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Edição 198

Tecnologia Agrícola – Micro + macronutrientes a favor da produtividade

Publicado

em

Alisson Henrique

O setor sucroenergético sempre teve cuidado com a reposição dos macronutrientes que são exigidos em maiores quantidades pelas plantas como é o caso do nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e enxofre (S). No entanto, tinha pouco conhecimento e poucos estudos acerca do uso e do retorno dos micronutrientes em cana. Exigidos em menores quantidades, o boro (B), o cloro (Cl), o cobre (Cu), o ferro (Fe), o manganês (Mn), o molibdênio (Mo), o níquel (Ni) e o zinco (Zn), tem se mostrado, ao longo dos últimos dez anos, nutrientes essenciais e que tem impacto direto na produtividade dos canaviais.

A importância destes nutrientes está diretamente ligada ao metabolismo e a todas as reações fisiológicas da planta. Desde a formação de novas raízes, desenvolvimento de partes vegetativas das plantas (folhas, ramos, colmo), até a formação e transporte de açúcares para os colmos da cana, diferentes nutrientes minerais estão envolvidos, conforme suas funções específicas. “Os impactos da falta de nutrientes em doses e proporções adequadas podem resultar em impactos de até 50% na produtividade agrícola da cana de açúcar”, explica Eduardo Saldanha, especialista agronômico da Yara Brasil.

“Uma nutrição desbalanceada afeta a produtividade dos colmos e, por consequência, a concentração de açúcar, isto é, o ATR”, adiciona Fabio Vale, doutor em Solos e Nutrição de Plantas e diretor Técnico da Adubai Consultoria.

Segundo Vale, nos últimos dez anos houve um crescimento do uso dos micronutrientes nas adubações de plantio e também nas soqueiras decorrente do aumento de pesquisas científicas focadas para o manejo destas fontesMACRO E MICRONUTRIENTES

A exigência de nutrientes varia de acordo com a produtividade esperada e com o ciclo da cana. Na cana-planta, geralmente a extração de nutrientes é maior que na cana-soca. No entanto, a cana-planta se beneficia mais da mineralização do N orgânico do solo. Portanto, para atingir a mesma produtividade, a demanda de fertilizantes nitrogenados é maior para a cana-soca do que para a cana-planta. “Existem diferenças significativas no uso de nutrientes entre as variedades, particularmente no que diz respeito à extração de nitrogênio, e essas necessidades precisam ser levadas em conta regionalmente”, explica Saldanha.

O nitrogênio, por exemplo, é necessário em grandes quantidades e o seu fornecimento ajuda a maximizar a produção de massa seca e produtividade. O pico de demanda de nitrogênio ocorre durante o perfilhamento e máximo crescimento da cana-de-açúcar. As exigências de N total variam muito de acordo com a variedade, reservas do solo (que podem ser altas), estágio de crescimento, se existe cultivo de leguminosas na entressafra etc.

O fósforo é exigido no início de desenvolvimento das plantas para assegurar um adequado crescimento de raízes e para impulsionar perfilhamento. As culturas extraem em torno de 15-20kg de fósforo para cada 100 t de cana. Uma prática comum é aplicar fósforo para a cana-planta no plantio ou logo após o plantio, mas existem evidências crescentes de que o fósforo também é importante em cada soqueira para a rebrota.

Já o potássio, se faz necessário em maiores quantidades que o nitrogênio. A extração da parte aérea é em torno de 175 kg de potássio por 100 t de cana no ano de plantio, caindo para 135kg de potássio por 100 t de cana nas soqueiras. A maioria do potássio é alocado nos colmos e o pico de demanda de potássio ocorre durante a fase de máximo crescimento, quando a extração é mais rápida do que em qualquer outro nutriente.

Especialistas explicam que uma quantidade significativa de cálcio é extraída no início de desenvolvimento da cultura, sendo importante no enraizamento e integridade de células. Em comparação, o enxofre e o magnésio são extraídos gradualmente e em estágios mais tardios de crescimento. A maior parte fica alocada nos colmos e são importantes para a qualidade da cana. Os suprimentos desses nutrientes são necessários para manter um bom desenvolvimento das plantas e garantir alta produtividade de colmos.

Embora os níveis de micronutrientes necessários para satisfazer o crescimento das plantas e impulsionar a produtividade sejam muito menores, todos eles desempenham papéis importantes no crescimento inicial. Os micronutrientes-chave extraídos em maiores quantidades são o ferro e o manganês. Eles asseguram crescimento livre de estresse, melhorando a performance fotossintética e a produtividade da cana. Os níveis de ferro nas plantas variam significativamente dependendo do suprimento do solo. As deficiências são raras, porque a maior parte do ferro é encontrado na palha e nos ponteiros.

