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Edição 198

Tecnologia Agrícola – Piloto automático: ganhos são reais

Publicado

em

Natália Cherubin

Bem diferente da maioria das demais tecnologias de Agricultura de Precisão, o uso do piloto automático teve crescimento expressivo e muito mais rápido na cultura da cana-de-açúcar do que em grãos nos últimos anos. Isto porque a tecnologia vem ajudando o setor a superar dois dos maiores problemas advindos da mecanização agrícola: o pisoteamento de soqueiras e a compactação de solos.

A inserção do piloto automático no mercado canavieiro foi imediata, logo que começaram a aparecer os primeiros sistemas de direcionamento automático em meados dos anos 2000. Entretanto, a viabilidade da aplicação só começou a ser mostrada a partir do desenvolvimento mais acelerado de tecnologias que agregam o uso destes sistemas como, por exemplo, o aprimoramento das correções de sinais dos satélites.

De acordo com Gerson Filippini Filho, coordenador de Marketing de Produto Fuse da Valtra, especificamente no setor canavieiro, assim que a viabilidade começou a ser comprovada pelos próprios integrantes do mercado, a expansão tomou proporções maiores e nos últimos três anos atingiu praticamente todo o mercado em pelo menos alguma etapa do ciclo de produção da cana.

“O uso do piloto automático tem avançado bastante no setor canavieiro e é um ótimo exemplo do uso de agricultura de precisão. Por meio da adoção desta tecnologia, o agricultor tem conseguido aumentar a uniformidade entre os sulcos de plantio, reduzir o consumo de combustível e aumentar a capacidade operacional das máquinas, o que contribui positivamente para a diminuição do custo de produção da cana. Além disso, por se tratar de uma cultura perene, o piloto automático é muito importante pois permite que as máquinas não danifiquem a soqueira da planta”, adiciona Rois Nogueira, gerente de Soluções Integradas da John Deere Brasil

Segundo Tiago Jose Cury, representante de Vendas Divisão de Agricultura da Trimble, os usuários buscam cada vez mais extrair o máximo da tecnologia, muitas vezes gerando demanda para futuros desenvolvimentos ou aperfeiçoando as operações como o plantio de cana-de-açúcar por Meiosi (Método Interrotacional Ocorrendo Simultaneamente). “O início não foi fácil, por stratar de uma nova tecnologia. Nos deparamos com vários obstáculos, mas o mais complicado foi o fator cultural, o que gerou resistência no uso do piloto automático atrasando a expansão. No entanto, depois que superamos essa barreira, o crescimento foi exponencial.”

Outro fator que incentiva o uso do piloto automático é a facilidade de mensurar o ganho em produtividade com a tecnologia. “Primeiro, porque é possível disciplinar o tráfego da máquina, diminuindo danos em soqueiras durante a colheita. Assim, acontece a redução do índice de perdas, fazendo com que o trabalho com a máquina seja mais rápido”, completa Roberto Biasotto, gerente de Marketing de Produto da Case IH.

100% DA LAVOURA

O piloto automático se aplica em todas as etapas da produção da cana-de-açúcar, ou seja, começa pelo preparo de solo visando minimizar a sobreposição e consumo de combustível, passa pela sulcação e plantio — sendo elas etapas conjuntas ou separadas de acordo com cada estilo de trabalho das usinas —, nas diferentes etapas de pulverização, evitando desperdício na aplicação de insumos, e na colheita, quando é empregado tanto nas colhedoras quanto nos tratores que puxam os transbordos.

“Hoje em dia ainda existem usinas e produtores em diferentes estágios de adoção da aplicação de piloto automático nas etapas da produção. As etapas mais importantes são a sulcação e plantio, e, portanto, são o ponto de partida para o uso desta tecnologia. Porém, hoje a grande maioria já aplica nas etapas de pulverização e colheita também. Normalmente as etapas de preparo de solo e transbordo são as últimas a serem inseridas no circuito”, afirma o coordenador de Marketing de Produto Fuse da Valtra.

O uso do piloto automático no plantio permite a instalação da cultura com paralelismo de alta qualidade e alinhamentos com espaçamento pré-determinado, o que proporciona uma colheita mecanizada com maior rendimento operacional e menores perdas de produtividade. Já na colheita, o piloto automático faz com que as máquinas tenham seu desempenho otimizado, permitindo que as plataformas de corte trabalhem sempre cheias, evitando sua subutilização e faixas não colhidas na lavoura. Além disso, por meio da geração do arquivo georreferenciado do percurso feito pela máquina na hora do plantio, o operador pode, posteriormente, utilizar o mesmo trajeto para a colhedora, reduzindo assim o pisoteio.

