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Edição 190

Mercado – O mercado do açucar no Brasil e no mundo

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Em 2017 a demanda mundial de açúcar aumenta, a produção sobe, mas o preço decepciona

*Alisson Henrique

As usinas e destilarias do Centro-Sul do Brasil começaram, de forma oficial, no mês de abril, a safra 2017/18 de cana-de-açúcar – algumas preferiram adiantar esse início para o mês de março. O Centro-Sul, principal região produtora do País, deve processar cerca 588,88 milhões de t de cana, um valor 3% menor do que os números registrados na safra 2016/17.

Para que fosse possível chegar aos 588,88 milhões de t, uma média foi feita entre as estimativas da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), que prevê uma moagem de 585 milhões de t de cana-de-açúcar na atual safra, e das consultorias Archer Consulting, Banco Pine, Datagro, INTL FCStone, Sucden e Safras e Mercado. Dessas empresas, a expectativa mais positiva pertence a Datagro, que espera uma moagem de 612 milhões de t, o que caracterizaria um acréscimo de 2,14% na comparação com a última safra. Já a Sucden tem a menor expectativa e fixa a moagem para a temporada atual em 567 milhões de t, o que significaria uma retração de 5,37%.

Pelos mesmos cálculos, a fabricação de açúcar em 2017/18 tende a alcançar 35,50 milhões de t, caracterizando assim um aumento de pouco mais de 0,50% em comparação com o período anterior. A baixa renovação de canaviais e os problemas climáticos no ano passado explicam os prognósticos pouco favoráveis para a safra. A expectativa é de que o plantio tenha atingido somente 10% da área, abaixo dos 18% a 20% ideais.

Segundo números do Banco Pine, a idade média das plantações deve atingir 3,6 anos neste ciclo, número próximo dos 3,5 anos observado na temporada 2011/12 e acima dos 3 anos recomendados. Quanto ao clima, se destacam as estiagens, chuvas em excesso e até geadas que castigaram as áreas produtoras ao longo de 2016. Segundo o Pine, temperaturas inferiores a 20 graus foram observadas até dezembro, retardando o desenvolvimento dos canaviais.

PREÇOS DESANIMADORES

De acordo com Mauricio Muruci, analista da consultoria Safras & Mercado, quase 90% do açúcar brasileiro será destinado a exportação. Deste número, 17 milhões de t já estavam com preços fixados na bolsa de Nova York em dezembro do ano passado. Para ele, o grande desafio do Brasil no mercado de açúcar será o baixo preço da commodity, tanto no cenário doméstico quanto no cenário internacional.

“No cenário internacional, tivemos um aumento de 21 centavos de dólar com base no primeiro contrato de Nova York. Havia a expectativa que esse valor fosse para 24, só que para isso acontecer, a Índia precisava reduzir a taxa de importação, mas o país não vai fazer isso e eles não tendem a importar muito açúcar. Então, o alimento, em vez de subir para 24 centavos de dólar, caiu para 16,” explica.

No final do ano passado, muitas usinas estavam encerrando as atividades e fazendo planejamento para investir na próxima safra, que tinha tudo para apresentar ótimos preços para o açúcar. Chegou o final do ano e as usinas já começaram a fazer o planejamento de quanto iriam investir na próxima temporada. Só que no final de 2016, o cenário não era esse. “Estávamos naquela questão: ‘olha, a gente está no preço de 20 centavos de dólar, indo para 21, com expectativa de chegar a 24. Ou seja, o cenário de preço era favorável. Foi neste contexto que muitas usinas fizeram grandes investimentos. No entanto, no primeiro trimestre deste ano, o preço realmente acabou caindo.”

Dívidas novas em setor que já é altamente endividado e em um contexto de preços mais baixos do que era planejado num curto prazo. Esse é o novo cenário. Segundo Murici, muita dívida foi contratada por parte das usinas em dezembro na expetativa de que os preços continuassem subindo. “Administrar esse cenário com uma receita menor é um dos desafios para 2017.”

