Edição 203
Tecnologia Agrícola – Tratores: manutenção o ano todo
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Alisson Henrique
Depois de muitos anos aprendendo a lidar com a crise que atingiu em cheio as usinas, forçando-as a reduzir custos e investimentos, o setor sucroenergético entendeu a importância de se fazer uma manutenção bem-feita a fim de estender a vida útil das máquinas. Um destes veículos são os tratores, que sempre tiveram grande participação nos processos das usinas, representando cerca de 30% a 45% do custo de CTT (Corte, Transbordo e Transporte), segundo especialistas.
Hoje os grupos sucroalcoleiros contam com um plano de manutenção elaborado pela área corporativa responsável, mas com base nas recomendações dos fabricantes de tratores e nos critérios de segurança veicular das companhias. Ainda é na entressafra que se concentram as manutenções mais pesadas. No entanto, é uma tendência cada vez maior que as grandes intervenções não ocorram mais somente durante o período de recesso. Algumas usinas estão realizando estudos para diluir essas manutenções durante o ano todo.
Isso exige um nível alto de maturidade e planejamento dos reparos e contribui positivamente no fluxo de caixa, uma vez que na entressafra não há produção e um número alto de efetivos em férias. “A cultura da manutenção de entressafra não deve persistir por muito tempo. Enquanto isso não acontece, para medir se uma manutenção é bem feita ou não, podemos utilizar dois indicadores: o primeiro mede a eficiência da manutenção pelo MTTR (Mean Time to Repair) – Tempo Médio de Reparo. Quanto menor este tempo mais ágil e assertivo é o processo da manutenção”, afirma Helio Danesi Junior, consultor e proprietário da HD, Gestão em Manutenção & Confiabilidade.
Outro indicador é a taxa de retrabalho (descontado problemas operacionais), ou seja, após receber a manutenção, quantos por cento destes equipamentos retornam para oficina com o mesmo problema após um período de tempo considerado – horas, dia, semana, mês etc. “Não gosto do MTTF (Mean Time To Failure) – Tempo Médio entre Falhas – por ser fortemente influenciado pela operação e a agressividade do meio ambiente na operação canavieira”, adiciona. Ainda de acordo com ele, o planejamento deve ser sempre preventivo, sendo que no manual do fabricante há indicações suficientes para este planejamento e programação. “O que tenho observado é que o planejamento e o cronograma para realização destas manutenções não é cumprido com rigor, trazendo consequências danosas ao equipamento e ao processo de manutenção”, explica.
A HORA DA MANUTENÇÃO
Operando máquinas há 30 anos, Adenilson Jardulli, que hoje trabalha na Ipiranga Agroindustrial, explica que o trator exige uma série de tratamentos especiais quando o assunto é manutenção. “Existem uma série de períodos para realização de reparos. Quanto as feitas de hora a hora, posso citar as que envolvem verificações de níveis de lubrificantes, de arrefecimento, eventuais vazamentos, regulagens e ajustes de implementos, que também recebem uma atenção diária. Como minha função é preparo do solo, cuidados visuais diários nos pneus e no command center da máquina são necessários. Quando a máquina está parada são feitos ajustes mecânicos, revisões e ajustes elétricos”, relata.
Para Jardulli, a manutenção preditiva é o melhor método de manutenção. “Com ela o trator não chega na manutenção corretiva. Além disso, é sempre bom respeitar as manutenções preventivas. Só assim para o veículo conseguir atingir sua eficiência plena.” Danesi Junior complementa que verificações como análise de óleo (motor e hidráulico), vibração e termografia podem ajudar a detectar falhas futuras em componentes que normalmente só apresentam problemas quando já falham.
Com 77 tratores, com potências que variam de 75 a 345 cv, a Usina Ferrari adota um sistema de gestão que gerencia todas as manutenções preventivas através de período trabalhado do trator. Além disso, a usina vem utilizando a filosofia de “Operador Mantenedor”, onde o profissional tem o senso de dono da máquina. Sendo assim, ele tem a autonomia para fazer análise de lubrificantes, avaliação dos materiais aplicados e seu desempenho. “A disponibilidade média de nossos tratores é de 90,8%. O número ideal seria o mais próximo possível de 100%, porém, existem vários fatores que influenciam na redução deste percentual”, explica Edimilson Gomes Leal, gerente de Manutenção Automotiva da empresa.
A Ferrari trabalha com o sistema de manutenção preventiva em período múltiplo de 500 horas de trabalho, sendo que nas manutenções de 3 e 6 mil horas são realizados serviços mais profundos em todos os componentes, buscando uma retomada das condições plenas do equipamento. “Para as grandes manutenções, revisões preventivas múltiplas de 3 mil horas, temos um contrato para realização na concessionária com serviços, tempo de reparo e valores pré-estabelecidos. As intervenções foram definidas a quatro mãos, onde sabemos o que fazer e o que trocar com base em dados históricos de desgaste e falha de componentes e peças”, detalha.
As ações permitem ter tratores com vida elevada e boa disponibilidade mecânica para as operações. Com esta metodologia, a empresa conta hoje com motores que já alcançaram mais de 20 mil h de trabalho e estão em plenas condições operacionais. Na média de uma safra, a unidade acaba fazendo mais manutenções corretivas devido ao grau de severidade das operações agrícolas. “Nossa frota de tratores tem idade média de 12 anos e 12 mil e 575 horas trabalhadas. Trocamos os tratores de potência até 200 hp em média com 18 mil horas, mas para isso, utilizamos um sistema informatizado chamado ‘Renove’, que nos indica o momento economicamente viável da renovação da frota. ”
A CHAVE PARA O SUCESSO
Reduzir custos e aumentar a disponibilidade dos tratores utilizados para operações em canaviais é a grande meta das empresas. Danesi explica que para isso é necessário uma operação bem treinada, terrenos bem preparados, pessoal de manutenção qualificado, ferramentas adequadas e estoques de peças de reposição bem dimensionados. “Não existe uma ação única, manutenção é uma área complexa, diversificada e com muita interface com as diversas áreas da empresa. Com o uso da tecnologia eletrônica que está sendo embarcada nos equipamentos, a necessidade de novas habilidade e conhecimento vai aumentar muito. Hoje existem empresas que apresentam disponibilidade mecânica média entre 80% e 95%, depende muito da forma como é feita a medição, se existe reserva ou não e por aí vai. ”
![]() Manutenção LinearComo funciona? Durante todo o período de safra, certo número de colhedoras de cana da usina se encontram paradas, aguardando manutenção, onde todos os reparos e procedimentos são realizados durante apenas 20 dias, e não durante a entressafra. Objetivo Distribuir ao longo do ano fiscal e não ao longo do ano-safra, todas as operações de manutenções preventivas ‘pesadas’, também chamadas de ‘revisões gerais’ ou ‘reformas’. Ganhos Evita sobrecarga nas oficinas mecânicas na entressafra, quando ocorreriam serviços nos tratores da frota e também rateia as despesas envolvidas, suprimindo os gastos financeiros concentrados naquele período. Com as manutenções lineares todos os meses, certa quantidade de máquinas recém-revisadas entra em operação, o que aumenta muito a saúde média da frota. *As eventuais manutenções primárias e/ou corretivas seguem sendo feitas, conforme necessidade. |