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Edição 190

Gestão – Falsidade é o que mais incomoda no âmbito das relações pessoais no trabalho

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falsidade.jpg*Beatriz Resende

Falar sobre comportamento das pessoas nas organizações é meu assunto preferido e, é claro, já devem ter percebido isso nos meus textos. E é um assunto que não se esgota. Com tanta evolução que já tivemos nos processos e tecnologias empresariais, e nos recursos voltados à comunicação e informação, além das mudanças globais de mercado, o cenário profissional ainda não atingiu um patamar do sonhado equilíbrio ou evolução quanto ao exercício adequado dos papéis e posturas profissionais e pessoais.

Uma pesquisa feita num grupo de profissionais do setor sucroenergético sobre o que mais irrita as pessoas no trabalho mostrou, numranking de maus hábitos e posturas indevidas, o seguinte resultado, nessa ordem: falsidade; não assumir as responsabilidades pelo que se faz; mentira e puxa-saquismo. Outros itens que foram pesquisados são: fofoca; tagarelice; reclamações em excesso; piadas e pessoas “folgadas”. Sim, tudo isso existe e incomoda muito, não só às pessoas, mas também a quem luta por ambientes mais maduros e profissionais.

Quando olhamos para essa lista de hábitos e comportamentos que não deveriam pertencer a um ambiente chamado de profissional, e toda a seriedade e respeito que esse patamar representa, na verdade não sabemos categorizar qual é ou quais são os piores, não é? A mim, todos encrespam e arrepiam a alma.

Tenho sempre dito nas minhas falas que as pessoas, mesmo que adultas, estão levando para a empresa uma adolescência estendida. Mas quando eu falo nisso, penso em jovens entre 13 a 17 anos, 18 no máximo. Aí, para minha surpresa, e tristeza, não sei qual tomou conta de mim em maior grau, li por esses dias que psicólogos já vem explicando a adolescência em até três fases, sendo a última dos 18 aos 25. Pasmem, meus colegas, e em isso se confirmando (já deve ter sido comprovado), os nossos problemas daqui pra frente serão maiores do que já estão.

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* Beatriz Resende é consultora, palestrante
e conselheira de carreiras da Dra. Empresa –
Consultoria Empresarial.

Esse fator explica muita coisa que temos acompanhado e atestado no dia a dia. Ouço as pessoas falando que isso é característica da nova geração. Discordo em parte. Acho sim que a geração mais nova já veio em berço de valores diferentes sobre a relação de trabalho, se comparada a outras, mas quando olho para os pontos que a pesquisa trabalhou, não acho que a falsidade, mentir, ser folgado, não assumir responsabilidades, fazer fofoca e outros, sejam comportamentos demonstrados somente pelos mais jovens. Longe disso. Apesar de a inteligência emocional ter seu auge a partir dos 50 anos, conforme apontado nos estudos sobre esse tema, a imaturidade das pessoas infelizmente se apresenta em todas as fases do ser humano.

Voltando aos aspectos da pesquisa: tem-se falado sobre a incivilidade das relações de trabalho e da toxidade organizacional. Tudo isto está relacionado ao que vemos: pessoas imaturas, em relações frágeis, seguindo modelos ruins e sem parâmetros, e sem apoio patrocinado para mudar esse ciclo vicioso. Acho que a maior parte das pessoas até tem a intenção de estabelecer uma relação sadia no ambiente em que trabalham. Mas também acho que o meio corrompedor logo as pega, sem muito esforço, fazendo com que elas se voltem para o padrão da natureza desses ciclos: repetição de maus exemplos, descrença, leviandade, leniência, descomprometimento, desencanto, desengajamento, falta de ética, imaturidade propriamente dita, entre muitos outros.

Por que admitimos falsidades, mentiras, pessoas que não assumem suas escolhas e decisões, e ainda os puxa-sacos? Por que ainda não conseguimos atuar nessa instância? Por que achamos que temos que tomar conta só da parte profissional, aquela relativa ao trabalho? E essas posturas e comportamentos vistos não são pertinentes aos intitulados assuntos profissionais? Claro que são! E de responsabilidade de todos: da empresa, dos dirigentes, dos gestores, dos RH´s e das próprias pessoas que querem oportunidades num mercado tão exigente quanto ao que temos hoje.

Se as pessoas se incomodam com isso, e aqui a pesquisa realizada comprova tal fato, as empresas precisam atuar nesse cenário. Como se engajar e ter uma imagem boa do ambiente que estamos, se as pessoas enxergam que além do peso do nome, da marca, do produto, da amplitude conquistada, o microcosmo que ela vive na empresa está adoentado, não há como ter ânimo e energia para dar o melhor delas.

Ao mesmo tempo em que sempre chamo a atenção dos profissionais sobre as suas posturas ruins, aqui eu faço um chamado também às empresas e líderes para focarem-se num projeto que busque estancar esses comportamentos perniciosos, que tornam a cultura permissiva e pouco saudável.

E você, que ainda insiste em atuar desse modo na empresa em que está, fazendo sempre um personagem questionável e longe do perfil esperado de “bom moço/boa moça” que os bons enredos pedem, reavalie isso, pois o caminho da transgressão comportamental e das fachadas institucionalizadas, um dia tenderá a ser alvo de operação “limpa posturas ruins” dentro das organizações. Dentro do mercado já o é.

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