O boro e o zinco, embora necessários em menores quantidades, possuem funções específicas no desenvolvimento de novos tecidos vegetais. Esses nutrientes são cada vez mais aplicados durante o início da rebrota para assegurar um bom enraizamento e perfilhamento.

Bruno Rossetti Sardinha, diretor-executivo da BSMarketing e Consultoria e Assessoria B2B em Nutrição Complementar de Plantas, destaca que apesar de conhecida a importância do uso de micronutrientes para a cultura da cana, é importante destacar que a sua ausência resulta em perdas de produtividade na ordem de 10% a 15%, em média, além de outros fatores que hoje começam a ser tratados com atenção pelas usinas e fornecedores.

Hoje, de acordo com o especialista, as empresas têm cuidado e procuram saber sobre o funcionamento do defensivo em mistura, compatibilidade de calda, pH ideal, incidência de doenças em áreas mais nutridas, longevidade do canavial etc. “Hoje ainda temos pecados sendo cometidos. A nutrição com micronutrientes fica somente no ‘O quê’. O mais importante, nesse caso, é o ‘Como’. Como esse nutriente vai chegar até a planta? Como ele será reposto a nível molecular? A conta não é quanto aplicar, mas sim em como vai aplicar”, ressalta.

ANÁLISE DE SOLO E PLANTA

Itens como profundidade, tipo de solo (normalmente argilosos apresentam maior disponibilidade, mas nem sempre isso é verdadeiro); material de origem (arenitos normalmente mais pobres); reação do solo (acidez ou alcalinidade); condições climáticas locais; definição de doses, forma e época de aplicação dos fertilizantes; demanda nutricional em função da variedade cultivada; e PH do solo – porque quanto menor o pH menos nutrientes disponíveis e maior quantidade de elementos tóxicos, como por exemplo o alumínio – são apontados como os principais fatores associados à deficiência ou disponibilidade dos macro e micronutrientes na cana-de-açúcar.

Fazendo análises químicas de solo, na qual se avaliam os teores de nutrientes, é possível definir as características do solo relacionadas à disponibilidade dos nutrientes como CTC, saturação por bases e alumínio, e textura. Vale explica que, para implantação do canavial sugere-se amostrar o solo em duas profundidades, 0-20 e 20-40 cm, para se definir as correções necessárias para que as raízes das plantas se instalem o mais profundo possível. Nas soqueiras sugere-se fazer análises pelo menos na camada de 0-20 cm, para então fazer a reposição de corretivos e fertilizantes de maneira mais racional.

Ainda é possível verificar o estado nutricional das plantas através das análises foliares, que normalmente são realizadas entre janeiro e fevereiro, coletando-se as folhas denominadas como +1 (a primeira com colarinho visível). Com essa análise pode-se entender como está o balanço nutricional e propor a reposição de nutrientes de forma mais adequada nas adubações sequentes.

“Os impactos da falta de nutrientes em doses e proporções adequadas podem resultar em impactos de até 50% na produtividade agrícola da cana-de-açúcar”, explica Eduardo Saldanha, especialista agronômico da Yara BrasilO manejo correto do canavial começa com análise de solo para se definir a correção adequada com aplicação de insumos corretivos como calcário, gesso agrícola e fosfatos, passando pela definição dos fertilizantes mais corretos para o plantio e finalizando com as adubações foliares quando necessário. “Não existe uma maneira única de se aplicar os nutrientes. Cada um terá uma necessidade específica em cada tipo de ambiente de produção. Por isso, não economize nas análises, pois elas são a base para o manejo sustentável visando as maiores produtividades dentro de cada sistema e de forma que possa ser alcançado o máximo retorno econômico”, acrescenta o diretor técnico da Adubai Consultoria.

Para Sardinha, apesar do levantamento e análise de solo e folha serem essenciais para o monitoramento do manejo do canavial como um todo, a reposição nutrientes deve acontecer a nível molecular, ou seja, no momento em que a demanda existe e independente dos teores encontrados nas análises foliares. “Aplicamos manganês, por exemplo, há mais de dez anos, em áreas com teores ‘altos’ desse nutriente. Mas aplicamos na forma correta. Para a nutrição complementar, menos é mais, e o mais é o todo. A nível molecular, todos os nutrientes trabalham em conjunto. ”

A BOLA DA VEZ

Sardinha afirma que a reposição de nutrientes deve acontecer a nível molecular, no momento em que a demanda existe, independente dos teores encontrados nas análises foliaresSegundo Fabio Vale, nos últimos dez anos houve um crescimento do uso dos micronutrientes nas adubações de plantio e também nas soqueiras, decorrente do aumento de pesquisas científicas focadas para o manejo de fontes e doses de micronutrientes, permitindo ajustar de forma mais correta essas reposições.

