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Bons ventos voltam a soprar para o setor em 2020
A safra 2019/20, que está chegando ao fim, deu start a uma fase um pouco mais positiva para o setor sucroenergético brasileiro, que inicia o novo ciclo com bons ventos soprando a seu favor. Segundo análise realizada pelo Pecege (Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas), a melhora a partir da safra 2019/20 é consequência de um custo caixa da matéria-prima, mensurado em reais (BRL), muito semelhante ao da safra 2018/19, além da recuperação dos preços dos produtos açúcar e etanol, e da produtividade agrícola.
“No entanto, é importante destacar que não se tratou de uma recuperação drástica e capaz de romper o patamar histórico da qual ela se encontra”, afirma os pesquisadores do Pecege Haroldo José Torres da Silva e Peterson Felipe Arias Santos, em relatório.
O prognóstico agrícola para a safra 2020/21, dependerá essencialmente de duas varáveis, o clima e o manejo. De acordo com o Pecege, com a recuperação dos preços dos produtos – tanto do açúcar quanto do etanol –, será necessária a retomada dos investimentos em novas tecnologias no campo, emprego de novos materiais e variedades modernas.
“Como a área de cana-de-açúcar tem se mantido estável nos últimos cinco anos, a oferta de matéria-prima dependerá essencialmente das condições climáticas e da recuperação dos investimentos no campo, os quais serão determinantes para a produtividade da lavoura de cana na próxima safra. O recente movimento de grandes grupos brasileiros, buscando a emissão de debêntures para investimentos que alcançam inclusive a renovação dos canaviais, fornece sinais positivos quanto à evolução da produtividade na cultura de cana-de-açúcar brasileira”, afirmam os pesquisadores do Pecege.
Safra mais favorável e preços
Seguindo a tendência da safra 2019/20, o cenário para 2020/21 se mostra bastante favorável para o setor sucroenergético brasileiro, reforçando que o pior já ficou para trás, segundo o Pecege.
As perspectivas são otimistas principalmente diante do início do programa RenovaBio, uma demanda aquecida pelo etanol no mercado doméstico, além de uma potencial recuperação dos preços do açúcar. Se essas perspectivas se concretizarem, o setor terá a oportunidade de pavimentar o caminho para o regresso do crescimento.
O início da recuperação do preço internacional do açúcar já na safra 2019/2020 antecipou as expectativas quanto a uma maior relevância do adoçante na receita total do setor.
“Para a safra 2020/2021, cria-se, então, a perspectiva de maior importância do açúcar no mix de produção brasileiro, refletindo a recuperação dos preços internacionais desta commodity”, adiciona Torres.
Açúcar
O cenário deverá ser mais construtivo para os preços do açúcar na safra 2020/21 considerando duas premissas, dentre elas, o Pecege destaca que o Brasil manterá um mix de produção mais alcooleiro, dado os novos investimentos autorizados para a ampliação da capacidade de produção de etanol de algumas usinas, o que reduz a pressão sobre os preços internacionais do açúcar, e que a Índia reduzirá a produção de açúcar em até 5 milhões de t, em função das adversidades climáticas em sua safra.
“O preço do açúcar no mercado doméstico tende a mimetizar a tendência do preço internacional do produto, mas combinando efeitos do desempenho da própria economia nacional. Dessa forma, com a recuperação esperada dos preços no exterior, além da melhora no nível de renda dos consumidores decorrente da recuperação econômica do país, espera-se para o ciclo 2020/2021 valores próximos a R$ 80 por saca de 50 kg de açúcar branco no mercado brasileiro”, afirmam os pesquisadores.
Etanol
No caso do etanol ainda há incertezas oriundas do mercado de petróleo, que desde 2017 tem determinado as variações no preço da gasolina no mercado doméstico e condicionado o preço do etanol.
Eventos de natureza geopolítica, especialmente no Oriente Médio, como o ataque a refinarias na Arábia Saudita e o acirramento das tensões entre os governos dos EUA e do Irã, constituem fatores imprevisíveis com impactos imediatos, mas cujas durações são, inicialmente, de difícil determinação. “Adicionalmente, um maior crescimento da economia global, provocando aumentos nos preços do petróleo no mercado internacional, daria fôlego ainda maior para os preços do etanol no mercado brasileiro”, afirmam.
Condicionado a uma expectativa de manutenção de cortes de produção de petróleo por parte da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), de modo que o preço do Brent supere US$ 75/barril, espera-se novo encarecimento do preço da gasolina no mercado brasileiro no segundo semestre de 2020.
No entanto, o Pecege destaca três vetores de risco:
- Existem estudos por parte do governo brasileiro de mecanismos tributários que amenizem variações no preço final dos combustíveis fósseis, o que, eventualmente, pode reduzir a competitividade do etanol no mercado nacional;
- Eventual alívio no ambiente geopolítico pode reduzir a pressão sobre o preço dos combustíveis fósseis no país, fazendo com que parte dos consumidores retornem ao consumo de gasolina; e
- Se observada uma estabilidade nas cotações do petróleo somada com uma tendência de valorização do real ante ao dólar, pode-se criar um cenário para cotações mais baixas da gasolina no mercado doméstico, o que limitaria a atratividade do etanol ao consumidor final.
Torres afirma que, apesar destes vetores, o cenário base delimitado para a safra 2020/21 apresenta melhores condições de mercado tanto para o açúcar quanto para o etanol, o que tende a manter a atratividade relativa de ambos os produtos, sinalizando ventos favoráveis ao setor, após um período de safras revoltas.
“Com a recuperação do açúcar, o mix na safra 2020/2021 deve ser marginalmente menos alcooleiro do que a anterior, com 64,50% da matéria-prima destinada ao biocombustível, contra 65,71% previsto para a conclusão da safra 2019/2020. Imagina-se, assim, um ligeiro incremento da participação do açúcar na produção do setor, embora ainda seja um composição distante daquela da safra 2017/18, ocasião em que 53,5% da matéria-prima foi destinado à produção de etanol”, afirma.
Insumos agrícolas
Quanto aos insumos agrícolas, para o ciclo 2020/21, espera-se uma normalização do calendário de safras da América do Norte, elevando a demanda global e reduzindo o nível dos estoques, o que tende a pressionar os preços para cima. Para os produtores locais, estes aumentos podem ser parciais ou totalmente compensados por uma valorização cambial, resultante de um cenário de reformas macroeconômicas e melhoras no rating da dívida soberana brasileira.
“Além deste contexto, espera-se que o comportamento dos preços, principalmente dos defensivos agrícolas, seja menos favorável do que aquele observado na safra 2019/20, vindo a pressionar o custo de produção da matéria-prima”, complementa Haroldo Torres, economista e pesquisador do Pecege.
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