As commodities já estão sentindo o peso da valorização do dólar devido à pandemia do novo coronavírus (Covid-19). A crescente do dólar vem deixando o mercado financeiro instável. A moeda norte-americana, que no começo do ano estava em R$ 4,02, ultrapassou todos os recordes essa semana.
Para Débora Toledo, advogada tributarista e assessora de investimentos, esse é um momento importante para olhar para o agronegócio brasileiro. “É hora de proteger as safras para gerar rentabilidade para o país com as exportações”, garante. Ela acrescenta que é fundamental o gerenciamento de risco das commodities para atravessar essa fase sem entrar no vermelho.
Ainda de acordo com ela, foi-se o tempo que o maior problema do setor estava associado a fatores biológicos e geofísicos, como tempo, condições do solo, pragas, queimadas etc. “A tecnologia permitiu essa redução de risco na produção. Mas agora é muito normal o produtor ser diretamente afetado pela oscilação do preço das commodities”, pondera a especialista.
Para Débora, uma forma de driblar os problemas que podem surgir é através do uso dos derivativos agrícolas. Eles podem ser utilizados tanto para fins de alavancagem do negócio como para fazer hedge.
A prática do hedge, uma operação que fixa o valor do contrato de compra e venda da commoditie para impedir perdas futuras com possíveis oscilações da moeda, tem permitido que produtores e compradores se protejam frente ao aumento no preço dos produtos. “Essas ferramentas já são usadas pelos grandes players do mercado e são essenciais para cobrir os custos e ainda permitir um aumento na margem de lucro”, explica. “Faltam os pequenos e médios produtores aderirem”, afirma.
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A especialista ainda ressalta que, como a moeda-norte americana é usada para fazer essas transações, a alta da mesma faz com que aumente a produtividade interna no país, já que reduz a concorrência com as importações. É hora de aproveitar e produzir muito. Até porque as exportações estão mais competitivas.
Alguns setores do mercado de commodities estão em baixa devido à essa turbulência no mercado de câmbio, como é o caso do boi gordo, que teve queda de 1,6% na segunda semana de março, de acordo com levantamento da consultoria Safras & Mercado. Já as usinas de açúcar do Brasil fizeram hedge de 78% dos embarques, níveis maiores que o normal, para que a safra não sofra com a queda no mercado.
O caso da soja no país (maior exportador mundial do produto) apresenta um cenário otimista, já que os preços foram superiores nas últimas semanas e atingiram o nível mais alto desde outubro de 2018, segundo o indicativo da Safras & Mercado. Com isso, grande parte da safra está protegida da instabilidade financeira global. “Basta olhar o que está sendo feito ao redor e usar de exemplo. O período é complicado para muitos setores. Mas o agronegócio tem tudo para se dar bem com ele. Basta tomar os cuidados necessários”, conclui a assessora.