GANHOS REAIS

No cultivo de cana há uma série de ganhos propiciados pela utilização do piloto automático. Para Cury, os ganhos mais explícitos na lavoura da cana tem sido:

1) O aumento de linhas de plantio na mesma área garantido pelo paralelismo que a tecnologia oferece em conjunto com um sinal de correção (RTK 2,5 cm ou RTX 3,8 cm, ambos com repetibilidade);

2) A diminuição do abalo de soqueiras e menor compactação do solo através do tráfego controlado, que separa a circulação das máquinas da zona de tráfego das linhas de plantio;

3) Maior rendimento operacional e menos desgaste das máquinas com a diminuição de manobras.

“A consequência de tudo isso é o aumento da produtividade e a maior longevidade do canavial”, adiciona Cury.

Em ensaios de campo, Biasotto conta que a Case IH identificou situações onde houve ganho de 5% de área plantada pelo simples fato de garantir o paralelismo passada a passada durante o plantio. Assim como redução de até 36% no abalo de soqueira durante a colheita por meio da utilização dos projetos de linha – procedimento onde as linhas realizadas no plantio são reutilizadas na colheita, ou seja, a colhedora segue o mesmo trajeto que a plantadora fez no plantio. “Nestes mesmos ensaios, foram encontrados também reduções de até 33% em perdas. Além disso, observamos um aumento da longevidade dos canaviais como conjunto da obra dos benefícios.”

O gerente de Soluções Integradas da John Deere Brasil destaca as melhoras significativas na produtividade da lavoura. Além disso, adiciona que com o uso do piloto automático é possível elevar a velocidade operacional, já que a máquina não depende exclusivamente do manuseio do operador. “A tecnologia também possibilita maior precisão na aplicação de insumos agrícolas e também eleva o tempo disponível para as operações, consequentemente resultando em uma redução de custos operacionais. Outro benefício do uso do piloto automático é a economia de combustível, o que também diminui os custos.”

Após realizar estudos sobre a viabilidade da implantação da tecnologia em usinas de cana, em um sistema de plantio convencional com espaçamento de 1,5 metros, em cenários com e sem o uso do piloto automático com sinal de correção RTK na sulcação ou plantio, a Valtra registrou, nas situações em que o piloto automático foi empregado, um aumento médio de 10 linhas de plantio por hectare, o que representa um ganho médio de 13 t a mais de produtividade na mesma área. Estes números podem chegar a representar R$ 800 a mais por ha de plantio de cana.

A Usina Santo Ângelo faz uso de piloto automático desde 2009, mas foi em 2012 que teve uma grande exponencial de crescimento com o uso de equipamentos mais modernos. Hoje a tecnologia é utilizada em 100% das operações do cultivo e 90% nas operações de colheita. “Com o uso da tecnologia, é possível fazer mais com menos. Foi experimentado frentes de trabalho com características similares, sendo uma com a tecnologia e outra com processo manual, fica evidente que o rendimento do ha/dia cultivado é superior nos equipamentos com a tecnologia”, destaca Camila Martinez Guidi, engenheira agrônoma e coordenadora Agrícola da Usina Santo Ângelo.

Economia de combustível, redução de retrabalho, maior satisfação e rendimento do operador e diminuição de perda na colheita são outros pontos que se destacam. “O nosso histórico de perda na safra de 2016/17 foi de 1,6%, na safra 2017/18 foi de 1,5% e na atual safra 2018/19 iremos trabalhar com 1,5% tendendo a reduzir mais, sempre melhorando a cada safra”, adiciona Camila.

O diretor Agrícola da São Martinho, Mario Gandini, destaca que o piloto automático, uma tecnologia que hoje parece simples, teve um período de implantação bastante trabalhosa. A São Martinho, que durante muito tempo trabalhou parcialmente com a tecnologia, hoje tem 100% das suas linhas georeferenciadas e a maioria das operações já sendo realizada com o piloto automático. “Os benefícios que isso traz para as unidades são inestimáveis porque o trânsito nas áreas de cana tem um efeito muito danoso. Sendo assim, a organização do trânsito de máquinas através do piloto automático tem nos trazido benefícios enormes em produtividade e longevidade dos canaviais”, adiciona.

