Edição 206
Tecnologia Agrícola – Plantio de cana: período é de transição
Expansão da meiosi e, principalmente, a ausência de uma tecnologia consolidada para o plantio mecanizado tem feito com que unidades produtoras busquem outras formas de plantar cana
Natália Cherubin
Depois de proibido em 2006, com a implementação da NR31, que estabeleceu medidas de medicina e segurança do trabalho em ambientes rurais, o plantio de cana – modelo até então realizado manualmente por rurais sobre caminhões que despejavam a cana nos sulcos – passou por grandes transformações. Apesar do sistema 100% mecanizado, com uso de plantadoras e distribuidoras de toletes, ter sido a grande aposta do setor entre 2010 e 2015, outros métodos manuais como o esparrama, meiosi e sistemas semi-mecanizados voltaram a crescer a partir da safra 2016/17. Por quê? Número de falhas e alto gasto de mudas tem impactado diretamente nos custos e feito com que muitas unidades e produtores recuem na mecanização da operação.
Dados do Pecege/Esalq-USP confirmam isso. O plantio mecanizado de cana teve forte expansão entre as safras 2010/11 e 2015/16, quando o percentual de áreas mecanizadas dos Estados São Paulo e Paraná – que reúnem o maior número de unidades produtivas – saltou de 35,1% para 77,1% (Gráfico 1). No entanto, de lá para cá, este número vem caindo muito, chegando, na safra 2018/19, a 56,6%, o que significa que 20% das áreas deixaram de ser plantadas mecanicamente.
De acordo com Haroldo José Torres da Silva, gestor de Projetos do Pecege, essa redução é reflexo principalmente da expansão da meiosi. No entanto, também tem a ver com o fato de que algumas usinas ainda enfrentavam severas dificuldades com o plantio mecanizado como, elevado consumo de mudas (aproximadamente, 22 t/ha) e elevado número de falhas. “O primeiro pesava sobre o custo de produção e o segundo diminuindo o período para renovação do canavial. Desta forma, essas empresas optaram por regressar ao plantio semi-mecanizado ou manual.”
O período, segundo ele, é de ajustes, transição e não de regressão (sem volta) ao plantio manual. Essa transição é fruto da expansão da meiosi e, principalmente, da ausência de uma tecnologia consolidada para o plantio mecanizado, em especial de plantadoras. “O plantio é o estágio de produção mais heterogêneo dentro do setor sucroenergético, em que pese o desenvolvimento interno (pelas usinas) de suas próprias soluções. Em suma, no médio e longo prazo, indubitavelmente, o setor retornará e expandirá o plantio mecanizado. Será uma questão de tempo até que possamos ter consolidado e adaptado as novas tecnologias, principalmente na área de mecanização”, afirma Silva.
Luiz Antonio Paes, gerente de Marketing e Negócios do CTC, concorda que problemas como falhas, custos crescentes e disseminação de doenças por meio de colmos sem qualidade de origem, tem levado os produtores a adotar sistemas de plantio distintos. “O plantio mecanizado deve ser avaliado segundo quatro fatores: planejamento, colhedora de mudas, plantadora e variedade a ser usada. Atualmente, quando observados estes fatores, os plantios mecanizados de cana-de-açúcar são melhores que o manual feito antigamente. Porém, os projetos de máquinas colhedoras de mudas são muito tímidos, utilizando-se praticamente a mesma máquina colhedora de cana da indústria com kits adaptáveis à colheita de muda, o que prejudica o processo. Os projetos de plantadoras também não são perfeitos, mas evoluíram em relação àqueles utilizados no início do plantio mecanizado da cana”, opina Paes.
Para Marco Aurélio Padovan, engenheiro agrônomo, da ConsulAgro Serviços e Projetos, o recuo do plantio mecanizado tem a ver, principalmente, com o custo operacional, que não ficou muito diferente do plantio manual, e a elevada quantidade de mudas empregada, que eleva o custo de implantação ou reforma do canavial.
