Agrícola
Bagaço da cana-de-açúcar é reaproveitado pela indústria no Paraná e vira energia, ração e plástico
No Paraná, 147 municípios localizados nas regiões norte e noroeste do estado, plantam e colhem cana de açúcar com regularidade, de acordo com dados da Associação dos Produtores de Álcool e Açúcar do Estado do Paraná (Alcopar).
Com a colheita da safra de 2021 terminando, a associação informa que a produção deste ano foi de 1,2% menor do que a do ano passado. A que será colhida em 2022 também deve encolher mais 2%. Para os produtores de cana no Paraná, essa queda se explica por uma crise que já dura cinco anos no estado.
“A crise foi muito acentuada nos últimos anos, principalmente, pelas estiagens consecutivas que tivemos, em especial, essa que ainda estamos vivendo. A seca está muito grande e para culminar com isso tivemos duas geadas muito fortes, no último inverno, que acabaram prejudicando ainda mais a lavoura. Com uma perda de dez a onze milhões de toneladas, para fazer a recuperação dos canaviais, a necessidade de investimento seria de R$ 2,5 a R$ 3 bilhões. Só que, em contrapartida, daria um incremento de empregos novos na ordem de 12 mil vagas, fora os 42 mil empregos diretos que nós já temos”, explica o presidente da Alcopar, Miguel Tranin.
A cana colhida no Paraná é distribuída para as 19 usinas localizadas no estado. Depois de descarregada, ela é triturada para a produção de etanol e de açúcar, que é quase todo vendido para outros países.
Nesta safra, acompanhando a valorização do dólar, o preço do açúcar fechou em alta de 31%, de acordo com a Alcopar. Já o etanol, deve ter uma ligeira queda de 4,2%.
Segundo a Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab), o estado é o quinto maior produtor de cana do país e o terceiro que mais produz açúcar. Além disso, ocupa a quarta posição na produção de biodiesel no ranking brasileiro.
Além de muita riqueza, a fabricação de açúcar e álcool também produz muitos resíduos. São toneladas de bagaço de cana que sobram depois da moagem.
Pelo menos 25% do material que chega das lavouras vira resíduo, mas pode ser totalmente reaproveitado. Boa parte é usada pelas próprias usinas, na queima para a produção de energia.
Só com a queima deste material, o Paraná deve gerar cerca de 800 megawatts em 2021. É energia suficiente para atender uma cidade com aproximadamente 400 mil habitantes.
Outro uso bastante comum é na produção de ração para o gado. “Para o bovino de corte, o bagaço serve para a vaca, para o garrote, para o boi confinado. Ele ajuda no aspecto do volumoso. Já no gado de leite, se for um gado de alta produção, fica difícil o fornecimento dele porque é um volumoso de baixa qualidade. Então, ele não vai oferecer resultados para a produção de leite. Agora para um animal, um gado de leite de baixa produção ou vacas que estejam sem lactação, pode ser usada essa opção do bagaço de cana, na suplementação”, conta o veterinário Marcelo Gonçalves Boskovitz.
Uma empresa, que tem matriz nos Estados Unidos da América (EUA), foi inaugurada recentemente em Curitiba e produz plástico a partir do açúcar que ainda sobra no bagaço.
“Como uma empresa americana, a gente olhou o Brasil como uma das grandes potências de bioplástico. A gente tem uma abundância de matéria-prima. O bagaço ainda tem uma dificuldade, ele ainda tem açúcares de mais difícil acesso, mas com o tempo a gente está chegando em valores que comprovam que, de fato, a gente consegue transformar o bagaço em bioplástico”, diz o presidente da empresa, Kim Gurtensten Fabri.
Os estudos que indicaram a viabilidade do negócio saíram de um laboratório da Universidade Federal do Paraná (UFPR). O bagaço passa por várias etapas até ser transformado no componente que dá origem ao plástico.
O professor responsável pelos estudos, Luiz Ramos, explica que, além do reaproveitamento de um resíduo dispensado pela indústria, o processo resulta em um produto que polui menos que o plástico fabricado a partir de outras fontes, como o petróleo.
“O desafio está em tornar viável um processo que, conceitualmente, faz todo o sentido. Então, você pode imaginar, por exemplo, uma sacola plástica que tem resistência mecânica, ou seja, não vai arrebentar no caminho, e, ainda assim, uma vez colocada em um ambiente de degradação, ela se desfaria completamente. É um produto que não tem nenhum poder de acumulação no ambiente”.
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