Paulo de Araújo Rodrigues, produtor de cana e sócio-diretor do Condomínio Agrícola Santa Izabel, afirma que na safra 2018/19 vai utilizar o piloto automático em 100% das suas operações, desde o preparo de solo até a colheita da cana. “Gosto de analisar o antes e o depois do nosso plantio. Antes achávamos que o operador conseguia atingir a perfeição no paralelismo das linhas, mas quando colocamos o piloto automático começamos a perceber a grande diferença. Além de outros benefícios, o uso da tecnologia junto a adequação das bitolas, em 3 metros, nos permitiu uma redução na compactação do solo de 70% para 30%.”

GARGALOS E INOVAÇÕES

O uso do piloto automático no plantio permite a instalação da cultura com paralelismo de alta qualidade e alinhamentos com espaçamento pré-determinado, o que proporciona uma colheita mecanizada com maior rendimento operacional e menores perdas de produtividadeComo em todas as tecnologias de Agricultura de Precisão, a quantidade de informações geradas nos processos ainda são superiores a capacidade que, muitas vezes, o setor tem para geri-la. “Por isso, sempre inovamos para gerir da melhor forma as informações que são geradas no campo, integrando-as de forma a tomar as decisões de maneira mais rápida e eficiente possível.”

Para o coordenador de Marketing de Produto Fuse da Valtra, os maiores gargalos ainda se concentram na operacionalização necessária para que todas as etapas da aplicação desta ferramenta sejam realizadas da forma correta e precisa. “São necessários investimentos em pessoas capacitadas e especializadas para operacionalizar da forma correta, ou seja, a equipe deve contar com profissionais que consigam fazer o levantamento dos dados topográficos das áreas de plantio e o processamento destes dados, gerando mapas de projetos de linhas para posterior aplicação no plantio ou sulcação. Após estas etapas, é preciso processar novamente os mapas de linhas já executados no plantio, para que sejam criados novos mapas específicos para as demais etapas da aplicação do piloto automático, garantindo assim que o sistema funcione corretamente tanto na pulverização quanto na colheita”, enfatiza.

Um outro ponto, que já foi considerado gargalo no início da utilização dos pilotos automáticos, está relacionado as correções de sinal, que evoluíram bastante junto ao aprimoramento de novas funções para a aplicação do tráfego controlado.

De acordo com o coordenador de Marketing de Produto Fuse da Valtra, o RTK é o que oferece a maior precisão do mercado e o único que realmente garante a repetibilidade durante todo o ciclo da cana-de-açúcar. É indicado para todas as operações agrícolas, principalmente às que demandam alta precisão, como no plantio em linhas. Já as funções de tráfego controlado, que têm como premissa atuar principalmente na diminuição da compactação do solo, possibilitando concentrar o trajeto que diferentes máquinas percorrem durante o ciclo de produção, aumentam a vida útil do canavial e reduzem em até 42% a área compactada, elevando a eficiência operacional.

Biasotto adiciona que além do GPS, hoje é possível usar o Glonass, que faz parte de outra constelação de satélites e que dá maior disponibilidade de sinal. “O cliente consegue assim trabalhar por mais horas e dias, e com mais disponibilidade de satélites.”

A Trimble, principal fabricante de tecnologias de agricultura de precisão tem evoluído nas tecnologias de interface com o usuário. “Nossas telas são sensíveis ao toque, possuem sistema operacional Android, mais intuitivas com conectividade aprimorada (Wi-Fi e Bluetooth), tornando mais rápido e fácil a troca de informações entre o campo e o escritório. Além disso, oferecemos a compatibilidade Isobus, o que permitem controlar taxa e seção de implementos de diversas marcas. Os equipamentos ainda permitem uma instalação mais limpa, com menos uso de cabos, facilitando a troca entre máquinas”, conta o representante de Vendas da Divisão de Agricultura da Trimble.

Ismael Perina, produtor de cana da região de Jaboticabal, SP, afirma que para retomar a produtividade dos canaviais é essencial que o setor se atente ao uso de tecnologias para o controle de tráfego. “Temos que eliminar definitivamente o trânsito de máquinas e implementos sobre as soqueiras de cana. Apesar do investimento ser um pouco alto, o piloto automático é essencial e tem que começar a ser mais utilizado pelos produtores. A partir de hoje, se possível, todo o plantio e atividades posteriores devem ser feitos com o uso de georreferenciamento. Acredito que é isso que vai ajudar a elevar a produtividade e vida útil dos canaviais. A maior longevidade dos canaviais trará retorno em redução de custos”, conclui.

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