“No que se refere às máquinas creio que ainda falta foco na colheita dos toletes com menores danos, sem nos esquecer de que ainda se promove um ‘tombo’ com a transbordagem e o sistema de esteiras das plantadoras/distribuidoras que causa o atrito de todo material. Essa combinação prejudica o agente principal de brotação que é a gema”, adiciona.
Edgar Gomes de Ferreira Beauclair, do Departamento de Produção Vegetal da Esalq/USP, acredita que as plantadoras ainda estão longe de fazer um bom trabalho. Além disso, são caras, pesadas e acabaram por trazer questionamentos sobre a própria forma de propagação da cultura. “Outras tecnologias têm avançado impulsionadas por essas deficiências na qualidade do trabalho das plantadoras que consomem grande quantidade de mudas e ainda tem dificuldades em realizar um plantio homogêneo, compactam o solo, tem limitações de declividade etc.”
De acordo com Beauclair, o setor depende do desenvolvimento de outras formas de propago para que realmente haja um salto de qualidade. “Mudas tradicionais de cana são difíceis de serem manuseadas já a partir da própria colheita e os problemas vão se acumulando nos transbordos, transportes e plantio. Todas operações que danificam as mudas são caras e de qualidade baixa. Atualmente, o sistema de meiosi tem sido uma excelente opção, principalmente pelo uso de MPB em um custo mais aceitável, mas ainda há esperança no desenvolvimento de novas formas de propago capazes de revolucionar a mecanização de plantio”, opina.
MEIOSI: SOLUÇÃO DO MOMENTO
Não há uma estimativa sobre a área atual de plantio por meiosi, mas é notável que entre os grandes produtores e usinas sucroenergéticas a técnica tem se tornado mais utilizada a cada safra. A expansão deste método é decorrência da maior eficácia do processo, principalmente na questão de produtividade. De acordo com José Guilherme de Oliveira Belon, responsável pela Análise Setorial e Economia da Unica, outro aspecto que tem potencializado a utilização do manejo é o fato deste sistema proporcionar uma economia com a estrutura operacional que envolve plantadoras, caminhões, transbordos, carregadeiras e tratores, uma vez que o custo total dessa técnica é inferior quando comparado ao plantio tradicional da cana-de-açúcar. “Além dos benefícios como redução do consumo de muda, simplificação das operações, sanidade com relação às pragas e doenças, planejamento da área a ser plantada, uniformidade do canavial formado, entre outros”, afirma.
Paes acredita que a meiosi é o sistema que tem apresentado os melhores resultados no que se diz respeito a maior quantidade e aproveitamento de gemas por metro. “Quando observadas as exigências de sanidade e qualidade da muda, promove a implantação de canaviais uniformes, reduzindo significantemente o custo de implantação da lavoura. A meiosi, apesar de ser um método exigente em planejamento, operações e cuidados, possui destacados benefícios em relação ao método convencional”, observa.
A Bunge Açúcar & Bioenergia investiu mais de R$ 2 milhões na criação de um Núcleo de Produção de Mudas Pré-Brotadas (MPB), inaugurado no final de 2018 na Usina Moema, em Orindiúva, SP, com o objetivo não só de obter aumento de produtividade agrícola, como também possibilitar a maior adoção do plantio via meiosi.
“Atualmente, 15% do nosso plantio é feito via meiosi, que é o mais produtivo e beneficia tanto a operação quanto o local de cultivo, reduzindo o custo da formação do canavial, em razão da eliminação da necessidade de transporte da muda. Com o viveiro, vamos intensificar esse procedimento que passará a ser aplicado em até 45% da plantação em 2019”, afirma Geovane Consul, VP da Bunge Açúcar & Bioenergia.
Com a implantação do sistema de MPB e a ampliação de plantio via meiosi, a companhia prevê também redução de até 80% nos custos com logística de muda, com formação de lavoura pelo melhor planejamento de viveiros (redução de raio, menor estrutura de transporte).
