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Agrícola

Irrigação de cana-de-açúcar: o que é fato e o que é fake?

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Irrigação em cana-de-açúcar é um assunto polêmico e ainda rodeado de muitos mitos. Essa semana, continuamos a série semanal sobre irrigação em cana-de-açúcar, produzido pelo pesquisador da Embrapa Cerrados, Vinicius Bof Bufon, à pedido da RPAnews. Confira o que é fato e o que é fake em cana irrigada:

Longevidade do canavial irrigado é maior do que a de sequeiro: FATO

Programa de Cana IAC, lançou uma nova versão da Régua Ambicana. A régua é uma ferramenta que reúne informações necessárias para que o produtor ou usina consiga calcular o potencial da produtividade média dos cinco cortes de seu canavial.

Crédito/Foto: Programa IAC

É fato. O principal fator de redução da produtividade está associado à perda de população de colmos, que é resultado, dentre outros fatores, do pisoteio, abalo e arranquio de soqueira, aumento da infestação de pragas e doenças e degradação da fertilidade do solo. A produtividade de um canavial não diminui porque seu potencial produtivo (genético) dos primeiros anos é superior e vai sofrendo redução ao longo dos anos.

A longevidade de um canavial é frequentemente definida por uma produtividade mínima aceitável. Algumas vezes, esse número é definido empiricamente. Em outras, é baseado em alguma métrica financeira, seja de análise de custo ou de fluxo de caixa. No planejamento anual de reforma de canavial, essa produtividade mínima aceitável também oscila em função da capacidade financeira para custear a reforma e do custo de oportunidade de deixar uma área sem produção, mesmo que baixa, em ano de bom preço do açúcar e álcool.

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Mas, seja empiricamente, ou com base em algum critério, de forma geral, sempre se define uma faixa de produtividade mínima aceitável. Em uma usina com níveis de produtividade inferior, pode ser um TCH (toneladas de cana por hectare) de 40 ou 50. Já nos melhores canaviais do país, a produtividade mínima aceitável pode ser um TCH de 80 ou 90. Contudo, todas essas referências se referem a um canavial de sequeiro.

Se mantivermos essa mesma referência para áreas irrigadas, certamente a longevidade do canavial irrigado aumentará substancialmente. Isso porque levará mais tempo para um canavial irrigado chegar a esses baixos níveis de produtividade, pois ele possui melhores condições hídrica e nutricional no momento da rebrota. Portanto, perde população em velocidade menor que o canavial de sequeiro. O canavial irrigado, além de manter maior população de colmos, oferece melhores condições para o crescimento de colmos ao longo do ciclo.

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Outra questão importante é que a maior oferta hídrica e o melhor aproveitamento nutricional do canavial irrigado permitem que ele compense as eventuais falhas nas linhas por perda de população. Ou seja, uma falha de um metro na linha de cana irrigada tem menor peso na redução de produtividade do que o mesmo metro em área não irrigada.

Contudo, a decisão de renovação do canavial não deve depender somente de variáveis agronômicas. Na verdade, essa decisão deve ser baseada em parâmetros financeiros. Ao observarmos a área irrigada como um negócio individualizado e analisarmos seu fluxo de caixa sem misturá-la com áreas adjacentes de sequeiro, percebemos que haverá uma grande custo de oportunidade se aguardarmos de 10 a 15 anos para que a área irrigada atinja as mesmas baixas produtividades, estabelecidas como referência de reforma para uma área de sequeiro.

Por exemplo, dado que a produtividade de uma área irrigada atingiu um TCH de 110, será mais interessante, financeiramente, aguardar mais cinco anos para que essa produtividade chegue a 80? Ou é melhor já renovar o canavial, tendo oportunidade inclusive de utilizar uma nova variedade e retornar a produtividade dessa área para acima de 200 toneladas por hectare? Enquanto negócio, qual é a melhor estratégia?

Considerando a vida útil dos equipamentos de irrigação, seja de pivô ou gotejamento, é possível conduzir dois ciclos de 8 a 10 anos sem grandes intervenções nesses equipamentos. Mesmo no gotejamento, pode-se optar por trocar apenas as linhas gotejadoras a cada ciclo ou depois de dois ciclos. As linhas laterais (linhas de gotejamento) representam aproximadamente 30% do custo de um sistema novo e, com a troca, poderá operar por mais dois ou três ciclos.

Enfim, comparado a um sistema de sequeiro, é fato que a longevidade do canavial irrigado é maior. Mas enquanto estratégia de negócio, acreditamos que, financeiramente, é mais interessante estabelecer uma produtividade mínima aceitável mais elevada de para o canavial irrigado do que para o de sequeiro. Na prática, isso pode significar um aumento de longevidade ligeiramente menor do que os 12 a 15 anos que comumente se preconiza.

Sistema de produção irrigado é a adição de água ao sistema de sequeiro: FAKE

Definitivamente, outro grande mito. A produção irrigada possui dinâmica e práticas bem distintas da de sequeiro. A mera adição de água a um sistema de sequeiro sem ajustes na escolha de variedades, nutrição, tratos fitossanitários, maturação, logística e outros de outros fatores, jamais permitirá extrair o potencial do sistema irrigado. Portanto, um sistema irrigado de produção não se resume à adição de água a um sistema de sequeiro.

Para mais informações: cerrados.imprensa@embrapa.br; vinicius.bufon@embrapa.br

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