queda do petróleo.
A previsão da próxima safra era bastante promissora. Um exemplo é o açúcar, que há pouco era calculado a preços bem altos. A ideia, afirmaram especialistas, era de que o adoçante fosse comercializado a U$ 15,50 de dólar por libra-peso nas bolsas mundiais. No entanto, atualmente, o preço não tem ultrapassado 10 de dólar por libra-peso.