Plantio manual realizado até 2006, proibido após implementação da NR 31 |
A São Martinho, com quatro unidades, também tem apostado na meiosi como forma de redução dos custos de logística de muda, principalmente nas unidades São Martinho e Santa Cruz. Hoje, faz 60% da área de plantio das suas unidades com mudas pré-brotadas em meiosi. A intenção do grupo é expandir o uso do método nas usinas Iracema, em São Paulo, e Bela Vista, em Goiás.
“Tenho trabalhado com mais insistência no plantio de MPB associado a técnica da meiosi por questão de custo. Essa tecnologia de MPB vai evoluir e revolucionar o plantio que hoje já é realizado mecanicamente. Temos de olhar o conceito da propagação/plantio. Culturas anuais reproduzem por sementes e as perenes por mudas. O setor sempre se serviu de mudas, no entanto, agora é o momento de nos tornarmos mais eficientes e cônscios de nossas responsabilidades. Construir canaviais com pureza e vigor máximos é o grande desafio para produtividades maiores e, consequentemente, custo relativo menor”, afirma Padovan.
Diferente de algumas empresas que fazem a colheita da muda da meiosi manualmente, o que requer mais mão de obra, algumas unidades como a São Martinho têm feito com uma colhedora adaptada, não com kits emborrachados, mas capaz de fazer apenas o corte de base e o desponte da planta, deixando-a inteira para posterior alocação manual das canas nas linhas de plantio.
Esse tipo de adaptação, como a realizada pela São Martinho para colheita de mudas poderá, segundo Roberto Biasotto, gerente de Marketing de Produtos da Case IH, ser uma opção para o plantio de cana nas unidades. Entretanto, a Case IH não confirma qualquer fabricação de uma nova máquina no momento. “Descontinuamos a produção de kits emborrachados para colhedoras justamente por analisarmos não ser a solução para o plantio de cana. Entendemos a necessidade do setor, mas ainda não temos nenhum produto comercial disponível para colheita de mudas.”
PLANTIO ENXUTO
Se não é 100% mecanizado, se não é meiosi, nem manual por esparrama, o plantio ainda pode ser feito de forma semi-mecanizada. Vários protótipos de máquinas vêm sendo desenvolvidos dentro das unidades sucroenergéticas, como é o caso da Rodoap PBDG, uma plantadora semi-mecanizada criada por um produtor nordestino e que agora vem sendo comercializada pela consultoria Percebe para as usinas do Centro-Sul.
Assim como o sistema 100% mecanizado, está plantadora é capaz de realizar, de uma só vez, todas as operações inerentes ao plantio, ou seja, abertura do sulco, adubação, deposição dos toletes, tratamento químico do sulco/toletes e fechamento/adensamento do sulco. A diferença é que o cuidado com os toletes – que devem ter, segundo a fabricante, de 30 a 45 cm – é maior, desde o seu corte, que deve ser manual, até sua alocação no solo, que é feita pela máquina, mas com ajuda humana.
A fabricante oferece a plantadora em diversos modelos, de modo que o número de linhas e o espaçamento de plantio variam em função da necessidade do usuário, sendo ainda possível optar por versão de arrasto ou flutuante (no caso de 1 ou 2 linhas), revela Eduardo Pereira, consultor da Percebe.
Através de um mecanismo composto por carrosséis giratórios munidos de células abastecidas com toletes, a plantadora promove a deposição das mudas longitudinalmente no sulco de maneira individualizada e com espaçamento uniforme. A densidade de deposição (toletes/metro) pode ser determinada pela regulagem da velocidade de giro do carrossel através de controle de fluxo hidráulico.
