Lucro cai 95%, mas receita líquida da Adecoagro cresce, atingindo US$ 10,5 milhões

Apesar de queda de 4,2% na moagem da cana-de-açúcar, devido ao clima e atraso no começo da safra, a companhia espera aumentar em 15% a moagem da nova temporada

A Adecoagro, com três unidades sucroenergéticas no Brasil, duas em Mato Grosso do Sul e uma em Minas Gerais, obteve um lucro líquido de US$ 2,73 milhões no quarto trimestre de 2022, segundo relatório de fechamento de safra, divulgado na semana passada. O resultado representa queda de 95,4% ante o registrado em igual período de 2021, de US$ 58,75 milhões. Em termos ajustados, o lucro diminuiu 67,5%, de US$ 57,07 milhões para US$ 18,57 milhões.

A Receita Líquida cresceu de US$ 9,2 milhões em 2021, para US$ 10,5 milhões, nos 12 meses da safra 2022/23. De acordo com a companhia, a diferença vem da venda de 23,3 mil toneladas de soja plantadas como cultura de cobertura durante a implementação da Meiosi.  As vendas líquidas totalizaram US$ 197,8 milhões durante o 4T22, 26,3% maior em relação ao ano anterior. Este aumento foi impulsionado pelo maior volume vendido e maior preço médio de venda do açúcar, aliado ao maior volume vendido de etanol anidro, que compensou totalmente a queda do preço médio de venda em relação ao ano anterior.

“Com base no ano inteiro, as vendas líquidas atingiram US$ 603,5 milhões, 12,9% a mais em relação ao ano anterior. Isso foi explicado por os maiores preços médios de venda de açúcar e etanol (hidratado e anidro) aliados ao maior volume de vendas de etanol anidro”, disse a companhia em relatório.

A Adecoagro moeu no quarto trimestre da safra 2022/23, 3.156 milhões de toneladas de cana, valor 152% maior do que o mesmo período da safra anterior, quando a companhia moeu 1.252 milhões de t. Já no acumulado de  12 meses de 2022, foram moídas 10.484 milhões de toneladas nas três unidades, 4,2% menos do que na safra anterior, quando moeu 10.940 milhões de toneladas. Isso se deu, de acordo com a companhia, devido ao início tardio da moagem após uma curta entressafra.

Apesar do início tardio das atividades de colheita com o consequente menor produção, Adecoagro destacou que se beneficiou do cenário construtivo de preços durante o primeiro semestre, principalmente capturando o aumento dos preços do etanol tanto no mercado interno quanto no mercado externo, graças a sua estratégia comercial para estocar de passagem a partir de 2021.

“De fato, esvaziamos nossos tanques de armazenamento de etanol no pico dos preços (venda recorde mensal de 125 mil m3 em abril, a um preço médio de 26,4 cts/lb equivalente de açúcar). Além disso, exportamos 123 mil m3 de etanol anidro a um preço médio de 20,8 cts/lb (762 $/m3) para lucrar com preços mais altos no exterior durante 2022”, disseram.

O EBITDA ajustado durante o 4T22 totalizou US$ 101,1 milhões, 55,5% maior em relação ao ano anterior. Isso foi impactado positivamente por  um aumento no volume de moagem de 1,9 milhão de toneladas em relação ao 4T21 impulsionado pela maior disponibilidade de cana e melhoria dos indicadores de produtividade agrícola;  flexibilidade para maximizar continuamente a produção de o produto com maior contribuição marginal (44% da produção total de ATR desviada para o açúcar comparado a apenas 7% durante o 4T21; e 93% da produção total de etanol foi etanol anidro contra 64% no ano passado); juntamente com o menor custo de produção e maior marcação a mercado de nossa cana colhida, ambos impulsionados pelo maior volume. Em 2022, o EBITDA Ajustado foi US$ 373,8 milhões, US$ 38,9 milhões maior ano a ano.

O início tardio das atividades de colheita no Centro-Sul do Brasil e os fortes preços internacionais do petróleo foram construtivos para os preços no início do ano. “Nós transportamos a produção de 2021 para 2022 para ser vendida a preços mais altos; e esvaziamos nossos tanques no auge dos preços atingindo volumes recordes de vendas (23% das vendas de etanol a preços mais de 26 ct/lb equivalente de açúcar). Em meados do ano, os preços, especialmente do etanol, experimentaram queda pressão causada por mudanças regulatórias no Brasil e por o atraso no reajuste dos preços domésticos da gasolina para refletir a paridade internacional”, afirmou a companhia em relatório.