O principal destino do açúcar brasileiro continuará sendo o mercado asiático e oriente médio, com Egito, Índia e China. Índia e Tailândia mais uma vez serão os maiores concorrentes do Brasil quando o assunto é açúcar. “A Tailândia é o maior exportador e apesar deles produzirem pouco, eles tem a mesma característica do Brasil, 90% da produção é para exportação. Já Índia, vai produzir acima do maior produtor internacional, mas 90% da sua produção vai para consumo interno. Mesmo assim eles já têm um mercado local asiático”, explica Murici.

EXPECTATIVAS DE MOAGEM PARA O CENTRO-SUL DE ACORDO CONSULTORIAS ESPECIALIZADAS (em milhões de t)

Unica – 585

Datagro – 612

Safras & Mercados – 600

INTL FCStone – 588,8

Archer Consulting – 586

Banco Pine – 575

Sucden – 567

EXPECTATIVA DE PRODUÇÃO DE AÇÚCAR NO BRASIL (em milhões de t)

Unica – 35,20

Datagro – 36,80

Acher – 35,42

INTL FCStone – 35,8

Banco Pine – 35,1

SUPERÁVIT GLOBAL

Os números oficiais do açúcar para a safra 2016/17 ainda não saíram. No entanto, segundo a INTL FCStone, a safra que já acabou deve resultar em déficit global de açúcar mais acentuado, em 8,5 milhões de t, puxado principalmente pela Índia. “O segundo maior produtor global de açúcar [Índia] vem sofrendo tanto com os efeitos das monções fracas em 2015 sobre a área plantada e a idade média dos canaviais, como com os impactos das chuvas abaixo da média este ano”, explicou a consultoria.

Novamente, o principal determinante deve ser a Índia, explica a INTL. “Com aumento da área plantada em Maharashtra e Karnataka, somado à perspectiva de monções mais próximas à média histórica, a consultoria espera incremento significativo na produção do país.”

Na Tailândia também espera-se que parte da queda observada nos últimos anos seja revertida no próximo ciclo, principalmente considerando que, ao contrário do que ocorreu na Índia, a área plantada no país continuou crescendo de maneira contínua. Nos dois casos, entretanto, a recuperação ainda depende de bons resultados da temporada chuvosa.

Outro player que será crucial para a continuidade no aumento da produção global é a Europa. “O bloco passará por liberalização do mercado de açúcar, o que significará o fim das cotas de produção e exportação, que hoje limitam a expansão da área plantada em vários países. Com o objetivo de aumentar a exportação, vários grupos açucareiros do continente vêm solicitando que seus produtores de beterraba aumentem significativamente a área plantada, em alguns casos em até 30%”, revela a INTL.

Entretanto, não se sabe até que ponto os agricultores responderão a este chamado, já que a política de preço mínimo para a beterraba será abolida e muitas usinas vêm oferecendo preço de compra inferior ao observado nos anos anteriores. Além disso, a safra do continente está sujeita a muitos riscos climáticos, sendo que alguns produtores já têm indicado preocupação com a baixa umidade dos solos. Mesmo diante destes riscos, a INTL FCStone espera que a produção do bloco aumente em mais de 15%, uma vez que muitas usinas são competitivas para a exportação considerando o nível atual de preços.

A projeção para a produção global na safra 2017/18 está em 186,3 milhões de t, 5,6% acima da safra corrente. “O ritmo de crescimento da demanda, por sua vez, deve continuar caindo, uma vez que os maiores preços internacionais tendem a impactar o consumo nos países emergentes e o consumo per capita na maioria dos países desenvolvidos que vem apresentando trajetória estável ou decrescente”, avaliou a INTL FCStone em relatório. A demanda mundial foi estimada em 186,8 milhões de t, apenas 1% superior a 2016/17.

Segundo a TRS, sigla em inglês para Serviço Tropical de Pesquisa, “os principais motivos da estimativa de uma recuperação na produção global de açúcar na safra 2017/18 são os aumentos na produção de açúcar da Índia, União Europeia, Tailândia, África do Sul e Centro-Sul do Brasil”.

* Colaborou Alisson Henrique sob supervisão de Natália Cherubin

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