Fonte: Rodoap |
A tecnologia demanda operadores para duas funções distintas: alimentação dos carrosséis e manejo das caixas de mudas. Cada linha de plantio demanda um operador para a alimentação de seu carrossel e um operador adicional é necessário a cada duas linhas de plantio para realizar o manejo das caixas. “Por exemplo, para 1 linha, temos 1 operador de carrossel e 1 manipulador de caixas; para 2 linhas, 2 operadores de carrossel e 1 manipulador de caixas; para 4 linhas, 4 operadores de carrossel e 2 manipuladores de caixas e para 6 linhas, 6 operadores de carrossel e 2 manipuladores de caixas”, explica Pereira.
A potência do trator para puxar esta máquina vai variar com a capacidade da plantadora, ou seja, do número de linhas e o perfil de solos do produtor. Mas, em linhas gerais, o recomendado é aproximadamente 50 cv por linha de plantio.
O principal benefício está relacionado à economia de mudas, que permite o enxugamento de todas operações relativas à atividade de plantio. Com o menor uso de muda, demanda-se menos viveiros, menos recursos para CCT e menos energia para a aplicação dessa muda no plantio. “Além dos aspectos quantitativos econômicos e operacionais, há dois aspectos qualitativos que devem ser ressaltados: o ganho da qualidade do trabalho e o ganho da taxa de multiplicação genética”, destaca Pereira.
Além disso, há benefícios relacionados à redução da mão-de-obra, se comparado ao plantio por esparrama, maior rendimento operacional, economia de muda, maior uniformidade de distribuição de toletes nos sulco e redução do número de operações necessárias, uma vez que a plantadora realiza todas as etapas do plantio.
Em números, a máquina proporciona de cinco a oito gemas por metro linear, com um gasto de 3 a 5 toneladas de mudas por ha, variação de acordo com densidade de plantio, espaçamento e características varietais. “O racional econômico remete à otimização do recurso-chave de plantio: o uso de mudas. Atividades de plantio são realizadas com diversas variações de operações, distintos níveis de investimento tecnológico e uma grande amplitude de rendimentos operacionais, que por sua vez refletem nas mais variadas composições de custos. Todavia, indiferentemente do custo específico da atividade de plantio, nota-se uma relação direta do custo do plantio com a quantidade de muda utilizada. Essa relação se sobressai ao nível de mecanização do sistema de plantio adotado e tem sido amplamente justificada pelo crescimento de plantios semi-mecanizados como a Meiosi”, explica Pereira.
Considerando o mesmo conjunto de operações de preparo de solo e o mesmo nível tecnológico aplicado aos insumos produtivos, esse sistema de plantio “enxuto” tem apresentado reduções de custos da ordem de R$ 1.000 a R$ 2.000 por hectare plantado, comparado ao sistema manual e mecanizado, respectivamente (Tabela 1).
A viabilidade de um plantio que utiliza uma quantidade muito reduzida de mudas depende da preservação e qualidade do material utilizado. Apesar de atualmente existirem clientes efetuando plantio em diferentes modais relativos ao corte e preparação das mudas, o recomendado para uso desta plantadora, segundo Pereira, é o corte manual, esteiramento das mudas e utilização de uma serra mecânica para o recorte das mesmas. Além de facilitar o acondicionamento das mudas nas caixas, a utilização dessa serra, que foi desenvolvida especificamente para este fim e funciona como um implemento acionado por um trator, possibilita alto rendimento à operação preservando a integridade das mudas.Muitos devem estar se perguntando sobre a questão trabalhista, já que a máquina tem necessidade de uso mão de obra. Mas, de acordo com ele, o projeto da plantadora Rodoap PBDG permite operação em conformidade com as normas regulamentadoras que versam sobre segurança e saúde do trabalho.