Para Sardinha, a nutrição complementar via folha é a bola da vez no manejo da cana-de-açúcar. “A tecnologia se consolidou, assim como o entendimento por parte dos diretores e gestores agrícolas de que ela é indispensável. Hoje, por exemplo, temos mais de cinco janelas rentáveis para aplicação dos micronutrientes na cana, desde o plantio até a maturação nutricional. A prática se consolidou de maneira positiva, derrubando conceitos antigos e quebrando paradigmas, onde era visado somente repor as quantidades extraídas pela planta, independente da fonte, forma do nutriente, capacidade de absorção, metabolismo, época de aplicação e sequência de preparo de caldo”, observa.

O especialista agronômico da Yara Brasil, explica que hoje é possível ver que muitas usinas e produtores passaram e se preocupar com o uso de micronutrientes em seus programas de adubação. “A busca por maiores incrementos de produtividade, o uso cada vez maior de áreas marginais e com baixa disponibilidade de micronutrientes e também o emprego de variedades de cana mais exigentes, podem ser alguns fatores que tem levado os técnicos e agrônomos que trabalham no setor canavieiro a incluírem cada vez mais em suas recomendações a utilização de micronutrientes”, adiciona.

A Bioenergética Aroeira, localizada no município de Tupaciguara, MG, que atingiu um canavial com média de 101,15 de TCH na safra 2017/18, tem tido bastante cuidado com a reposição de micro e macronutrientes. Francisco Feres Junqueira, gerente Agrícola e Marcos Rodrigues, supervisor Agrícola da Bioenergética Aroeira, afirmam que a adubação granulada com a tecnologia de “mistura granulada” de NPK e o uso de micronutrientes, além de matéria-orgânica sempre direcionada a linha de plantio, são considerados alguns dos fatores responsáveis pelos três dígitos. “Utilizamos silicato de silício, calcário e gesso em área total na cana-soca como fonte de nutrientes e fazemos também a complementação da adubação via foliar com nitrogênio e micronutrientes”, contam.

FÓRMULA IDEAL?

Diferentemente do que alguns pensam, não existe um número mágico de ganho de produtividade ou ATR advindo do uso de micro e macronutrientes. O que existe, segundo Vale, é um crescimento da produtividade média dos canaviais com o tempo de uso da tecnologia. Em geral, os micronutrientes com maior resposta são o zinco e o boro, os mais deficientes no sistema. “Pesquisas que realizamos há cerca de doze anos mostraram que em São Paulo o boro estava deficiente em mais de 90% dos canaviais e o zinco em cerca de 70% das áreas. Mas existem também relatos de resposta ao cobre, principalmente em áreas com solos mais orgânicos, e do manganês, em áreas com menor drenagem. ”

A recomendação é aplicar o zinco em doses mais altas no sulco de plantio, pois estes nutrientes têm baixa mobilidade no solo, ficando concentrado próximo do sistema radicular. Pesquisas do IAC (Instituto Agronômico de Campinas) mostram respostas de até 20% em média em um ciclo produtivo com doses variando de 5 a 10 kg/ha de zinco no plantio.

“Já o boro é um elemento mais móvel no solo e que em doses elevadas pode, inclusive, causar toxidade às plantas. Por isso, sugere-se aplicações anuais, desde plantio até nas soqueiras, variando de 350 a 1 kg/ha, dependendo da fonte utilizada. Acompanhamentos que realizamos mostram potencial de ganho de até 10%, quando se comparou a aplicação de boro em uma soqueira de segundo corte desenvolvendo-se em um solo mais arenoso”, adiciona Vale.

Perguntado se existem resultados diferentes em nutrição por micronutrientes em cana-planta e cana soca, Vale explica que a recomendação é que zinco, cobre e manganês sejam aplicados no sulco de plantio em doses mais elevadas e com residual para vários cortes. Já no caso de necessidade de complementação em soqueiras, quando as análises de solo e folha indicarem, devem ser aplicados através de pulverizações foliares, mais eficientes do que a aplicação na superfície do solo nas soqueiras, devido a baixíssima mobilidade desses nutrientes no solo. “O boro e também o molibdênio são móveis no solo, por isso a sugestão são aplicações anuais e com doses para apenas um corte. ”

Para Sardinha os resultados são similares em relação ao percentual de ganho e à margem de contribuição agroindustrial, apesar dos benefícios da aplicação em cana-planta serem para todo ciclo, não só para o primeiro corte. O que muda é a forma de aplicação, assim como as quantidades aplicadas e a tecnologia empregada. “Não podemos esperar que um tolete absorva a mesma tecnologia que uma folha em período vegetativo, assim como não podemos esperar que um aditivo complexante usado no período vegetativo seja o mesmo utilizado na fase de maturação, onde a taxa fotossintética está reduzida. Para cada fase uma tecnologia diferente deve ser usada, em proporções diferentes, na menor quantidade necessária, com o menor custo possível”, finaliza.

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