Edição 192
Tecnologia Industrial – Desemprego Tecnologico
No final da década de 60 e início de 70 foram proclamados por diversos meios, desde acadêmicos até nos cinemas, cenários em que após o ano 2000 (muito distante na época) viveríamos entre robôs. Estas previsões estariam corretas se não fosse a forma. Não temos robôs físicos (salvo modelos industriais) convivendo conosco como vemos nos filmes. O que temos hoje é a chamada Inteligência Artificial, que está presente em todos os sistemas, desde redes sociais, sistemas de compra online, receita federal, previsão de tempo, bolsa de valores, gestão bancária até nos veículos autônomos. Já vivemos e utilizamos robôs lógicos.
A adoção destas ferramentas tem, ao longo dos últimos anos, reduzido os custos destas tecnologias e tornando o seu uso mais popular. Exemplo disto são os robôs industriais, que até 2007 custavam cerca de US$ 550 mil e em 2014 passaram a custar US$ 20 mil. E os celulares, que custavam US$ 499 e hoje são vendidos por US$10. Esse fator permitiu a massificação tecnológica, mudando o formato nas relações da sociedade e abrindo fronteira para uma nova revolução tecnológica, a 4ª que estamos vivendo.
A tecnologia também impulsiona o PIB (Produto Interno Bruto). De acordo com estudo da Accenture, empresa de consultoria de Gestão, Tecnologia da Informação e Outsourcing, países que adotam tecnologias de ponta poderão incrementar 0,9% em seu PIB até o ano de 2035, gerando uma nova onda de empregos e uma nova ordem econômica. A despeito de que a automação desemprega, o mundo pós-industrial nunca contratou tanto, todavia, o perfil do empregado é que muda ao longo do tempo.
Com a internet hoje conectada a indústria, com processos colaborativos fazendo toda a cadeia produtiva se comunicar dentro de um ecossistema cibernético, temos a pavimentação da 4ª revolução industrial, onde o maior impacto social será a alteração das estruturas de tempo e erro como conhecemos hoje. Tudo será em tempo real, o que vai proporcionar maior controle nos pontos onde há ocorrências, inclusive por prognósticos inteligentes, mudando assim, o que entendemos por erros, uma vez que a tendência é que não haja mais a correção e sim sistemas que atuem de forma interconectada, organizada e ininterrupta. Isso nada mais é do que a chamada Indústria 4.0.
Internet das coisas, big data, computação nas nuvens, drones, aprendizado de máquina, inteligência artificial, gêmeos digitais, virtualização, realidade aumentada e tantas outras ferramentas já permeiam a Indústria 4.0, que ainda está em transição, mas cujo o movimento é sem volta, impactando nas economias globais, alterando sobremaneira a forma de produzir e consumir bens e serviços.
Quando pensamos em impactos práticos na indústria, as funções de gestão sofrerão uma grande mudança que será o fim dos meios, isto é, o declínio da gestão intermediária para tomada de decisões, uma vez que a máquina consolidará e tomará as decisões e entregará ao dirigente todos os cenários já pré-formatados.
No campo das operações, a figura do operador não será mais o responsável por realizar as ações no processo. Ele supervisionará, na melhor das hipóteses, eliminando erros, antecipando tempos e eliminando etapas de verificação da qualidade, com perfil produtivo de customização e personalização nunca antes vistos. Já na manutenção, temos o prognóstico como maior ferramenta e impacto nas ações frente aos ativos, uma vez que os equipamentos são cada vez mais inteligentes. A inteligência artificial permitirá que haja interferência apenas e, somente, quando a máquina solicitar.
Como estes cenários tecnológicos, descortinando uma Sociedade 4.0, o que então é o desemprego tecnológico?
Podemos conceituar abaixo uma breve definição:
• substituição de mão de obra por máquinas ou sistemas;
• substituição de operação intelectual conhecida por máquinas ou sistemas;
• dispensa de trabalhado por novos modelos e padrões que evoluíram ou não existiam.
As máquinas estão aprendendo e isso já está acontecendo desde a adoção em massa da internet. Na indústria isso tem tido e ainda terá um impacto gigantesco. Tarefas com formatos conhecidos ou repetitivos poderão ser executadas por máquinas. Por exemplo, motoristas, operadores de caixa, contadores, operadores industriais, médicos de atendimento, professores de conteúdo e atendimento comercial intermediário são apontados como profissões que poderão desaparecer no futuro, de acordo com dados apresentados por especialistas no último Fórum Econômico Mundial, realizado em Davos, na Suíça.
Profissões que requeiram criação, abstração, desenvolvimento e que tenham que lidar com situações novas e serviços para pessoas, tendem a ser as mais crescentes e podem mudar o perfil do trabalhador do século XXI, tais como engenharias, ciência de dados, computação, matemática, gestão estratégica e vendas. Espera-se que estas profissões se correlacionem como nunca antes visto. Segundo tais especialistas, sobreviverão os profissionais com formações específicas, mas que tenham habilidades em lidar com ciência de dados e alto grau de abstração numérica, ademais, o ser humano, como prestador de serviços, ganhará espaço em um mercado crescente e isso formará uma nova base de trabalhadores.
A solução para o desemprego tecnológico, amplamente discutido no Fórum Econômico Mundial 2017, é o mesmo para qualquer economia: a educação. A solução está nas pessoas, afinal, se a tecnologia foi criada por elas e para elas, tem que estar a serviço delas. Para isto, deve haver preparo tecnológico na base educacional e a compreensão de que a tecnologia está para servir as pessoas. A verdade é que para entender como será viver em um mundo pós 4ª revolução industrial tem sido tão conflitante e tenso quanto foi no período da primeira revolução industrial.
O que sabemos até agora é: a indústria será muito diferente. Ela empregará cada vez menos ao compasso da evolução tecnológica e é muito provável que o futuro do emprego não esteja mais nas indústrias. Talvez não sejamos mais uma sociedade industrial, mas sim, uma sociedade de serviços. Neste cenário, governos e lideranças terão que repensar de forma ativa e não mais reativa a tantas mudanças. Haveremos de ter um novo formato de consumo, não mais de aquisição, mas de uso, e isso deve mudar toda a cadeia econômica.
O modelo atual já dá sinais de fadiga. Governos e líderes de primeiro mundo já estão repensando em uma nova ordem ou pelo menos estão buscando exercitar estes novos modelos. O poder econômico precisará observar atentamente a base da pirâmide para que a população possa consumir estes novos serviços e que a tecnologia possa ser promovida em massa, distribuindo mais qualidade de vida e com foco na redução das diferenças sociais.
Neste futuro que se descortina, o poder das nações estará na inteligência e não mais no conhecimento. Com isso, precisaremos buscar uma nova forma de lidar com esta nova realidade, que já está aí, e gerar valor para competir num mundo com ciclos de economia cada vez menores frente a volatilidade que a própria tecnologia provoca.
O que se espera é que a tecnologia trabalhe para o homem, para que ele possa sirvir na sociedade ao seu semelhante de forma mais equitativa e que a riqueza gerada sirva ele seus interesses reais de uma vida mais feliz.
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