MÉTODOS DE PLANTIOREALIZADOS PELO SETOR |
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Plantio Manual – esparrama Caminhões transportam a cana inteira até o local do plantio. Pás-carregadeiras são utilizadas para remoção destas canas, formando montes, que são alocados próximos as linhas de plantio. O “esparrama” é feito por trabalhadores rurais que vão coletando as plantas dos montes e alocando-as sobre os sulcos de plantio. Este método, que reduz custos com mudas, substituiu o sistema manual realizado anteriormente pelo setor, proibido pela NR31. |
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Plantio de Meiosi Uma linha de cana “mãe”, que pode ter sido plantada via MPB ou toletes, é colhida manualmente ou mecanicamente inteira – via colhedora adaptada (apenas corte de base e desponte de folha) – ou cortada, e replantada manualmente ou mecanicamente nas ruas paralelas a rua “mãe”. Esse método tem crescido muito nas unidades produtoras principalmente por conta da redução de custos com a logística das mudas. |
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Plantio Mecanizado de toletes Após colheita mecanizada da cana, os toletes seguem via transbordo para a plantadora de cana que faz o processo completo de sulcação, plantio, aplicação de inseticidas e cobrição. Muito usado pelo setor, o plantio mecanizado teve seu “boom” entre 2010 e 2015. |
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Plantio Semi-mecanizado de toletes Plantadora permite plantio simultâneo de cana. Os toletes de 30 a 45 cm são colocados nos roletes da máquina por trabalhadores e a máquina faz toda a operação das plantadoras convencionais. A diferença é no gasto de mudas, que é muito menor, de até 3 a 5 t/ha. |
Atualmente a tecnologia vem sendo largamente empregada por usinas e produtores do Nordeste, onde foi desenvolvida. Na região Centro-Sul, os grupos Zilor, São Martinho, Toledo, Cerradão e Adecoagro já passaram pela fase de validação e estão incorporando a tecnologia à suas atividades. “A curva natural de evolução do sistema de plantio enxuto deve ganhar espaço primeiramente no nicho do plantio de viveiros devido sua grande taxa de multiplicação e facilidade de manejo sanitário (tratamento de mudas). Em seguida, com maior difusão e evolução tecnológica, entrará em rotina comercial. Esta plantadora, em suas diversas versões, é capaz de realizar desde o plantio de linhas mãe de Meiosi, bem como a desdobra da mesma, até o plantio de lavouras em escala comercial”, observa Pereira.
MECANIZADO DÁ CERTO PARA MUITOS
Mesmo com a redução significativa do plantio mecanizado, muitas unidades têm obtido sucesso no uso do sistema. Além do seu custo, de acordo com consultores, ser menor em torno de 20% a 25%, se comparado ao antigo plantio manual, as tecnologias oferecidas pelo mercado vêm evoluindo, oferecendo kits de acabamento, sulcação, destorroamento, cobrimento, subsolagem, aplicação de calcário, adubos e inseticidas.
A Usina Ipiranga, a Pedra Agroindustrial, unidades da Atvos e Usina Santa Juliana da Bunge, são algumas das unidades que tem realizado o plantio mecanizado com sucesso e com gasto de mudas muito parecido com um plantio manual, de 12 t/ha a 14/t/ha. Apesar do sucesso, poucas topam dar detalhes e números sobre seus plantios mecânicos.
A Umoé Bioenergia, localizada em Sandovalina, SP, plantou na safra 2018/19 7.120 ha, tem a expectativa de plantar 6.530 ha na safra que se inicia de forma 100% mecanizada e contou para a RPAnews, quais tem sido os principais pontos de evolução da companhia e melhoria no processo. Segundo Américo Ferraz, executivo Agrícola da Companhia, foram:
• Foco no preparo de solo, com a finalidade de proporcionar melhor qualidade no plantio. Todo o processo inicia-se no planejamento de colheita, onde é definido o que colher em função da carta de solos/ambientes de produção. A partir daí define-se tempos e movimentos das demais operações. O preparo é localizado com uso ou não de enxada rotativa;
• Controle de qualidade por meio de indicadores que permitam a atuação na correção dos desvios no momento que a atividade está sendo executada;
• Monitoramento dos viveiros, avaliando sanidade e qualidade do material que será utilizado como muda;
• Planejamento de cada atividade da operação é confrontada com estes indicadores via monitoramento pelo computador de bordo. Isto permite avaliar onde há desvios e oportunidades gerando ganhos de performance.