A companhia revela que conseguiu adaptar a sua estratégia focando na comercialização de açúcar e etanol anidro, enquanto construía estoque de etanol hidratado. Além disso, exportou 35% de anidro para a Europa para capturar um prêmio em relação aos preços domésticos – graças as certificações e capacidade de atender às especificações do produto; e usou o seu bagaço como combustível para desidratar estoques de etanol ao invés de produzir energia devido aos preços mais baixos no mercado spot.

“Os resultados foram parcialmente compensados ​​por maiores custos de insumos, como diesel e salários, entre outros – parcialmente mitigados por nossa estratégia de ser autossuficiente em fertilizantes potássicos, que respondem por 48% do total de nossos insumos agrícolas’ requisitos. Isso não apenas reduz nossa exposição aos preços spot, mas também melhora nosso perfil de sustentabilidade”, disse a companhia.

A produção de açúcar no 4T22 foi de 184,382 mil toneladas e 138,014 mil metros cúbicos de etanol foram produzidos. Com um mix de produção menor, de 35% para o adoçante, no acumulado, a companhia produziu 481,919 mil toneladas de açúcar, 11,9% a menos do que na temporada 2021/22. Já etanol, cresceu 1,1%, saltou de 534,603 mil metros cúbicos para 540,231 na safra 2022/23.

Produtividade e ATR

A produtividade da cana-de-açúcar no quaro trimestre foi 23,7% maior em relação ao ano anterior, atingindo 81 toneladas por hectare, enquanto o teor de ATR apresentou uma melhora de 11,6% totalizando 134 kg/ton. No acumulado, a média de TCH foi 3% menor do que em 2021, atingindo 67 t de cana por hectare. No entanto, a companhia apresentou uma melhora gradual ao longo dos trimestres de 2022 até atingir níveis normais no 4T, conforme esperado, enquanto o teor de ATR atingiu 131 kg/ton, marcando um aumento de 2,2% em relação ao ano anterior.

“Em meados de 2021 uma frente fria atingiu as principais áreas produtivas do Brasil causando geadas danos nas plantações de cana-de-açúcar e redução na disponibilidade de cana-de-açúcar no final de 2021 e início de 2022. Apesar de operar normalmente com base no modelo de colheita contínua, entramos em período de entressafra de dezembro de 2021 a meados de março de 2022 para permitir a recuperação da nossa cana. Os indicadores de produtividade ao longo do primeiro semestre de 2022 foram abaixo da média devido ao impacto tardio do clima adverso. No entanto, eles apresentaram uma significativa recuperação no segundo semestre, já que não havia mais cana afetada pela geada e devido o impacto favorável das chuvas no rendimento”, afirmou a companhia em relatório de resultados

Mais cana na safra 2023/24

Para a nova safra, a companhia está otimista e revela que tem boa disponibilidade de cana e sólidos indicadores de produtividade. “Como esperado, isso nos permitiu retomar nosso modelo de colheita contínua. Atualmente somos um dos poucos players no Brasil moendo e o único player produzindo açúcar. Poder moer cana o ano todo, mesmo na tradicional entressafra, é uma de nossas principais vantagens competitivas”, disseram.

Enquanto a indústria sucroenergética depende de estoques transitados do ano passado, a Adecoagro revela que é capaz de fornecer nova produção no mercado e maximizar continuamente o produto que oferece a maior contribuição marginal, que hoje é o açúcar (40% protegido a 19,4 ct/lb). “Com clima normalizando, esperamos que nosso volume de moagem em 2023 seja cerca de 15% maior do que em 2022 por conta de melhores perspectivas de produtividade e maior disponibilidade de cana-de-açúcar. Isso, por sua vez, resultará em uma
redução do custo caixa unitário, devido à melhor diluição dos custos fixos”, disseram.

Em 31 de dezembro de 2022, a plantação de cana-de-açúcar consistia em 192.987 hectares, 3,9% maior em comparação com 2021. O plantio de cana-de-açúcar continua sendo uma estratégia fundamental para abastecer as usinas com matéria-prima de qualidade a baixo custo.

“Em 2022, plantamos um total de 31.405 hectares de cana-de-açúcar. Dessa área total plantada, 23% ou 7.181 hectares foram áreas de expansão plantadas para suprir nossa crescente capacidade de moagem e 77% ou 24.224 hectares foram áreas plantadas para renovar antigos canaviais com cana-de-açúcar mais nova e de alto rendimento, permitindo-nos manter a produtividade da nossa plantação”, afirmou a companhia.

Natália Cherubin para RPAnews