Com o sistema de plantio duplo alternado, a unidade foca no objetivo de ter de18 a 22 gemas viáveis por metro linear e um gasto de mudas de 16 t/ha, gastando R$ 7.800/ha no plantio mecanizado.
Apesar dos avanços, Ferraz afirma que mesmo com o emborrachamento da máquina e remoção/substituição de elementos agressivos, 6% de gemas acabam sendo danificadas. Já na etapa de plantio, o ponto negativo é a questão do fluxo contínuo da máquina, característica que promove a ocorrência sistêmica de acúmulo de mudas no dosador, provocando embuchamento do sistema (mais danos às gemas), ocasionando trechos sem mudas e com mudas acumuladas de uma só vez no sulco.
“Na plantadora o sistema de distribuição precisa evoluir. O funcionamento pro fluxo continuo, além de promover consumo excessivo de gemas proporciona ainda danos às mesmas. O problema também está na colheita de mudas como exposto acima. A colhedora de mudas é uma adaptação realizada na colhedora de cana para a safra. Em minha opinião, deveríamos ir para um sistema que possibilite a distribuição de gemas ou sementes seguindo o mesmo princípio de grãos, utilizando plantadoras pneumáticas. Já há empresas investindo neste modelo de produção e acredito que este seja o futuro. Além da qualidade de plantio, este modelo poderá proporcionar maior rendimento das operações de plantio mecanizado, bem como redução de custos – claro que dependerá do custo da semente”, afirma Ferraz.
Diogo Augusto, engenheiro Agrônomo e Líder de Plantio e Colheita Mecanizados da Usina Vertente, conta que o sucesso da mecanização do plantio depende de uma equipe envolvida, do controle dos fatores de qualidade operacional e da correta sistematização da área, acertando a época do plantio de acordo com o ambiente. “Apostamos muito na regulagem dos equipamentos. No ano passado tínhamos altos gastos de mudas com as distribuidoras, pois o sistema de regulagem delas eram elétricos, com isso oscilava muito e perdíamos a precisão da regulagem. Este ano mudamos para sistemas hidráulicos, onde toda a regulagem das esteiras é controlada por fluxo de óleo.”
A empresa tem uma equipe que faz levantamentos de dados (qualidade de operações) onde são avaliados: números de gemas sadias e danificadas, largura e profundidade de sulcação, espaçamento de plantio, número de falhas e altura de cobrição. “Através desses indicadores realizamos a regulagem diminuindo ou aumentando o fluxo de óleo no caso das distribuidoras, e no caso das plantadoras, acionamos as regulagens nos comandos dentro do trator”, afirma Augusto.
Auro Pereira Pardinho, gerente de Marketing da DMB Máquinas e Implementos Agrícolas, afirma que algumas usinas, com o uso da plantadora automatizada da marca, estão tendo um consumo de apenas 10 t de mudas por ha. “Para que todo o potencial proporcionado pelo avanço tecnológico seja aproveitado da melhor maneira possível, é preciso que sejam adotadas as melhores práticas que fazem parte do processo de plantio de cana-de-açúcar. Em alta, o sistema mecanizado começa a trilhar caminhos para a obtenção de resultados expressivos, quando utiliza mudas sadias cultivadas em viveiros, o que inclui o roguing – inspeções fitossanitárias com arranquio de touceiras afetadas por doenças ou pragas”, destaca Pardinho.
Ainda de acordo com ele, a produção de mudas de qualidade deve desconsiderar o uso de cana de primeiro ou segundo corte, e sim preparar um viveiro de mudas para tal. A utilização de MPBs é também uma medida que favorece a utilização de mudas sadias e, portanto, a germinação de novas plantas. “É preciso também adotar diversos cuidados na colheita de mudas, como a utilização de faquinhas novas para que não sejam causadas trincas nos toletes. Além disso, é preciso adicionar capacitação e principalmente gestão da equipe para obter sucesso nesta operação”, finaliza Pardinho.